É preciso mudar o debate sobre o Tibete
30/03/12 12:02Por Eric Vanden Bussche, de Pequim
A morte de um tibetano, que ateou fogo ao próprio corpo no início da semana durante um protesto contra a China em frente ao parlamento indiano em Nova Déli, colocou novamente o Tibete no centro das atenções da mídia internacional. Sua autoimolação, dois dias antes da chegada do presidente chinês Hu Jintao à Índia para uma reunião dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), faz parte de uma nova onda de protestos contra o controle do regime chinês sobre o Tibete.
O Tibete continua sendo uma questão espinhosa para Pequim, tanto na esfera doméstica quanto internacional. Encontrar uma solução que satisfaça tanto os chineses quanto os tibetanos será difícil, em grande parte graças ao abismo que separa os desejos de ambos os lados. Os exilados tibetanos almejam a independência ou pelo menos uma maior autonomia política, algo que o regime chinês não aceitaria. Para mim, o impasse somente será superado se ambos os lados atualizarem a sua postura em relação ao Tibete, levando em consideração as transformações em curso na região nas últimas duas décadas.
Durante anos, os chineses e os tibetanos se amparam na história para provar que o Tibete fazia ou não parte da China antes da revolução comunista de 1949. Os tibetanos apontam para a sua autonomia política e relações internacionais durante o período republicano (1912-1949) para enfatizar que a independência de sua nação. Em 2003, a descoberta de um passaporte tibetano no Nepal emitido naquela época pelo 13º Dalai Lama ao então ministro das finanças do Tibete, Tsepon Shakabpa, reforçou tal argumento, já que também contém vistos de vários países, entre eles o do Reino Unido.
Os historiadores chineses, porém, refutam esse argumento, lembrando que várias partes da China gozavam de certa autonomia política durante o período republicano, mas ainda eram consideradas parte do país pelos líderes chineses. Os acadêmicos na China preferem basear as suas interpretações em documentos da dinastia Tang (618-907), que, segundo eles, provam que o Tibete reconhecia a suserania do imperador chinês. Eles também lembram que o Tibete era parte do império Qing (1644-1912), a última dinastia que reinou sobre a China.
Essa narrativa é questionada por historiadores norte-americanos, que preferem caracterizar o Tibete como “colônia” do império Qing. Também não é possível partir do pressuposto de que os imperadores da dinastia Tang ou Qing (1644-1911) definiam os conceitos de suserania e soberania da mesma forma que os líderes políticos dos Estados nacionais da atualidade.
Fica claro, então, que, dependendo da maneira como interpretarmos a história, é possível mostrar que os argumentos de ambos os lados podem ser facilmente refutados. Por isso, é necessário deixarmos de lado o debate histórico para prestarmos atenção no cenário atual.
Nesse sentido, os protestos que eclodiram no Tibete em 2008 revelaram a necessidade de mudarmos o foco do debate.
Pela primeira vez desde que a China “reincorporou” (ou “invadiu,” dependendo com quem você conversar) o Tibete em 1950, os tibetanos protestaram nas ruas motivados por frustrações econômicas e não tanto políticas. Os participantes não eram apenas acadêmicos, estudantes ou religiosos, mas incluíram também outro segmento importante da população tibetana: aqueles que se sentiam marginalizados no processo de desenvolvimento econômico das últimas décadas.
Essa parcela da população enxerga os migrantes chineses no Tibete como os únicos que colhem os frutos dos investimentos de Pequim na região. Não foi por acaso que estabelecimentos de comércio chineses se tornaram os alvos preferidos dos manifestantes.
