China e Brasil: quem se adaptará a quem?
15/02/12 16:17Fabiano Maisonnave, de Pequim
A recente passagem do vice-premiê Wang Qishan pelo Brasil voltou a demonstrar o que o próprio ex-chanceler Celso Amorim admitira ao final de seus oito anos à frente do Itamaraty: ainda falta uma política para lidar com a China.
O problema começa no próprio formato da visita, cujo ponto alto foi a reunião da Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação), teoricamente o mecanismo mais importante de diálogo entre os dois países.
Criada em 2004 pelo então presidente Lula e o seu colega, Hu Jintao, a Cosban pecou pela preocupação excessiva com formalidades. A Vice-Presidência, com peso mínimo em comércio e política externa, ficou com o papel de interlocutor por supostamente ser o cargo brasileiro mais equivalente ao de vice-premiê chinês.
Foi uma escolha estranha. Wang Qishan, um dos quatro vice-premiês e nome em ascensão no Partido Comunista, está encarregado de assuntos comerciais e de diplomacia externa. Ou seja, o que para Temer é um tema esporádico em meio a negociações para cargos no governo ao PMDB, no caso do seu interlocutor chinês é o pão de cada dia.
Essa dissintonia é um dos motivos pelo qual que, ao longo de oito anos, houve apenas duas reuniões da Cosban. Metade da previsão inicial de um encontro a cada dois anos. Muito pouco para a crescente complexidade das relações bilaterais.
Compare-se com o mecanismo semelhante entre China e Estados Unidos. No Diálogo Estratégico e Econômico EUA-China _ que ocorre anualmente_ Wang é o representante chinês na área econômica e tem como interlocutor o secretário do Tesouro, atualmente Timothy Geithner.
O formato da Cosban parece influir no conteúdo. Temer protagonizou um momento naïf ao pedir que os chineses restrinjam “voluntariamente” suas exportações ao Brasil. Uma análise impecável da inviabilidade da proposta está na coluna de hoje de Vinicius Torres Freire (aqui, para assinantes). Acrescento apenas uma pergunta: como sustentar um pedido assim ao país com quem o Brasil teve no ano passado um superávit de US$ 11,5 bilhões (38% do superávit global do país)?
Outro ponto pouco exequível foi o pedido para que a China compre mais produtos manufaturados do Brasil. Mas quais? A preços competitivos?
Se Wang não deu uma resposta direta em Brasília a todos esses pedidos, vale a pena ler sua conversa de 2009 com o Comissário de Comércio da União Europeia relatada no livro “The Party” (o partido), do jornalista do “Financial Times” Richard McGregor.
Após admitir que havia “irregularidades” na prática comercial chinesa, Wang concluiu: “Eu sei que vocês têm reclamações. Mas o charme do mercado chinês é irresistível”.
No cenário atual, a China, principal motor econômico mundial, espera que o mundo se adapte a ela, e não o contrário. O Brasil não será exceção.
Em nosso País,País sim !,pois ainda não nos comportamos como nação,onde, se analizando friamente, a classe politica se apresenta como canalhas politicos ou politicos canalhas,quando não, quadrilheiros que roubam até o sonho do pobre,praticam escancaradamente a politicagem da mesmice:sem “adubo” cefálico,olham apena para o próprio umbigo,mirando o bolço e blindando suas traquinagems.Em suma: a classe dirigente ainda respira o complexo de subserviência.
Olhando com carinho o discurso do Temer e a reação do chinês, vai surtir o mesmo efeito quando a Dilma foi pedir apoio para a China referente ao Conselho de Segurança da Onu.
A China só joga o seu jogo o que for interessante ela tenta buscar com a maior avidez possível, caso contrário sempre fazem ouvidos de mercador.
Um belo exemplo é a situação do Irã que é o seu maior exportador de petróleo.
Para barganhar preços melhores com o irã as refinarias chinesas aumentaram as compras da Árabia Saudita que vende tudo por cartel (OPEP), mas era a Europa e Japão que necessita comprar mais petróleo da Árabia só que a China ocupou esse espaço e a Europa não pode ter disponibilidade desse vendedor.
Assim o Irã tem de vender o petróleo mais barato e a Europa não pode comprar do irã.
Moral da História a China não é confiavel, os melhores parceiros dos Brics futuramente para o Brasil são India e Africa do Sul.
Impossivel Brasil ou qualquer outro pais ,que nao tenha as mesmas condiçoes chinesas de produçao tentarem se equivaler!
Como produzir em condiçoes de disputa a nivel mundial com as nossas legislaçoes trabalhistas e tributarias?
Estou errado?ninguem ve isso?impossivel!
Boa pergunta! Como vamos exigir cortes nas importações de produtos chineses, se o Brasil é superavitário, ou seja, exportamos mais do que importamos da china?
Lembrei disso também quando vi o Temer no noticiário falando de alguma coisa que não fosse disputa por espaço para o PMDB.
Interessante saber que os políticos chineses têm senso de humor tb. Eu, por exemplo, tenho uma grande curiosidade em saber como são uns tipos assim no dia a dia. Eles parecem tão “duros”! Abraço
Namorei uma chinesa cuja família mora há 15 anos no Brasil. Pelo meu convívio nesse mundo, posso te dizer que no nível doméstico são até descontraídos, falam alto, riem muito, têm senso de humor sim, se soltam diante da boa mesa e se quedam por uma decoração colorida e rebuscada que, por vezes, consideramos brega. Por outro lado, quando se trata de qualquer assunto que diga respeito aos seus interesses e seus negócios, nada de pessoalidades, tapinhas nas costas ou qualquer outro tipo de camaradagem tão ao gosto dos brasileiros (que aliás eles estereotipam como indolentes e festeiros), nessa etapa o jogo é duríssimo, o olhar é firme, a fala é direta e sem maneirismos.
haha Interessante… Brega, os brasileiros hoje em dia também são, e muito! Brincadeira, entendi o que disseste. Obrigado pelo esclarecimento. Abraço
estereotipam ? k k k k k k k
Acho que o que falta ao Brasil são pessoas preparadas e dispostas à dificil arte das negociações diplomáticas. Temos que formar pessoas com este perfil e dar a elas condições de trabalho o que não se pode fazer a curto prazo. Então é preciso uma política industrial voltada para o mercado externo.
É estranho mesmo pedir que a China bloqueie exportações ao Brasil sendo que, nós somos um dos maiores consumidores de produtos chineses.
O fato deles praticarem preços incompatíveis com o mercado mundial, não os implica em nada. Como foi dito no texto, eles querem que o mundo se sujeitem à prática de mercado deles.
Devemos estreitar ainda mais as relações e que seja de forma bilateral porque os chineses são a bola da vez!