Ai Weiwei fala à Folha
18/03/12 16:34Fabiano Maisonnave, de Pequim
Na última segunda-feira, o artista chinês nos recebeu em sua casa-estúdio, no distrito de Caochangdi, transformado em reduto artístico depois que ele se mudou para lá, em 2000. A entrevista foi publica na edição deste domingo da Folha (aqui, para assinantes).
O enorme muro da entrada traz apenas o nome da sua empresa, “Fake” (falso), e esconde um agradável complexo projetado pelo próprio artista, também um arquiteto diletante. Os tijolos e pedras aparentes, o piso de cimento, os móveis esparsos de madeira e o pé-direito alto transmitem sobriedade e aumentam a sensação de frio no inverno pequinês. Talvez por causa da sua condição, o local ecoa uma cárcere.
Ai Weiwei vive ali com 20 gatos recolhidos na rua, um pequeno cachorro gordo e de roupa, a mulher e um filho pequeno. Do lado oposto ao estúdio onde a entrevista foi gravada, um grupo de pelo menos cinco jovens ocupavam computadores, carregavam caixas e manipulavam correspondência.
Ali, na parede do escritório, um enorme painel com o nome de 5.045 crianças mortas no terremoto de Sichuan de maio de 2008, a maioria porque estava em escolas malconstruídas. A investigação de Ai Weiwei para encontrar o nome dessas crianças marcou o estremecimento de vez das relações do artista com o governo.
Todas as perguntas foram respondidas com calma e pausadamente. Depois, nos levou ao seu ateliê quase vazio e nos presenteou com falsas gementes de girassol pintadas em pedra. Nem ali falou muito de arte. A sua atenção, parece, está voltada a temas políticos e a sua precária situação de estar preso em domicílio.
Na saída, fica a pergunta: como é possível que o governo da segunda economia mundial puna seu maior artista dessa forma?
Parabéns, Fabiano! Grande entrevista, esclarecedora sobre a quantas anda a situação dos Direitos Humanos na China.