O fugitivo mais famoso da China
24/03/12 11:11
Por Eric Vanden Bussche, de Pequim
Pergunte a qualquer chinês qual o criminoso mais famoso do país e ele provavelmente responderá que se trata de Lai Changxing. Durante a década de 1990, ele orquestrou o maior de esquema de contrabando na história do país, se tornando um dos homens mais ricos da China. Seu luxuoso palácio de sete andares, conhecido como a “Mansão Vermelha,” servia como ponto de referência na cidade de Xiamen, na Província de Fujian, sul da China.
Ele era um perfeito anfitrião, convidando autoridades do governo para jantares onde se degustavam barbatanas de tubarão, um dos pratos mais caros e apreciados pela elite chinesa. Mas, quando a campanha anticorrupção do então primeiro-ministro Zhu Rongji começou a apertar o cerco contra Lai, em 1999, ele fugiu com a família para o Canadá.
Durante os 11 anos seguintes, o governo chinês se empenhou em extraditá-lo para que fosse julgado por seus crimes. O então primeiro-ministro Zhu Rongji chegou a dizer em 2000 que, mesmo se Lai Changxing fosse executado com um tiro na nuca três vezes, isso não seria o suficiente para que ele pagasse por todos os seus crimes. Mais de 300 pessoas que colaboraram com Lai foram presas e 14 delas condenadas à morte, entre elas o ex-vice-prefeito da cidade de Xiamen, Lan Pu.
Para o governo chinês, prender Lai se tornara uma questão de honra nacional. Mas o governo canadense hesitava em extraditá-lo, pois sabia que Lai seria provavelmente condenado à morte. O assunto se tornou tão delicado que chegou até a azedar as relações entre ambos os países durante a década passada. Finalmente, em meados do ano passado, o governo canadense cedeu, em parte graças à promessa de Pequim de que não aplicaria a pena de morte no caso de Lai e garantiria os seus direitos constitucionais.
Lai Changxing foi expulso do Canadá e forçado a regressar à China em julho do ano passado, quando foi preso ao desembarcar em Pequim. Embora a prisão do fugitivo mais procurado da China tivesse sido noticiada pelos jornais e fotos de Lai algemado circulado na internet, o fato, a meu ver, não atraiu a atenção que merecia. Após ter acompanhado o desenrolar do caso tanto na China quanto no Canadá, eu esperava que a captura do fugitivo número um do país tivesse uma enorme repercussão na mídia chinesa e fosse comemorada pelo governo com fogos de artifício. Mas isso não ocorreu. E duvido que o seu julgamento _que ocorrerá em breve_ seja aberto ao público como desejam muitos chineses.
Se Pequim se empenhou em julgar Lai Changxing com o mesmo afinco que Washington em capturar Osama bin Laden, por que o governo chinês não utilizou o fato para colher dividendos políticos? Primeiro, houve o problema do momento da extradição, que coincidiu com a colisão de dois trens de alta velocidade na Província de Zhejiang, no leste da China, forçando o governo chinês a focar as suas atenções na tragédia. Segundo, havia um certo temor que o caso respingasse em altas autoridades do governo chinês que na época ocupavam cargos em Fujian.
É difícil de acreditar que as autoridades não soubessem do vasto esquema de contrabando montado por Lai. Aliás, o império de negócios de Lai era tão poderoso e influente que os habitantes locais chegavam a brincar que a cidade de Xiamen deveria mudar de nome para Yuanhua, nome de sua empresa. Afinal, nos final dos anos 90 Lai financiou a reforma do aeroporto de Xiamen, entregou motocicletas e viaturas à polícia local e ergueu o edifício mais alto da cidade, uma torre de escritórios de 88 andares.
A história de sucesso e queda de Lai Changxing se assemelha a muitos chineses que fizeram fortuna com a abertura econômica da China no final dos anos 1970. Nascido em 1958 na Província de Fujian, Lai passou a infância na pobreza no vilarejo de Shaocuo. Não chegou a passar muito tempo na escola, pois sua infância e adolescência coincidiram com a Revolução Cultural (1966-1976). Tornou-se um operário, mas, aos 20 anos, a sua vida começou a mudar graças às reformas econômicas promovidas por Deng Xiaoping. Ele abriu um negócio de vendas de peças de carros, marcando o início da construção de um vasto império de negócios, que, nos anos 80 e 90, incluiria de televisores e carros importados a especulação imobiliária.
Como muitos chineses que fizeram fortuna naqueles anos e depois caíram em desgraça, o pecado mortal de Lai Changxing não foi o esquema de contrabando que ele orquestrou nem a extensa rede de autoridades que subornou para expandir os seus negócios, mas a exagerada ostentação de sua riqueza. Ele andava pelas ruas de Xiamen _centro de seu império_ em carros blindados e promovia festas regadas a vinhos importados.
Sua “Mansão Vermelha” dispunha de saunas e empregava lindas mulheres, que recebiam US$ 1 mil por mês (um alto salário na época) para serem oferecidas aos seus hóspedes, a maioria autoridades do governo. Lai chegou até a construir uma réplica da Cidade Proibida para produções cinematográficas. Sua estreita ligação com membros locais do partido também era evidente. Em 1997, ele recebeu o título de cidadão honorário de Xiamen.
Entretanto o estilo de vida de Lai atraiu a atenção de Pequim. Desmantelar a sua rede de corrupção e contrabando se tornou uma prioridade para o então primeiro-ministro Zhu Rongji. Foi a partir deste momento em 1999 que o seu império começou a ruir, culminando com a sua extradição à China em julho do ano passado.
O desenrolar do caso de Lai Changxing deve ser observado atentamente, pois pode estabelecer um importante precedente. Durante anos, o governo canadense hesitou em entregá-lo às autoridades chineses por temer que tivesse seus direitos violados ou fosse condenado à morte. Se a corte chinesa poupá-lo da pena de morte, a China poderá utilizar esse caso para mostrar à comunidade internacional de que honra a sua palavra. Nesse sentido, o caso Lai talvez sirva para facilitar futuros pedidos do governo chinês pela extradição de outros cidadãos chineses acusados de crimes econômicos que se refugiaram no exterior. Evidentemente, isso dependerá do seu desfecho.
Primeiramente sera condenado a prisao perpetua. Depois de arrancarem mais alguns segredos dele, morrera de pneumonia….
que comentario preconceituoso e racista !