Detestar Jobim!
26/03/12 09:17Por Marcos Caramuru de Paiva, de Xangai
Meu jovem filho Lucas, que enveredou pelo caminho da música eletrônica, costuma dizer que gostaria de confeccionar uma camiseta com os dizeres: “Detesto Tom Jobim”. Não que ele deteste o Maestro. Nem de longe. Lucas é um sujeito de bom gosto. Seu ponto é que, para inovar, na música e em tudo o mais, é preciso romper com o passado. Mesmo com o que é bom. E os rompimentos são sempre traumáticos. Tão traumáticos quanto ler ou ouvir dizer que alguém pode detestar Jobim.
Para entender verdadeiramente a Ásia e a China, em particular, é preciso romper conceitos; confiar que é possível inovar no desenho da ordem econômico-política. Não uma cega profissão de fé no sucesso da região _mesmo a China ainda tem muito a demonstrar_, mas a aceitação de que é possível produzir um modelo novo que funcione bem. Como o regime comunista que vigorou durante quase todo o século 20 fracassou, o Ocidente tende a acreditar que os países que vierem a desenhar uma trajetória de sucesso se aproximarão naturalmente de seus valores e ideais.
A crise financeira recente talvez tenha reduzido temporariamente a força dessa convicção, mas, ainda assim, o pensamento mais comum é de que será inevitável para a China aprofundar a abertura da economia e, em paralelo a isso, implementar reformas democratizantes. Se não o fizer, correrá o risco de, em algum momento, deixar de avançar. Possivelmente _assim defendem muitos_ cairá na armadilha em que se encontram vários países de renda média, que deram bons saltos, mas estacionaram na jornada em direção ao desenvolvimento.
Os orientais incomodam-se com essa linha de raciocínio. Sentem que chegou a sua vez de propor uma nova ordem. A discussão acadêmica é mais viva do que se imagina. O tema das “imposições ocidentais” tem também um veio político. Num discurso recente, o próprio presidente Hu Jintao mencionou que forças internacionais estão tentando ocidentalizar e dividir a China pelo uso da ideologia e da cultura. “Temos de estar alertas para esse perigo”.
O problema de avaliar as realidades apenas a partir da cabeça feita é o mesmo nos grandes e nos pequenos cenários: obscurecer as nuances e, com isso, limitar o foco das conclusões. Aqui vai um exemplo recente: a constatação de que a economia chinesa está desaquecendo, aliada ao fato de que o resultado comercial de fevereiro foi o pior dos últimos dez anos, levou um grande número de analistas a vaticinar que o yuan deixará de apreciar.
O vaticínio é plausível, mas a sua realização não é automática. Autoridades chinesas reagiram: é possível que o resultado mais fraco das exportações revele que o câmbio esteja no nível correto. O fato é que há reformas pela frente. Se elas forem implementadas tal como anunciadas _e na velocidade anunciada_, a trajetória da moeda será a apreciação. Em outras palavras, o que importa é saber em que medida as tensões de curto prazo alterarão a trajetória de longo prazo.
Algo semelhante se passa no processo de internacionalização do yuan. Muitos acreditam que, para se tornar uma moeda de referência e uso internacional, o yuan precisa ter uma sustentação político-institucional. Deve estar ancorado em uma realidade com alto grau de transparência e credibilidade. Afinal, uma moeda forte não é só reflexo do tamanho da economia em que circula mas também da capacidade dessa economia de mostrar previsibilidade, gerar confiança e interagir bem com os mercados.
O argumento é intelectualmente sólido e objetivamente crível. Falta muito para que possamos, por exemplo, ver transações entre o Brasil e um país europeu cotadas e integralizadas em yuan. Mas a realidade está avançando depressa. A China continua a tomar medidas na direção da abertura da conta de capital, enquanto as moedas de livre circulação hoje despertam baixa credibilidade. O yuan surge como uma alternativa excelente. Muitos bancos buscam crescentemente quotas de investimento na China que lhes permitam aumentar sua exposição na moeda local.