Tais frustrações já eram aparentes quando visitei o Tibete há dez anos. Na praça central da capital tibetana de Lhasa, próxima ao Palácio Potala _antiga residência do Dalai Lama_ há uma luxuosa casa de chá. Nas duas vezes em que passei por lá, percebi uma clientela composta inteiramente por chineses han (etnia de 94% da população do país) sendo servida por tibetanos em trajes que lembravam a dinastia Tang. Um dos garçons, que falava um mandarim com forte sotaque tibetano, enxergava a casa de chá como um retrato das problemáticas relações entre os chineses e tibetanos: “Se quiser saber a situação [social e econômica] do Tibete, basta olhar a sua volta. Aqui nós tibetanos servimos os han. É a mesma coisa por todo o Tibete. Não é justo e espero que mude um dia”.
Os protestos de 2008 tornaram aparente o problema da desigualdade econômica no Tibete, desafiando a estratégia do governo chinês na região. Quando Deng Xiaoping consolidou o seu poder no final dos anos 70, ele começou a esboçar um novo plano para as regiões fronteiriças da China com ênfase no desenvolvimento econômico e na difusão da cultura tibetana. Deng e os seus sucessores acreditavam que uma melhoria de vida da população facilitaria o controle da região.
De acordo com a agência oficial de notícias Xinhua, o governo chinês investiu mais de R$ 83,1 bilhões no Tibete desde 2001, a maior parte em projetos de infraestrutura, como rodovias e a estrada de ferro Qinghai-Tibete, que liga a região ao resto da China. Até 2016, Pequim pretende gastar mais R$ 39 bilhões em infraestrutura.
Os investimentos maciços de Pequim, entretanto, beneficiaram apenas uma fração da população tibetana, segundo o economista da London School of Economics, Andrew Martin Fischer. Em entrevista à revista “The Economist” algumas semanas após os protestos de 2008, Fischer assinalou que o setor de educação recebeu apenas 6% do total de investimentos de Pequim, uma parcela insuficiente se considerarmos que 45% da população é analfabeta. Segundo o economista, a falta de fluência no mandarim continua sendo um dos maiores obstáculos à ascensão social dos tibetanos. Além disso, as condições no campo continuam precárias. Apesar da previsão do presidente Hu Jintao de que a renda média anual dos agricultores tibetanos atingirá o mesmo patamar que a média nacional no setor até 2020, muitos economistas consideram essa meta difícil de ser alcançada.
Na capital, Lhasa, os chineses que migraram para a região encontram-se entre os maiores beneficiados pelo crescimento econômico do Tibete. São eles que controlam os estabelecimentos comerciais na cidade. Mesmo assim, houve o surgimento de uma pequena classe média urbana de tibetanos nas últimas duas décadas, que nutre um sentimento ambíguo pela China. Se por um lado muitos deles gostariam que o Tibete gozasse de maior autonomia política e religiosa, por outro eles enxergam a China como o motor responsável pelo desenvolvimento econômico da região.
Quando estive no Tibete, uma tibetana me contou que pretendia enviar a sua filha para estudar em Chengdu, na Província de Sichuan no centro-oeste. “Só assim ela irá ter mais oportunidades,” me explicou. “Por isso, não sou favorável à independência do Tibete. Se nos tornarmos independentes, poderemos fazer o que quisermos, mas nossos filhos não terão mais a oportunidade para melhorar de vida.”
Infelizmente, a maioria dos chineses ainda enxerga os tibetanos de forma paternalista. Para eles, o Tibete é uma região atrasada em termos econômicos e culturais que nunca irá prosperar sem a orientação de Pequim. Essa mentalidade moldou a reação dos chineses durante os protestos de 2008. “Por que os tibetanos estão matando os chineses e queimando as suas lojas?” perguntou um internauta anônimo. “Sem nós, eles ainda seriam uma sociedade feudal.” Muitos internautas acusaram os tibetanos de serem ingratos. “Devemos parar de investir tanto dinheiro no Tibete,” escreveu outro. A cobertura dos protestos pela mídia chinesa _que mostrava imagens da destruição das lojas, o sofrimento dos comerciantes e as mortes de chineses_ reforçou esses estereótipos entre a população do país. É por isso que não há uma pressão interna para que o governo mude as suas políticas no Tibete.
