O colonialismo inglês, a CIA e o tráfico de drogas no sudoeste chinês
22/06/12 14:49Por Eric Vanden Bussche, de Taipé (Taiwan)
Há duas semanas, a agência de notícias chinesa Xinhua publicou um artigo sobre a prisão de três traficantes e o confisco de aproximadamente 10 kg de drogas na fronteira da Província de Yunnan, no sudoeste do país, com Mianmar (ex-Birmânia). Notícias como essa não são novidade. Aliás, tais incidentes ocorrem com certa frequência nessa região montanhosa, coberta por densas florestas e habitada por uma diversidade de minorias étnicas. Há décadas, a fronteira entre a China e Mianmar serve como a principal porta de entrada para ópio, heroína e outras drogas no país. Trata-se, na verdade, de uma herança do colonialismo inglês e do combate da CIA ao comunismo na Ásia.
As dores de cabeça que essa região fronteiriça têm provocado nas autoridades chineses não são recentes. Desde os tempos imperiais, a geografia montanhosa, a malária e a força militar das tribos locais frustraram os esforços dos imperadores das dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1912) em estabelecer seu controle sobre a região, rica em pedras preciosas, madeira e minérios. Para ter acesso a esses recursos naturais e às rotas de comércio entre o império chinês e o Sudeste Asiático, as cortes Ming e Qing se viram forçadas a estabelecer alianças frágeis com os líderes das tribos locais que mandavam na região. Certas tribos cultivavam uma reputação que causava terror, entre elas a etnia wa, cujos membros eram conhecidos como “caçadores de cabeças” pelo hábito de utilizarem cabeças decapitadas em rituais.
Nem mesmo os ingleses, que incorporaram Mianmar (na época conhecida como Birmânia) ao seu império no final do século 19, conseguiram domesticar as tribos com suas incursões militares nas áreas fronteiriças com Yunnan. A partir da década de 1890, a resistência dos líderes tribais à entrada de expedições formadas por autoridades chinesas e britânicas em suas área de controle ocasionaram o fracasso das várias tentativas entre os governos de Londres e Pequim em demarcar a fronteira entre a Birmânia e a China. Não é por acaso que, até meados dos anos 1930, mapas dessa fronteira ainda continham vários espaços em branco.
A chegada dos ingleses, porém, transformou a região, tornando o tráfico de drogas num comércio rentável para as tribos locais. Os wa passaram de “caçadores de cabeças” a produtores de ópio, abastecendo o Sudeste Asiático e a China. Em meados da década de 30, o líder chinês Chiang Kai-shek passou a acusar os britânicos de se aliarem às tribos locais e se aproveitarem da porosidade da fronteira para cultivar e contrabandear o ópio, além de armas e outros produtos. Esse comércio rentável não ficou restrito apenas à fronteira de Yunnan, se alastrando por outras áreas do sudoeste chinês habitadas por etnias como yi e miao, principalmente nas Províncias de Guizhou e Sichuan. Não é exagero afirmar que, naquela época, a organização política, econômica e social dos povos étnicos no sudoeste passou a gravitar em torno da produção e comércio de ópio. Até o Partido Comunista chinês (PC) se beneficiou dessa atividade econômica ilícita na década de 40 para conseguir financiar suas campanhas militares e derrotar o exército de Chiang Kai-shek.
Com a ascensão de Mao Zedong ao poder, em 1949, porém, o governo chinês começou a promover campanhas de erradicação do ópio no país, principalmente na província de Yunnan. Além de querer livrar a China da dependência das drogas (que o PC enxergava como o fator responsável pela capitulação do império Qing às potências européias no século 19), essas iniciativas também refletiam uma estratégia política. Cortar pela raiz a principal atividade econômica das tribos no sudoeste facilitaria os esforços de Pequim em estabelecer seu poderio militar e instalar instituições administrativas na região.
Todavia, do outro lado da fronteira de Yunnan, no norte de Mianmar, o comércio de drogas adentrava uma época áurea, em parte graças à estratégia da CIA de combate ao comunismo no início dos anos 50.