Tudo indica que os tempos que virão nos próximos anos serão mais vibrantes do que os vividos na última década. Quem segue o dia a dia da China e as declarações recentes das autoridades é levado a crer que os ventos sopram na direção de grandes transformações. A destituição do prefeito de Chongqing, Bo Xilai, independentemente de causa mais direta, é uma rejeição à visão nacionalista não-modernizadora. O vice-presidente, Xi Jinping, declarou recentemente que a China chegou a um período crucial de mudança do modelo macroeconômico, e as transformações não podem ser adiadas.
O mais plausível candidato a premiê no próximo ano, Li Keqiang, afirmou que, apesar do rápido crescimento, a China depara-se com as incertezas sobre a recuperação global e com seu próprio processo desequilibrado, desordenado e insustentável de desenvolvimento. (Poucas autoridades governamentais no mundo seriam capazes de tal autocrítica). Segundo ele, o governo tem de avançar nas reformas tributária, do setor financeiro, dos preços e da distribuição de renda. Finalmente, o premiê Wen Jiabao disse que, “sem uma bem-sucedida reforma política estrutural, é impossível instituir plenamente a reforma econômica; as conquistas serão perdidas e novos problemas não serão fundamentalmente resolvidos”.
O cardápio de reformas da realidade chinesa é, portanto, amplo. E, se o Ocidente tem de romper conceitos ao analisar a Ásia, para a própria China vestir a camisa anti-Jobim não é exercício fácil. Onde estarão os traumas? Possivelmente, os maiores desafios estarão mesmo na ordem política, mas é arriscado fazer prognósticos, até porque não creio que o processo de mudança siga um receituário conhecido. Para quem vê de fora, tudo parece estar ainda “in the making”. No político, como no econômico, a China, dentro de limites, sempre poderá surpreender.
Conheço o articulista. Não tem apreço por ditaduras. Tampouco preferiria democracia mediocremente governada.Gosta da cultura asiática sem deixar de ser um ocidental que de fato é. apenas não compara as duas culturas usando uma como padrão ouro. Abertura para o novo é muito difícil para os nossos padrões. Mais que de teoria econômica, creio ser disto que trata no blog. E mais. A quantidade de citações de líderes chineses nos deve fazer refletir. Será que nós ocidentais, sabemos o que é melhor para chineses? a sociedade chinesa é milenar e totalmente diversa em valores da nossa. Será então que vamos dar lições de política e economia a este povo de bilhão de almas? Penso que não! E tem mais. Se os líderes chineses não auscultassem seu povo, se não atendessem mínimamente a suas necessidades aí então estaríamos na situação de Mao que com 100 homens derrubou um império. Não acredito nisto na China de hoje. Olhos e ouvidos abertos a uma nova e poderosa cultura, concebida e executada pelos chineses, é disto que trata o artigo. Finalmente, Tom foi um grande músico, mas não foi um revolucionário. Seu legado é grande mas o que se ouve hoje é mediano, co raras excessões na MPB. Ornette Coleman,Cecil Taylor e outros que conceberam o free jazz não foram tão gdes músicos. Mas eram revolucionaram. Todo o jazz posterior tem sua marca.
Se bem entendi o problema é avaliar a economia e o modelo político chinês, fazer hilações e vaticinar prognosticos a partir de um alfabeto e uma cultura ocidentais. Mas o ponto não é este. O ponto é o que realmente quer a maioria chinesa, a sociedade chinesa. Se não me equivoco, relações com o mundo são fundamentais a qualquer economia, mas tem que estar afinadas com anseios e necessidades do povo, qualquer povo, incluindo o exemplo chines. Quem sabe quais são os anseios poíticos de uma sociedade milenar, que possui uma cultura viceralmente diferente da nossa? Nós ocidentais? Duvido muito. Lá dentro de uma forma ou da outra as autoridades devem refletir no que dizem e fazem estes anseios. Se não cairemos no caso de Mao que com 100 derrubou um império como foi citado. E obvio que todos amamos Tom . É um gde artista mas n~~ao foi um grande inovador. O que temos hoje com honrosas exceções é musica de qualidade inferior à sua. A realidade nova se impõe. Um novo grande criador a la free jazz se faz necessário.