Se quiser atenuar a oposição dos tibetanos à sua presença, o regime chinês precisa entender que não bastará apenas continuar despejando bilhões de dólares na região. Será necessário também priorizar medidas que permitam aos tibetanos participarem do processo de desenvolvimento como protagonistas ao invés de meros coadjuvantes.
Não concordo com o dominio chinês no Tibet, porém numa eventual independencia dessa região certamente o Dalai Lama seria um lider soberano e o que seria implantado seria um estado teocrático que não traria desenvovlimento economico nenhum para a região. Além do poder, o que mais o Dlai Lama já reinvindicou para o Tibet?
Recentemente o Dalai Lama abandonou a política formalmente. O acesso ao poder político entre os tibetanos no governo paralelo no exílio se dá por vias democráticas. O Dalai Lama em várias ocasiões reconheceu que o comunismo tem alguns valores em comum com o budismo. O filme Kundun apresenta informações sobre o Dalai Lama, o povo tibetano e a invasão de forma muito precisa, se não fosse porque há atores poder-se-ía dizer que é um documentário.
Eric Vanden Bussche é mais um que não acha a China capaz de lidar com democracia.
Acha ótima a repressão da ditadura chinesa porque ela mantém o Tibete – e outras regiões – subjugado.
Acha que há mais liberdade sob a ditadura chinesa do que sob a democracia americana.
Acha que os EUA só apóiam Taiwan para espezinhar a China. Interesses mútuos entre EUA e Taiwan ele não crê que existam. Acha simplesmente que os malvados EUA querem sabotar a China.
Está tudo em uma entrevista dele para a BBC:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2002/021103_ericbuschefinal.shtml
É lamentável.
Ele esta expressando sua opiniao, sem condenar ninguem, ao contrario de vc !
lamentavel …….. eh voce …………..
(LIBERDADE DE EXPRESSSAO SO VALE PARA ALGUNS …)
Li alguns livros do Dalai Lama e consegui respostas para minhas dúvidas espirituais que nenhuma religião ocidental tinha me proporcionado, considero que o budismo tibetano está num patamar muito adiantado em relação as outras religiões. Dito isso, concordo com todos os protestos mas não aceito o ato de imolar-se.
Ok João, porém questão tibetana não é espiritual, é de cunho economico.
Não é irritante essa falsa demonstração de humanismo – falsa, pois tal “humanismo” é movido tão-somente por ranço ideológico, visto que os mesmos “humanistas” que se empenham tanto para “denunciar” o atroz sofrimento tibetano, estranhamente não se sensibilizam com o sofrimento ATUAL (bem, de mais de 500 anos, mas que se estende até os dias de hoje) de povos que guardam semelhança em termos de trajetória histórica com o povo tibetano, no sentido de serem dominados por outras civilizações mais fortes que lhes tomaram suas terras e suprimiram sua cultura. Refiro-me aos índios das 3 Américas e aos aborígenes da Oceania.
A ironia, a contradição? Terem suas terras roubadas pelos mesmos (etnicamente falando) que hoje posam de defensores dos tibetanos! Se pudéssemos resumir historicamente a relação ‘China X Tibete’, tal resumo também valeria tranquilamente para qualificar a relação ‘Europeus (e descendentes) X Povos nativos das Américas e da Oceania’: os mais fortes dominam os mais fracos. E mais: nunca se viu ao longo da história que os mais fracos no final tenham ‘revertido’ o jogo, isto é, tenham expulsado o mais forte e reestabelecido o antigo status. É por isso que estamos aqui – da mesma forma que os chineses continuam (e continuarão) no Tibete!
