Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Vista Chinesa

por Fabiano Maisonnave

Conheça Os colunistas que fazem a Vista Chinesa

Perfil completo

Insegurança chinesa, esperança ocidental

Por Vista Chinesa
04/06/12 09:12

Por Marcos Caramuru de Paiva, de Xangai

Há dias, convidado a um jantar com administradores de fundos de investimentos, ouvi a pergunta: por que os ocidentais acreditam mais no futuro da China do que nós mesmos, chineses? Surpreso, indaguei aos meus anfitriões se achavam que a China havia evoluído para melhor ao longo do tempo. Todos disseram que sim. Então por que temem o futuro?

Ocidental, diplomata de formação, acostumado a analisar as mensagens governamentais tanto no que é explicitamente dito pelas autoridades como no que está nas entrelinhas, mencionei-lhes que tudo o que ouço sobre o futuro vai na direção de transformações audaciosas que podem mudar a China para melhor e ampliar a sua importância no mundo.

Sobretudo depois do afastamento de Bo Xilai, o que mais há aqui é o anúncio de reformas que cobrirão as áreas social, econômica e política. Nas muitas visitas que fiz ao longo dos anos a autoridades locais, vi um número significativo de pessoas jovens em altas posições, com bom traquejo no uso do inglês, comprometidos com a modernidade. Ótimo sinal. Na China, os políticos se aposentam aos 65 anos e a média de idade dos líderes no comando do governo em todos os níveis tem de ser de 50 anos. Sempre acreditei que os chineses haviam enxergado no rigor da hierarquia japonesa um certo esclerosamento do Estado. Por isso, estabeleceram a idade média em padrão relativamente baixo no mundo moderno, onde as pessoas são frequentemente ativas até uma idade antes considerada tardia.

Não que o sucesso esteja à mão. Os desafios são imensos, mas não avassaladores e têm sido explicitados com naturalidade: as disparidades sociais, a passagem para uma economia capaz de produzir inovação, a modernização do segmento financeiro, a abertura da conta de capital, a avaliação de desempenho do governo baseado não no crescimento do PIB, mas na qualidade do crescimento, vai por aí.

É óbvio que, na visão dos ocidentais, sempre há uma questão maior: para onde penderá o rumo da política. Mas essa é uma questão que os próprios políticos chineses têm em mente. O fato de países terem partidos únicos não significa que inexistam divergências no comando. O problema é que apenas no contexto de um escândalo, como o que ocorreu recentemente com o ex-prefeito de Chongqing, fica-se sabendo que as divergências são mais profundas do que se poderia imaginar.

Meus anfitriões no jantar não têm o meu olhar para os fatos. Reconhecem que a previsibilidade na mudança de lideranças políticas garante um grau elevado de estabilidade no país, mas sempre se perguntam: quem virá num futuro mais distante? Nisso, há que reconhecer, não são diferentes de nós. Só que aqui não há pesquisas de opinião para avaliar se os eleitores penderão para Lula ou Dilma em 2014 ou se o PSDB tem alguma chance de se unir em tempo em torno de um candidato.

Um dos problemas da realidade política na China, a meu ver, é que os dirigentes mais jovens não são conhecidos. Ao lado disso, a sensação generalizada é de que os que saem do mundo político não exatamente saem. Seguem no comando, mexendo os seus pauzinhos a partir de seus aliados que permanecem na ativa. Ou seja, quando se anunciam mudanças, muitos se perguntam: será mesmo para valer?

Ao mesmo tempo, muitos empresários se indagam qual será o futuro do setor produtivo da China sem um desempenho das exportações de produtos manufaturados tão positivo como no passado. A conta do aumento do consumo interno não é normalmente feita, apesar de todos admitirem que o acesso ao consumo tem-se ampliado, e os salários têm aumentado. A lei trabalhista na China diz que os salários devem aumentar de acordo com o grau de desenvolvimento, o que, por si só, é notável. Publica-se anualmente qual foi o aumento da média salarial no país, e os aumentos do salário mínimo decretados pelo governo têm estado muito acima das taxas de inflação.