Após a derrota para os comunistas, alguns batalhões do exército nacionalista de Chiang Kai-shek se refugiaram na região fronteiriça entre Yunnan e Mianmar, na esperança de reconquistar a China a partir de Yunnan. Essas tropas formaram alianças com as tribos locais e financiavam as suas atividades por meio do tráfico de drogas. Segundo o historiador Alfred McCoy, da Universidade de Wisconsin-Madison, a CIA providenciou aeronaves da Air America, uma de suas empresas de fachada, para transportar o ópio produzido em áreas na fronteira sob o controle das tropas leais a Chiang Kai-shek para o restante do Sudeste Asiático. Generais nacionalistas que na época contavam com o auxílio da CIA eventualmente acabaram abandonando a tarefa de reconquistar a China para se tornarem os chefes do tráfico na região, transformando Mianmar no segundo maior produtor de ópio e heroína do planeta. Por ironia do destino, no final dos anos 60, esses barões do tráfico passaram a abastecer heroína aos soldados norte-americanos no Vietnã.
A China conseguiu permanecer imune à expansão do tráfico na região durante um breve período, em parte graças à proibição do comércio na fronteira com Yunnan pela junta militar de Mianmar a partir de 1962. Todavia a assinatura do acordo de comércio entre ambos os países em agosto de 1988 abriu novamente as portas da fronteira aos traficantes.
Segundo a Xinhua, no ano passado a polícia em Yunnan apreendeu 13,5 toneladas de narcóticos, o maior confisco de drogas já registrado na Província, e prendeu 17 mil pessoas acusadas de tráficos. Mas isso não significa que o governo chinês esteja vencendo a guerra. As autoridades chinesas admitem que o tráfico em Yunnan continua em curva ascendente. E, segundo a Xinhua, a área para o cultivo de ópio em Mianmar também aumentou, de 31.700 hectares, em 2011, para 44.866 neste ano.
A China também teme que os esforços recentes do governo de Mianmar para colocar um ponto final nos conflitos étnicos no norte do país sirva para exacerbar o tráfico das drogas na fronteira com Yunnan. Segundo o Mizzimi News, nos últimos anos soldados do Exército, insatisfeitos com seus baixos salários, passaram a auxiliar grupos armados pró-independência que atuam no comércio de narcóticos. Nesse sentido, acordos de cessar-fogo permitiriam a esses militares ampliar a sua participação nas operações logísticas do tráfico.
O cessar-fogo com o United Wa State Army (Exército Unido do Estado Wa) é exemplar para ilustrar essa preocupação dos chineses. O acordo permitiu que os rebeldes expandissem os seus negócios nesse ramo, ao passar a contar com a participação de militares. Não é coincidência que um dos seus líderes, Wei Hsueh-kang, natural de Yunnan, se encontre na lista dos traficantes mais procurados pelos EUA. Sua atuação como um dos criminosos mais poderosos do Sudeste Asiático permitiu que ele diversificasse os seus negócios, atuando nos ramos de extração de jade, comunicações e construção civil. Uma reportagem no jornal italiano “La Stampa” o descreveu como “um traficante de drogas, um respeitado homem de negócios na China e chefe de um Exército de independência em Mianmar”.
A China ainda não conseguiu elaborar uma estratégia concreta para o combate às drogas. Seus esforços continuam dispersos. O governo ora constrói muros na fronteira para coibir a ação de traficantes ora aumenta o seu aparato policial em Yunnan. Parece que ainda levará tempo para que os chineses aprendam a lidar com o aumento do tráfico no país.
Eric Vanden Bussche é especialista em China moderna e contemporânea da Universidade Stanford (EUA). Possui mais de uma década de experiência na China. Foi professor visitante de relações Brasil-China na Universidade de Pequim e pesquisador do Instituto de História Moderna da Academia Sinica, em Taiwan. Suas áreas de pesquisa incluem nacionalismo, questões étnicas e delimitação de fronteiras da China. Sua coluna é publicada às sextas-feiras.
This American Life, ou TAL, é um fenômeno jornalístico da radio americana. É um programa semanal, transmitido por mais de 500 estações e ouvido por quase 2 milhões de pessoas nos Estados Unidos. Apresentado por Ira Glass, o TAL é também um campeão de downloads. A cada semana, 700 mil pessoas baixam o que passou no rádio.
Mas hoje o TAL está vivendo um momento de extremo embaraço. E a comunidade jornalística americana está em polvorosa diante de um tropeço antológico.