Alguém já perguntou para um navajo, um sioux, um índio centro-americano, um inca peruano ou aqui no Brasil para um caigangue, tapuia, etc., se eles nos querem aqui? Pelo discurso da Rigoberta Menchu quando do recebimento do Nobel da Paz em 92 (um doce para quem adivinhar porque essa líder indígena fora agraciada com o Nobel nesse ano…), eles não gostaram nada, nada do que tem acontecido desde então. Na comparação com o Tibete, ela seria o Dalai Lama dos índios das 3 Américas. “Dica” para os chineses: se forem espertos, que façam com o Dalai, o que aqui se faz com ela: confiná-lo ao ostracismo midiático a fim de que sua “causa” não “encha o saco.” Até porque, depois de mais de 500 anos, se tem algum índio ainda incomodado com a presença dos descendentes de europeus, poderíamos sugerir a ele se conformar com a sapiência “Supliciniana”: relaxa e goza!
Esses dias caminhando aqui pelo centro da cidade, vi uns indígenas (uma mãe com uns 3 ou 4 filhos pequenos) pedindo esmola e vendendo “artesanato”. Deixei R$ 2 e fiquei pensando: “Viu só? Quem mandou vcs aceitarem espelhinhos e miçangas do Caramuru? Deu no que deu!”
Viram o que aconteceu agora em janeiro quando a Austrália comemorou o seu “7 de setembro”? A 1ª ministra australiana teve que ser retirada as pressas da cerimônia cívica porque um aborígene “tumultuou” a cerimônia. Mas pouco destaque foi dado a isso na mídia mundial, por que será?
Lembro de ler uns tempos atrás, num jornal australiano, sobre os vários problemas sociais que atingem os aborígenes, como a de apresentar a mais alta taxa de alcoolismo do país e sua “dificuldade” de “integração social”. Por que será que são tão “arredios” nessa integração? Por acaso não seria a mesma discriminação que os tibetanos sofrem para se integrar a sociedade chinesa?
Nos EUA o governo condeceu a exploração de cassinos pros índios – será que é para expiar os “males” da relação entre os dois povos? Dias desses, li o comentário (irônico, claro) de um americano numa matéria de jornal que tratava dessas recentes imolações tibetanas: que os comunas chineses concedessem aos tibetanos a permissão para explorar os cassinos de Macau. Para os americanos, não foi mal negócio trocar milhões de quilômetros de terras por alguns cassinos, né? Negócio da China, nê?
Acompanho a cultura e tradição do Tibet até porque sigo o Budismo Tibetano. Apesar de bem estruturados os comentários concordo com o colunista Eric, até porque o CV dele é respeitável e o enfoque da matéria não foi a invasão, a soberania…mas como é a convivência atual em termos sociais e econômicos entre o povo e a nação chinesa e Tibetana, ponto. Parabéns Eric ! A moeda tem 3 lados. Cara, coroa e perfil.
Historiadores da China soa como uma piada. Como pode se dar crédito a historiadores de um país que desde a revolução vem escrevendo a sua história de acordo com os princípios revolucionários que maqueiam a verdade, como acontece em todos os países comunistas? Onde os “pensadores” (não digo livres pensadores pois liberdade de pensamento nesses países não existe) são desde cedo orientados a relatar a história dando vivas à revolução, mentindo, inventando façanhas inexistentes e atribuindo-as aos seus líderes (como as histórias em que Mao é relatado como um atleta, um amigo do povo, um homem cheio de dotes físicos e intelectuais). A China é um país onde o domínio do estado sobre o indivíduo é feito à base da força, da intimidação, da mentira e do engodo. Soa como uma piada o relato de que historiadores chineses contestam qualquer coisa sobre o Tibete.
E o pior é que ainda tem gente que acredita no ideário comunista, um ideário que provocou a morte de mais de 100 milhões de pessoas desde que algum lunático o pensou e outro lunático o aplicou.
