A romaria dos governos estaduais à China
28/06/12 10:27Fabiano Maisonnave, de Pequim
Está cada vez mais frequente a visita de comitivas de Estados brasileiros à China em busca de investimentos. Nesta semana, Silval Barbosa (MT) foi o último de uma fila que, somente no primeiro semestre deste ano, incluiu Eduardo Campos (PE) e os vice-governadores do Pará e do Rio Grande do Sul.
As conversas envolvem projetos em áreas tão diversas como são diferentes os Estados. Com Pernambuco, o ponto alto foi um acordo preliminar para uma fábrica de caminhões, o mesmo objetivo do Rio Grande do Sul, que também quer dinheiro chinês para reformas portuárias. Já o Pará tenta atrair empresas de siderurgia e energia limpa.
No caso de Mato Grosso, o governador Barbosa, em conversa nesta quarta-feira (27), disse que os assuntos envolveram agronegócio, mineração e até turismo. É a sua segunda viagem ao país em pouco mais de um ano.
As negociações mais adiantadas se referem ao financiamento chinês de US$ 10 bilhões para uma ferrovia entre Cuiabá e Santarém (PA), que seria usada principalmente para escoar soja.
A logística tem sido um dos principais gargalos para a produção agrícola do Mato Grosso. O que não impede que China seja o maior parceiro comercial do Estado: quase 50% de sua soja exportada vem parar aqui.
Barbosa diz que são os chineses que vêm tomando a iniciativa. “[O contato] é mais por parte deles, os chineses estão avançando no mundo. Eles procuram. E não é uma missão só, não. Eu já recebi várias missões, de empresas diferentes. Eles estão prospectando negócios com muito apetite.”
O primeiro pé chinês em Mato Grosso será da gigante de energia State Grid. Recentemente, ganhou um leilão, em consórcio com a brasileira Copel, para implantar uma rede de transmissão entre Apiacás e o Estado vizinho de Goiás, um projeto de US$ 1,2 bilhão. As obras devem começar em breve, afirma o governador.
Por outro lado, o que mais barra o ímpeto chinês, diz Barbosa, é a dificuldade para entender a morosidade do sistema brasileiro. “A questão que eles falam sempre é a dificuldade da nossa legislação em relação a licenças ambientais, essas coisas. Aqui, você quer construir uma estrada, é rápido demais.”
Burocrático ou não, o fato é que o interesse chinês pelo Brasil ganhou um novo impulso nos últimos meses, com a avaliação de que seus principais parceiros econômicos (EUA, Europa e Japão) continuarão estagnados ainda por um bom tempo, com reflexos também no comércio.
Nos serviços consulares brasileiros na China, cresceu o número de solicitações em empresas chinesas interessadas em exibir produtos em feiras setoriais.
Essa aceleração comercial fica evidente nos dados da balança comercial chinesa, que mostram a crescente importância brasileira (e de outros países emergentes) para sua máquina exportadora.
As vendas para o Brasil cresceram 13,3% nos primeiros quatro meses deste ano, em comparação a 2011, segundo números oficiais chineses. Quase tudo, como se sabe, são produtos manufaturados.
Em contrapartida, as exportações para a União Europeia, maior parceiro comercial chinês, caíram 0,8% nos primeiros cinco meses em relação a 2011.
Com a crise atingindo com mais força o mundo rico e a intensificação dos contatos, o avanço chinês no Brasil tende a se acelerar e a se diversificar, abrindo a possibilidade de mais financiamentos para a infraestrutura, mas aumentando o desafio para a indústria nacional. Cabe ao país potencializar as oportunidades e minimizar os riscos.
Faltou falar da morosidade dos vistos… Empresários, estudantes e turistas chineses esperam ate três meses para conseguir um visto para o Brasil
Caro Jorge, não creio que isso seja verdade, sugiro que você passe um caso concreto de pessoa que demorou 3 meses para conseguir visto. Pelo contrário, o número de vistos concedidos a chineses têm crescido exponencialmente, os dados são públicos, acho que você está mal informado.