Finalmente, o crescimento do setor de serviços, fato inevitável numa economia que amadurece, não parece convencer os locais. A mentalidade empresarial tem tão solidamente arraigada a idéia da China industrial, exportando para o mundo, que encontra dificuldade em ver a China com outra feição.

A transformação futura do país terá de mudar conceitos não somente no setor público, mas também, e, talvez, principalmente no privado. E é um reducionismo achar que na China de hoje tudo ou quase tudo é estatal. O peso do Estado é grande, não há dúvida, mas a China depende crescentemente do segmento privado. Os dirigentes têm falado até mesmo na necessidade de maior presença privada no setor financeiro.

Depois de uma longa conversa e muitos argumentos, meus interlocutores me repetiram a pergunta inicial: mas, afinal, porque vocês acreditam tanto?

Talvez porque o mundo precise se apoiar em experiências de sucesso, e a China é a mais evidente das últimas décadas. Talvez porque, se a China falhar, o mundo inteiro vai sentir fortemente o impacto. E, se isso ocorrer num momento em que a Europa e os Estados Unidos estejam muito mal, viveremos uma crise mundial de grandes proporções, mesmo com outros países em desenvolvimento, como o Brasil e a Índia, tentando ir bem. Talvez porque o modelo de êxito do Ocidente esteja baseado em ideias que nasceram há 200 anos, enquanto a China trabalha num modelo novo, tanto econômico quanto político, que ainda terá de evoluir, mas que possivelmente abrirá portas.

A China de hoje tem peso para definir novos padrões e mudar rumos: internamente e para além das suas fronteiras. Mas a pergunta sobre o futuro ainda estará no ar por muito tempo, sem respostas definitivas.

Marcos Caramuru de Paiva, diplomata, é sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai, e vive há oito anos no Leste Asiático. Foi cônsul-geral do Brasil em Xangai, embaixador na Malásia, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda e diretor-executivo do Banco Mundial, em Washington. Escreve às segundas-feiras, a cada 14 dias.

About Vista Chinesa

A página Vista Chinesa é uma fonte de informação e análise sobre o principal parceiro econômico do Brasil. Conta com colaboradores calejados com a longa e cada vez mais frequentada ponte aérea entre os dois países e traz reportagens e análises produzidas pela Redação da Folha de S.Paulo, além de comentários do correspondente Fabiano Maisonnave, responsável pela edição.
View all posts by Vista Chinesa →
Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
  • Comentários
  • Facebook

Comentários

  1. Júnio Mélo - Rio comentou em 05/06/12 at 11:52 am

    Concordo com João P. e acrescento que estão esquecendo da cultura chinesa, faz parte dela trabalho árduo e persistência.

  2. Benny Souza comentou em 05/06/12 at 7:19 am

    Parabéns, Dr. Marcos, pela análise lúcida. Fico feliz em ler seu texto, que é uma luz em meio a tanta desinformação e viés que existe em relação à China. Na qualidade de residente em Pequim há alguns anos, só tenho a aplaudir. Fique à vontade para entrar em contato, já que talvez possamos cooperar em empreendimentos. Quanto ao comentário do Sr. Reginaldo Loureiro só tenho a lamentar, uma vez que demonstra enorme desinformação. Como diziam os antigos, ele “ouviu o galo cantar, mas não sabe onde”…

  3. Kabong comentou em 05/06/12 at 4:16 am

    A china um exemplo de sucesso??
    Se o enriquecimento de uma nacao se faz com a exploracao do seu povo, a censura e a repreensao dos direitos de expressao, este mundo esta perdido.
    A crueldade chinesa e a ganacia das multinacionais, que instalaram suas fabricas na china em busca de maior lucro, fizeram com que o mundo de hoje ficasse desse jeito.