Do Tibete, conheço pouco, só o que leio em jornais internacionais e o que li no livro “Sete anos no Tibete”. Mas, conhecendo os impérios, é evidente que a China invadiu um país, não uma província rebelde. E que o povo tibetano está sofrendo, afinal ninguém se imola à toa. Mas como a China é a queridinha do capitalismo…os tibetanos deveria trocar idéias com os palestinos, são dois dos povos mais ferrados do mundo.
Não concordo que a postura do governo no exílio é, hoje, radical. O que Dharamsala pede é uma autonomia de fato dentro da República Popular da China. A questão do progresso também é muito complexa – quem são esses tibetanos que acreditam que “que o desenvolvimento econômico da região se deve em grande parte aos investimentos chineses”? Que desenvolvimento é este que deixa 45% da população tibetana analfabeta? Como você mesmo coloca, os grande beneficiários do investimento chinês são os próprios chineses. Além disso, não podemos esquecer, as obras de infraestrutura são um grande estímulo para que os chineses continuem a colonizar o território tibetano. Entendo que você enxergue como um pouco exagerado a declaração de que a “China só destruiu o Tibete”, mas não podemos fechar os olhos à destruição sistemática e contínua de aspectos culturais tibetanos. Quando estive em Lhasa dez anos atrás pude presenciar isso no dia-a-dia da cidade. Um exemplo é a destruição de construções tibetanas perfeitamente boas para dar lugar aos horrendos prédios de estilo comunista. Outro exemplo mais recente (e até mais grave) foi a decisão do governo chinês de não ensinar mais o tibetano em escolas no TAR. Enfim, os problemas são muitos e o parco benefício que os tibetanos receberam depois da invasão e ocupação chinesas estão longe de compensar os estragos. No final, a questão maior que fica, e não apenas para os tibetanos mas para todo o povo chinês, é a falta de democracia em todos os níveis. Enquanto não houver democracia naquele país, nada será justo.
Prezada Ana Cristina,
Muito obrigado pelos seu comentário. Eu enxergo as posturas do governo chinês e dos tibetanos no exílio como radical porque nenhum dos lados parece disposto a abrir mão de certas reinvidicações para tentar chegar a uma solução negociada ao impasse. As condições do governo chinês são inaceitáveis para os exilados tibetanos e vice-versa. Isto ficou evidente na década de 80, época em que o governo chinês tentou negociar um acordo que garantisse a volta do Dalai Lama. Ambos os lados não conseguiram chegar a um acordo e isto levou a um endurecimento da postura chinesa e tibetana sobre a questão. Caso tenha interesse, sugiro a leitura do artigo “The Dalai Lama’s Dilemma”, por Melvyn C. Goldstein, publicado na revista “Foreign Affairs” (Vol. 77, No. 1, Jan.-Feb. 1998, pp. 83-97). Ele faz uma ótima análise dos impasses nas negociações entre o governo chinês e tibetanos durante a década de 80.
É muito interessante falar sobre o Tibet, já que ajuda a desmistificar a hipócrita afirmação governamental de que “a China é um país pacífico, que nunca invadiu ninguém”.
Conta outra.
O mais legal disso tudo, é que na Siria tem um monte de gente querendo derrubar o ditador, como derrubaram no Egito e em outros países.
E a forma de protestos eram as mesmas ou menores que no tibete.
Mas no tibete, tem a China né…
quem quer se meter a besta em bater de frente?
Depois vem gente falar que EUA e UE tao ligando para as pessoas que vivem sofrendo nesses lugares..
conta outra.
querem tirar proveito de alguma forma.
querem sair da crise às custas dos espólios de guerras.
A “incorporação” do Tibete pela China deveria ser vista como uma necessidade de legitimação que o PCC busca para se manter no poder desde 1949. A “unidade nacional” é uma das premissas morais que mantêm os velhos dirigentes em foco, e não vai ser nada fácil mudar esta política. Se Beijing ceder nesta questão, como ficará o controle sobre outras regiões problematicas, como por exemplo HOng Kong, Formosa e os povos não Han das fronteiras ocidentais da China. O PCC não vai querer correr o risco. Lá não é a URSS, desfacelada após a adoção de critérios mais democráticos.