O jazz quando surgiu era um genero marginalizado. Os compositores de ragtime viam aquilo como uma musica pobre pois os músicos estavam substituindo partituras por composições improvisadas.
O swing passou muito tempo sendo considerada a musica do diabo ate o momento em que as pessoas estavam prontas para assimilar aquele som.
Enquanto o swing estava no seu auge e o Duke Ellington estava virando uma das figuras mais populares da musica americana surgiu o bebop, uma estilo de musica que era estupidamente complicado, mas que hoje é um género antiquado. A mesma regra vale para o rock, o soul, a tropicália e varios outros movimentos que hoje em dia são considerados géneros sofisticados.
Ao longo da historia da musica (e da política) pessoas brigaram com conceitos novos porque o que era novo sempre parecia ser pior de que veio antes. A ideia de odiar o Tom Jobim é simplesmente uma forma de expressar que nos temos que estar dispostos a entender que as coisas mudam e que de vez em quando para avançarmos nos temos que estar dispostos a descartar o passado.
Na música isso funcionou muito bem e eu raramente encontro alguém reclamando que a musica era melhor no período barroco. Mas parece que as pessoas que defendem o nosso querido Tom não entenderam que que defender o Maestro neste contexto significa defender conceitos antigos e rejeitar conceitos novos.
A China encontrou um novo modelo político que é radicalmente diferente do modelo que nós conhecemos. Nos podemos discutir a etica de como funciona a politica na China, tem muitas coisas que eles fazem que vão contra os nossos valores, mas bem ou mal o que a China faz funciona para a China e continuará funcionando por muitos anos.
Acho que a palavra “romper” ficou meio forte para alguns coracoes mais sensiveis… Mas esta bem explicado no artigo o que essa ruptura quer dizer. Vem no sentido de superacao, de estrapolacao. Romper para abrir espacos, ir alem. Quebrar um modelo, sem desprezar as conquistas, os ganhos. Sair da repeticao.
Continuamos ouvindo Mozart e continuaremos ouvindo o Tom. Ambos “romperam” tambem, cada qual a sua maneira.
Otima provocacao! Ja deu pra ver que muita gente se mexeu pra pensar. Eu proponho mais uma polemica: Odeio Oscar Niemeyer!
O Mao derubou o Capitalismo. a renovação em curso é a implementação do Socailismo. quem tem fracaçado é o Capitalismo que foi ditatorial e desumano e que nunca respeitou os direitos humanos desde que foi colocado como sistema economico de um Estado. Os USA nunca foi um sucesso isto é coisa de gente liberal ou BANCADA PO LIBERAIS.
Mais um entusiasta da ditadura chinesa. Sempre por vias oblíquas, claro!
Fala em inovar, romper com velhos conceitos, criar um novo modelo… Tudo isso é contorcionismo para dizer: “Esqueça democracia, liberdade individual e estado de direito. São valores e modelos ocidentais. Oriental gosta mesmo é de autoritarismo e economia de mercado.”
O autor ainda consegue falar como se isso fosse novidade! Parece não saber, ou ignorar de propósito, que esse modelo já foi adotado até pelo Brasil durante a ditadura militar. Na Ásia, vigorou na Coréia do Sul e em Taiwan por décadas, até a transição para democracia. Em Singapura também durou décadas, atualmente vive-se uma transição para democracia.
Essa relativização cultural – nós ocidentais gostamos de democracia e direitos, os orientais são diferentes e gostam de opressão e mandonismo das autoridades – é totalmente furada. Se os orientais realmente gostassem de ditadura, ninguém se oporia ao governo e não haveria prisioneiro político. Mas quantos são os prisioneiros políticos na China? Por acaso a população de Hong Kong gosta do cerceamento às suas liberdades promovido por Beijing, ou protesta?
