É tudo para hoje! Mais de 9 milhões prestam o "vestibular chinês"
13/06/12 04:22Por Sun Ningyi, de Pequim
Doze anos de estudo para conseguir um bom resultado em dois dias. Na última quinta e sexta-feira, 9,15 milhões de estudantes chineses participaram do gaokao, o “vestibular chinês”, para tentar uma vaga nas universidades de elite do país.
O gaokao altera a rotina de toda a China. Em Pequim, os alunos podem pegar táxis gratuitamente se mostram sua inscrição, as escolas têm ambulâncias de plantão e segurança reforçada. Num bairro da cidade, os sapos de uma lagoa chegaram a ser mortos por envenenamento para assegurar um ambiente tranquilo antes da prova.
Dentro das famílias é ainda mais intenso. Com uma geração quase inteira de filhos únicos, todos “se preparam” para o gaokao. “Estou mais nervoso que o meu filho!”, conta a esta repórter o pai do aluno Yan Haijia, que estava fazendo a prova de inglês na tarde de sexta-feira. Junto com outros pais chineses, ele estava esperando pelo filho desde o início da prova na frente do portão da escola secundária ligada ao Instituto de Ferro e Aço de Pequim.
“Para o meu filho ter uma boa preparação para o exame, nos últimos dias ficamos hospedado num hotel perto daqui”, disse Yan, orgulhoso por oferecer ao filho um bom ambiente de estudos.
A maioria dos estudantes participando do gaokao deste ano nasceu em 1993 ou 1994. Os pais chineses sabem que, sem o diploma de universidade relativamente boa, será bastante difícil para os filhos terem um bom emprego no futuro. Por isso, a decisão de “investir” no gaokao.
Muitas vezes, a conta sai cara. Yang Jingtian, a mãe de uma aluna que fez o gaokao na Terceira Escola Secundária da cidade de Yantai, publicou na internet as despesas com a filha no ano da reta final:
- Aulas particulares: 100 yuan por hora para cada curso. A minha filha fez duas aulas cursos diferentes cada semana durante dez meses: 16 mil yuan
- Cursos de inverno e verão: 2.000 yuan
- Despesas com material: 3.000 yuan
- Comida nutritiva especial: 9.000 yuan
- Custo do hotel durante o período da prova: 320 yuan
- Total: 30.000 yuan (R$ 9.700)
Na teoria, os alunos chineses, sejam de uma grande metrópole ou de uma vila remota, pela primeira e única vez estão na mesma linha de partida para concorrer entre si. Por isso, o gaokao, realizado apenas uma vez por ano, é chamado muitas vezes de a prova mais justa na China. Contudo a realidade é outra.
No dia 1º de março, mais de 90 mil pais, na maioria trabalhadores migrantes que trazem os filhos para a cidade onde eles trabalham, publicaram a carta aos representantes do Congresso Nacional do Povo (Legislativo), pedindo para cancelar as restrições contra os alunos sem a residência permanente do local (hukou).
Segundo o Censo mais recente da China, de 2010, há 27 milhões de estudantes que migram para a cidade onde os pais trabalham. Mesmo que tenham estudado na cidade por vários anos, esses jovens têm de voltar à terra natal deles para fazer as provas, sem direito a aproveitar as políticas favoráveis aos alunos locais.
Segundo o professor Zhang Qianfa, da Faculdade de Direito da Universidade de Pequim, os alunos de Guangdong e Anhui, duas Províncias ao sul da China, têm apenas de 1% de probabilidade em comparação aos alunos de Pequim para entrar na Universidade de Pequim, uma das melhores do país.
Mal comparando, é como se um paraense morando em São Paulo tivesse de viajar até a sua cidade natal para fazer o vestibular para a USP. E, apesar do esforço, ver suas chances reduzidas a quase zero por não ser paulista.
Além da injustiça existente no sistema de gaokao, a vida pós-vestibular dos jovens está se tornando uma nova preocupação dos chineses.
De acordo com o jornal “Diário do Povo”, depois do gaokao, o tempo médio dedicado aos estudos baixa de 13 horas por dia para 1 hora. Alguns alunos começam a relaxar totalmente _navegam na internet, fazem festa a noite inteira ou até apelam a atividades bem extremas.