Muito bom o artigo. Já que os defensores da causa chinesa lembarm o tempo em que a China controlava (mas não ocupava militarmente) o Tibet, eu gostaria de propor que a China voltasse ao controle dos mongóis. Kublai Khan (Ku-bi-lai Khan), neto de Gêngis Khan, foi imperador da índia até o ano de 1294 e fundador da dinastia Yuan. Ou então restabelecer o domínio Manchú, cuja dinastia Qing reinou de 1644 até 1911 na China. Assim fica tudo de acordo com os parâmetros usados pelos historiadores chineses, para justficiar a invasão de um país independente e pacífico nos anos 1950.
Inicialmente, pensei na situação de Brasil e Uruguai. Imagine se o Uruguai fosse invadido agora sob a alegação de que um dia foi parte do Brasil imperial?
Mas lendo o artigo comecei a ver nuances.
Não é possível falar em retirada chinesa e pronto. É preciso saber o que seria posto no lugar. Uma teocracia budista? Uma república independente, mas minúscula e sem recursos que poderia acabar na órbita da China de novo? Será que vale a pena arriscar?
Será a independência o que a MAIORIA dos tibetanos quer?
Quantos não pensam como a tibetana que prefere ver a filha tendo oportunidades na China?
O próprio Dalai-Lama já não reivindica independência, fala em autonomia.
A Al Jazeera exibiu um documentário sobre os tibetanos no exílio. Vale a pena assistir porque permite uma visão mais realista e menos romantizada sobre esse povo tão sofrido.
http://www.youtube.com/watch?v=h_ykbVSyxyA&feature=player_embedded
Não sei o que pior para os tibetanos. Serem massacrados pela China no Tibete ou se refugiarem na India e serem perseguidos e presos, até chegar o desespero de ateor fogo em si mesmo. Durante a visita do Presidente chinês para o encontro do BRICS, a polícia indiana parava, questiona e prendia qualquer um que tivesse o olho apertado ou parecesse tibetano. Até o jornal India Times destacou essas arbitrariedades indianas. Que destino!
Luis Henrique e Rodrigo, Agradeço os seus comentários. O meu artigo pretende mostrar que a questão tibetana não pode ser enxergada de forma tão simples. Não concordo inteiramente com um lado nem com outro. Aliás, acho que tanto os chineses quanto os exilados tibetanos adotaram posições radicais demais e que, por isto, chegar a um acordo parece ser praticamente impossível. Sim, houve e continuará havendo um certo grau de repressão por parte do governo chinês para manter o seu controle sobre a região. Mas afirmações do tipo “O que a China fez com o Tibet [sic] foi destruir o país” é um pouco exagerada. Além disso, muitos tibetanos com os quais conversei quando estive no Tibete concordam que o desenvolvimento econômico da região se deve em grande parte aos investimentos chineses. Ao mesmo tempo eles também reclamam do controle e repressão da China no âmbito político e religioso. Ou seja, não devemos rotular a presença chinesa no Tibete de “boa” ou “ruim”. Devemos examinar a situação através de uma postura neutra, analisando os prós e contras. Eu tive a oportunidade de visitar a região e aprendi bastante conversando tanto com os tibetanos quanto com os chineses. Foi baseado nestas conversas, nas minhas observações durante a minha visita e nas minhas leituras que formulei as ideias que coloquei neste artigo. Rodrigo, Lhasa continua com um lindo centro histórico. Certas partes da cidade foram destruídas no processo de urbanização e desenvolvimento urbano. Mas o mesmo ocorreu em Pequim (aliás, o processo de destruição do patrimônio histórico em Pequim foi muito mais intenso do que em Lhasa).
A postura chinesa nunca é neutra. Então de que adianta você dizer que tem uma postura neutra? Em que você contribuirá para o diálogo se a China não dá ouvidos a ninguém. Acho que você delira.