    • Lucas comentou em 07/06/12 at 11:30 pm

      Kabong: vc precisa rever teus conceitos !
      Alias, so os conceitos ?

  4. Jesse Cristiano comentou em 04/06/12 at 9:58 pm

    Muito simples, investem pesado na educação, infra estrutura e exportam manufaturados, e nós, fazemos tudo ao contrário…

  5. João P. comentou em 04/06/12 at 6:23 pm

    Prazado Marcos Caramuru de Paiva,
    pouco que sei da China
    investe muito em educação,
    tem índice de poupança elevado
    e investe muito em infraestrutura,
    apesar de todos os problemas,
    caminha para se a maior potência do planeta.
    Brasil, investe pouco em educação,
    tem baixo índice de poupança
    e investe pouco em infraestrutura
    caminha para continuar a ser dependente exportação de commodities
    e baixo crescimento econômico.
    Orçamento Governo Federal 2011
    R$ 923 bilhões :
    * Previdência 330 bilhões
    * Funcionalismo 183 bilhões
    * Juros 170 bilhões
    * Saúde 60 bilhões
    * Educação 27 bilhões
    * Custeio 20 bilhões
    * Bolsa Familia 13 bilhões
    * Invest. Infraestrutura 48,5 bilhões
    * Outras Despesas 70 bilhões
    Fonte: revista Veja 2200 19/01/2011

  6. Reginaldo Loureiro comentou em 04/06/12 at 4:03 pm

    ¨a China trabalha num modelo novo..¨ ? O que há de ¨novo¨ na exploração absurda da própria população? O que há de ¨novo¨ no cerceamento das liberdades ? Economizando palavras: seu texto, de tão desconectado com a realidade, chega a ser ofensivo para quem está efetivamente inserido no mercado.

    • Lucas comentou em 07/06/12 at 11:31 pm

      acorda !

  7. sergio cavalcante gomes comentou em 04/06/12 at 2:13 pm

    1)ACREDITAMOS MAIS PORQUE ESTAMOS COM NOSSO CAPITAL INVESTIDO NA PRODUÇÃO INDUSTRIAL CHINESA E OS CHINESES COMPOEM E FAZEM PARTE DA ORQUESTRA DE PRODUÇÃO/CONSUMO DA ECONOMIA INDUSTRIAL;2)OS LIDERES DA PRODUÇÃO GLOBAL ALAVANCARAM O MERCADO DE CONSUMO CHINES,A EXEMPLO DA ENTRADA DA MULHER OCIDENTAL NO POS 2A GUERRA MUNDIAL E NÃO RETROCEDERÃO;3)ESTABELECEU-SE INTERDEPEDENCIA VENOSA COM O MERCADO ASIATICO OU SEJA O CORAÇÃO DO SISTEMA(NY,LON,FRAN,TOK,HK) SEGUIRÁ APOSTANDO NA REALIZAÇÃO DE LUCROS.

Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailfabiano.maisonnave@grupofolha.com.br

Buscar

Busca
Blog dos Correspondentes

Tags

Baidu; China; Brasil; Kaiser Kuo Chen Zhizhao; Corinthians; china; futebol; embraer; jackie chan; fabiano maisonnave china; hong kong; eric vanden bussche; blog vista chinesa china; venezuela; chávez; América Latina Eric Vanden Bussche; China; protestos josé carlos martins; economia chinesa José Carlos Martins; Vale; relações Brasil-China Marcos Caramuru de Paiva; China; sucessão Marcos Caramuru de Paiva; economia chinesa mulheres chinesas; eric vanden bussche; wendi deng; dia internacional da mulher Relações Brasil-China Ricardo Antunes; Instituto Confúcio; Shenzhen; Foxconn UFMG; China; iPhone Wang Shu; China; Fabiano Maisonnave; arquitetura; Pritzker Zhou Zhiwei
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).