A televisão Shaoguan, uma cidade da província Guangdong da China, publicou um vídeo no seu weibo a versão chinesa de Twitter, mostrando os alunos da Quinta Escola de Shaoguan rasgando seus livros didáticos e lançando-os para o céu. Um internauta chamado Ho—Longshiqiang comentou sobre o vídeo: “Desde criança, estávamos forçados a estudar tanto. Agora que finalmente chega o momento de sair desse tipo de vida, por que não podemos ficar loucos por uma vez?”
O momento deste relaxamento completo terminará quando sair o resultado do gaokao, 15 dias depois do exame. A estimativa é de que 75% dos inscritos sejam aprovados. Ou seja, 2,3 milhões de alunos não terão a chance de receber educação universitária. Alguns entre eles provavelmente escolherão a fazer um curso na escola técnica, cujo diploma não ajudará tanto na hora de entrar no mercado de trabalho.
Mesmo para os que entram nas universidades, o diploma universitário não garante necessariamente um emprego. Segundo o Relatório de Emprego dos Estudantes Universitários da China, emitida pela Academia Chinesa de Ciências Sociais em junho, 570 mil universitários formados no ano passado, 9,3% de total, estão desempregados.
O gaokao, assim como o vestibular no Brasil, é um pesadelo mas também um passo necessário rumo a uma vida com mais desafios no futuro.
pergunta para os professores chineses se eles conhecem o deus da educação brasileira Paulo Freira. Vão descobrir o motivo do país ser um dos maiores produtores de conhecimento atualmente.
eh humor negro ?
Enquanto isso… minha empregada passou no vestibular! Teve que fazer uma redação de 30 linhas e, adivinhem: aprovada. O detalhe é que ela é semi-analfabeta. Mas tudo bem, para que serve ler e escrever. Ela só será engenheira.
Este é nosso Brasil e o sucateamento das “faculdades”.
Deixa eu ver se entendi: sua empregada passou num vestibular de engenharia (que todo mundo quer) com apenas uma redação. Sério? Isso está me parecendo mais é dor de cotovelo porque sua empregada está buscando uma vida melhor. Se foi tão fácil assim, fala a faculdade amigo, porque está difícil de engulir essa estória…
Angela: eh verdade, as faculdades particulares estao cacando a laco quem passar pela porta, eh so pagar a matricula e pronto !
ah se pagar direitinho as mensalidades todo mes, ai do professor de reprovar algum aluno, este estara na rua no dia seguinte !
Achei curiosos os dados estatísticos relacionando o número de desempregados ao de formados em universidades. Me pareceu que o articulista força uma leitura negativa sobre a situação chinesa. Mas… qual é a referência?
Isso demostram o grau de importancia que a sociedade ve na educacao ! muito parecido com o que ocorre no brasil !
Faltou explicar direito essa história de ter menos de 1% de chance de entrar na Universidade de Pequim.
Menos de 1% porque o desempenho desses estudantes é inferior? Porque há cota para alunos de fora?
Qual a chance de um aluno de Pequim?
Olá, Touro, um exemplo para lhe explicar melhor: em 2004, a Universidade de Pequim aceitou 309 alunos de Pequim, mas apenas 72 de alunos de Província de Henan.
A nota mínima para entrar em uma universidade depende de quantas pessoas cada província tem. Na China, a Província de Henan tem mais candidatos. Em 2011, Henan teve 855 mil candidatos enquanto que Pequim, a capital, teve 76.500. Como todo mundo quer entrar na universidade, a chance per capita na Província de Henan é bastante baixa.
Além disso, o conteúdo de prova não é universal na China. Existe a prova nacional I e a prova nacional II. Se uma província não concorda com o conteúdo destas duas, pode criar sua própria prova, com a mesma data. Normalmente, a Província com mais candidatos cria a prova mais difícil.
Espero que isso ajude a entender.
Um dia nossos professores meia-boca e fraquinhos e nossos alunos baderneiros e muitos noiados terão 5% da dedicação deste povo , neste dia veremos nosso país sair do obscurantismo e misticismo que tanto nos envergonha .
Aqui em Beijing era visível o clima de tensão de pais e filhos. Para quem mora aqui, era raro encontrar estudantes desta faixa etária passeando na rua a meses. A lei de silêncio incluiu também proibição de buzinas.
Mas depois da prova você também viu vários estudantes rumo ao karaoke com sorriso no rosto, não?
Claro. Estão todos de volta agora. Karaoke, shoppings lotados, fliperamas e fast-food agradecem.