Um programa que teve uma imensa repercussão nacional e internacional foi substancialmente fabricado, como admitiu Glass no site do TAL. Nele, eram descritas as condições desumanas em que trabalham na China os funcionários das fábricas que produzem iPads para a Apple. O trabalho foi feito por Mike Daisey, um ator que se celebrizou com um monólogo sobre Steve Jobs.
Daisey passou uma semana na China para a empreitada. Isso é, praticamente, a única coisa sobre a qual não pairam dúvidas. Ele narrou coisas chocantes. Crianças trabalhando. Um funcionário cujas mãos se transformaram em garras inúteis pelo contacto com um tóxico presente na substância que limpa a tela do iPad. Vigilantes da empresa com armas, reprimindo os empregados.
Um momento.
Vigilantes com armas? Quando ouviu isso, um jornalista americano que vive na China desconfiou. Na China, só a polícia e os militares podem usar revólver.
Não era a única coisa esquisita, para quem vive na China. Daisey falava de integrantes de um “sindicato secreto” que se reuniam numa Starbucks para discutir questões trabalhistas. A Starbucks, na China, está muito acima das modestas possibilidades de operários.
O correspondente procurou a intérprete de Daisey. “Gostaria de dizer que foi um trabalho investigativo árduo, mas bastou um clique no Google”, disse ele. Encontrada a intérprete, o programa foi passado a ela para que o ouvisse.
Crianças trabalhando? Não. Vigilantes com revólveres? Não. Reuniões secretas sindicais na Starbucks? Não. E assim por diante. Daisey fez um relato não do que viu – mas do que gostaria de ter visto.
Diante dos fatos, ele confessou as fabricações. Numa defesa bizarra, disse que os valores no teatro são diferentes dos valores no jornalismo.
Só que o TAL é um programa jornalístico.
“A culpa no fim é nossa”, escreveu Glass no blog do programa. É verdade. A checagem foi frouxa.
Num momento em que a China caminha para ultrapassar os Estados Unidos, Daisey ajudou a disseminar a imagem de selvageria dos chineses que tanto agrada aos ocidentais, em geral, e aos americanos, particularmente. No rastro do sucesso da obra, ele foi convidado a escrever um artigo sobre sua experiência chinesa no New York Times.
Já ouviu falar e, pisa ?
São uma espécie de Copa do Mundo da educação. A cada três anos, desde 2000, alunos de dezenas de países fazem uma prova. São três os tópicos: compreensão de texto, matemática e ciências. Os estudantes devem ter 15 anos. Quem promove a competição é a OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Baseada na França, a OCDE é composta de 34 países, e sua missão, como o nome diz, é melhorar a vida das pessoas.
Nas primeiras edições do teste, a China não participou. Na última, sim. Não nacionalmente, mas por meio de algumas cidades.
O que aconteceu?
Xangai ficou em primeiro nas três categorias, para espanto dos responsáveis pelo teste. Outras cidades chinesas foram excepcionalmente bem, Hong Kong ficou em segundo.
Numa viagem pela China, os organizadores notaram uma coisa. Mesmo nos centros mais pobres, os prédios mais modernos são escolas. “No Ocidente, são shopping centers”, disse um alto funcionário da OCDE.
O desempenho do Brasil no Pisa tem melhorado, mas continuamos a parecer um aluno burro. Ficamos, da última vez, na 53.a colocação entre pouco mais de 60 países. Os medidores de avanço social do Brasil são simplesmente ridículos.
As Guerras do Ópio, no séxulo XIX. Nelas os ingleses impuseram aos chineses que aceitassem que o ópio produzido na Índia fosse comercializado livremente na China. Foi a maneira que os britânicos encontraram de equilibrar sua balança comercial com a China – da qual consumiam chá, seda e porcelana em altas quantidades. De quebra, os britânicos ainda ficaram com Hong Kong por mais de 100 anos e controlaram por muito tempo a principal fonte de receita da China – a alfândega.
qdo o assunto eh o podre dos paises ocidentais, alias, uma pequena ponta de iceberg, as acoes de trafico ocidentais no oriente foi muito mais ampla nos seculos passados;
nesse instante, os comentaristas de plantao desaparecem como um passe de magica !