Pensando rapidamente, consigo comparar os tibetanos que são a favor do desenvolvimento econômico a partir do investimento chinês com alguns brasileiros que enriqueceram durante a época da ditadura e são agradecidos por ela. É evidente que o potencial de crescimento econômico tibetano é infinitamente maior com a China do que sem ela, mas realmente vale a pena abrir mão de uma cultura própria e de sua liberdade para tal?
Eric, excepcional a sua postura de abrir diálogo com os leitores de seu texto (nunca passei por aqui, e nem sei se isso é praxe). Reconheço que fui até leviano em meu comentário, mas a imagem que a China passa é muito negativa. Obviamente que o filtro da imprensa ocidental pode passar informações já borradas, mas não acho que seja o caso. É importante, e muito, o fato de você ter visitado o Tibete (vou colocar o “e”) para embasar suas palavras e, sem dúvida, isso deve ser pesado na balança, entre o que eu acho e o que leio aqui. Enfim, desde que esse diálogo sirva para alguma coisa (e até acho que sim), já está valendo. Na verdade, o fato que mais me deixa inquieto é a forma como foi feita a ocupação. Sinceramente, acho que não precisava ser da forma que foi – e até entendo que os tempos eram outros. Pra finalizar, mesmo não concordando com muita coisa do que você disse no seu texto, achei-o muito bem escrito e, além do mais, nos faz pensar. Já salvei por aqui, e vou reler com mais calma. Grande abraço.
O drama por lá é muito maior do que está relatado no texto. O que a China fez com o Tibet foi destruir o país e massacrar sua cultura, impondo seus ideais sem respeito nenhum ao povo tibetano. Transformou Lhasa numa cidade comum, com prostituição e tudo perto do Potala.
Mais um que sabe o que de fato acontece com aquele povo sofrido e humilhado!
Você sabia que mais de um milhão de tibetanos foram mortos pelos chineses após a ocupação em 1950?
No Tibet fala-se chinês ou tibetano?
A cultura tibetana é Tibetana ou Han?
Já pensou se um português, ou um Tupi, ou um Guarani chegar na sua casa, matar todos os seus parentes, e proclamar para o mundo que sua casa é dele, porque em algum momento do passado já foi dele, seja porque ele colonizou aquele lugar ou porque nasceu lá…
O Brasil é Portugal?
Tibet é Tibet ou é China?
A questão tibetana é evidente para todos, mas as pessoas têm medo de falar porque estariam falando contra o poderio econômico e militar da China.
É muito triste que a questão tibetana só seja debatida quando alguém nascido no Tibet coloca fogo em seu corpo em praça pública!!!
Otimo argumento! Compartilho do seu pensamento!!
Viva o Tibet Livre and down with the chinese!
“Já pensou se um português, ou um Tupi, ou um Guarani chegar na sua casa, matar todos os seus parentes, e proclamar para o mundo que sua casa é dele, porque em algum momento do passado já foi dele, seja porque ele colonizou aquele lugar ou porque nasceu lá…” – Situação parecida com a vivida pelos palestinos no Oriente Médio, não? Mas em favor dos palestinos nunguém fala.
Este arquito em nada contribui para a questão tibetana. o pensamento do autor é proviciano demais para alguem que ja visitou a região várias vezes. Até parece que não conhecem os chineses. O artigo suaviza muito a situação, que é trágica. Agora, os tibetanos são também perseguidos na India, que acolheu o Dalai Lama. Quem liga para os tibetanos? Ninguém.
E acabar com o tsunami de dólares que rolam mundo a fora em prol da causa do Tibet ? Ficou louco ? E quem vai ser o culpado pela precária situação política,sopcial,econômica e cultura da região ? Os governantes locais ? Ditado diz : meta-se com a sua vida . SE não podes colaborar financeiramente, não atrapalhe.