Taiwan, que Beijing considera uma província rebelde, é democracia ou não?
A Coréia do Sul é democracia ou não?
O Japão é democracia ou não?
Acha feio defender ditadura, amigo? Não defenda. Mas quer defender? Defenda aberta e honestamente e arque com as conseqüências. Não adianta tentar se esconder atrás de falsas diferenças culturais. Liberdade e opressão são conceitos universais.
Quem diz que o Capitalismo é democrático é Liberal ou Bancado Por um. O USA nunca será uma democrácia. A contradição é clara explora os trabalhadores. Se não fosse os armamentos e a Mídia já teria caido.
Olha , é difícil imaginar espaço para evoluir em termos harmônicos, rítmicos, e melódicos , considerando a música de Jobim e outros autores de mpusica popular daquelas abençoadas décadas. Música não tem idade, não envelhece. Nasce a da vez que é executada, em diferentes arranjos e interpretações.
É verdade que as rupturas tendem a esquecer conceitos, esconder preferências ou simplesmente desconhecer a história.
A China não é um emergente qualquer. Não culturalmente e nem como sociedade. O Brasil sim! A China foi, até 150 anos atrás, a maior economia mundial durante mil anos e só se perdeu quando resolveu romper com suas concepções históricas.
Na China há um ditado que diz para sempre olharmos de onde as águas vem. Portanto, a comparação é equivocada e seu filho não precisa romper com Tom mas sim evoluir a partir dele.
Amigo, voce precisa detestar é esta enxurrada de breguices enaltecidas pela mídia, tipo breganejos, pagodes baratos etc. e tal.Faça algo de novo muito bom e provavelmente vão abrir algum espaço (se bem que é difícil). O culpado não é o Tom. Ele não teve que detestar ninguém para se impor.
Caro Marcus,
Acho que vc esta olhando somente um lado da problematica Chinesa: o cenario macroeconomico, que com certeza vai muito bem e tem muito a colaborar na economia global. Porem a “ocidentalizacao” da China considerada inevitavel por pensadores ocidentais se refere a area socio-politca que, ao contrario da economia, deixa muito a desejar.
Liberdades civis, corrupcao, marginalizacao social… enfim:democracia, pouco evoluiu nos últimos 20 anos e considerando as declaracoes do Politburo Chines, nao vai mudar tao cedo.
A transicao sera dolorosa pois como tudo na China, a escala é incomensuravel. Enquanto no Brasil temos uns 100milhoes em estado de pobreza, a China tem 1 bilhao! A última vez na historia em que se teve um populacao desse tamanho insatisfeita com seu governo, o resultado foi um tal de Mao derrubar um imperio milenar com ajuda de um pouco maisde 100 pessoas.
Paulo:
O Mao não derrubou o último império chinês, ele apenas ganhou uma guerra civil, travada contra o general Cheung Kai Chek, este se refugiou para ilha de Taiwan, que tinha sido invadido por japoneses, apoiado pelos americanos, e não era apenas de 100 pessoas, bom isto já eé uma outra história: a longa marcha !
O Mao derrubou o Capitalismo. Quem pensa que o socialismo foi utrapassado é Liberal ou Bancado por um.
Pessoal, esta havendo um equivoco, a material usou o tom como um gancho para expressar uma ideia, ou seja, uma mudanca radical !
Nao vi nenhum desprezo ou diminuicao do maestro.
E ele expressa: “Tão traumáticos quanto ler ou ouvir dizer que alguém pode detestar Jobim”.
Tom Jobim está anos luz de ser ultrapassado. Nem há comparação com música eletrônica. Viva o eterno Maestro Soberano.
Nem mesmoas tribos do Rap, Axé, Funk, e sertanejo que são excelentes fundos musicais para churrascos, detestam Jobim, . E no entanto a música, com eles “evoluiu” Assiti ontem uma entrevista do Chico Anisio em que ele disse que para ouvir Bossa Nova tem que ir para o Japão. Coysas do Brazyl