Banco Mundial, China e democracia
28/02/12 19:10Fabiano Maisonnave, de Pequim
O presidente do Banco Mundial, o norte-americano Bob Zoellick, está na China para divulgar um caudaloso relatório sobre os desafios econômicos de médio prazo do gigante asiático. Em linhas gerais, o estudo afirma que uma desaceleração do crescimento é inevitável e que o país terá de implantar uma economia de mercado de fato para não estagnar na “armadilha da renda média” e até mesmo evitar instabilidade social. Um resumo está na Folha de hoje (aqui, para assinantes).
Conclusões à parte, é interessante ver a cuidadosa escolha das palavras. O estudo, feito em conjunto com Centro de Pesquisa do Desenvolvimento do Conselho de Estado chinês, leva no título o termo favorito do governo Hu Jintao, “harmonia”: “China 2030: Construindo uma sociedade de alta renda moderna, harmoniosa e criativa”. E não só ali: foram ao todo 47 vezes no relatório de 448 páginas.
Por outro lado, “democracia” não aparece em nenhum momento, e “Estado de direito”, apenas cinco vezes.
Não que o estudo não defenda práticas mais democráticas, mas o faz de forma tergiversada. Um dos termos alternativos foi mais “participação cidadã”. Há ainda malabarismos como a defesa de melhores “bens e serviços públicos intangíveis”.
Ausente do relatório do Bird, a defesa da democracia coube… à Xinhua.
Na véspera da chegada de Zoellick, que deixa o cargo no meio do ano, a agência estatal defendeu que, “se o novo presidente do Banco Mundial for realmente escolhido por meio de uma eleição limpa e democrática, libertará a agência de uma tradição de sete décadas que vê o presidente do Banco Mundial como um cidadão americano”.
Apesar da pressão da China (e do Brasil) para mais participação “emergente”, tudo indica que o substituto de Zoellick também será americano _falta apenas escolher o nome. Desfecho quase tão previsível quanto a sucessão na China do partido único.
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A íntegra do relatório do Banco Mundial está disponível na internet, em inglês.