As "cidades de chocolate" e o racismo na China
06/07/12 08:32
Por Eric Vanden Bussche, de Wuhan (China)
Em meados do mês passado, o nigeriano Celestine Elebechi se envolveu numa discussão acalorada com um motorista chinês em Guangzhou, no sul da China. Uma multidão se aglomerou em torno deles e, segundo relatos nas mídias sociais, alguns que assistiam ao bate-boca passaram a agredir fisicamente o nigeriano.
Policiais resolveram intervir e levaram-no para a delegacia, onde algumas horas depois Elebechi viria a, “de repente, perder a consciência” e morrer, de acordo com um comunicado emitido pelas autoridades locais. A sua morte serviu de estopim para uma manifestação reunindo centenas de africanos que protestavam contra a discriminação racial na metrópole chinesa.
Esse episódio expôs as frágeis relações raciais no país, em especial em Guangzhou, onde se estima que haja por volta de 100 mil africanos, a maioria concentrada em distritos apelidados pelos chineses de “cidades de chocolate”. Muitos africanos radicados na China reclamam que são ignorados por vendedores em lojas, enfrentam dificuldades em arrumar taxis na rua e frequentemente ouvem gozações a respeito da cor de sua pele.
O racismo continua sendo tabu, um tema que as autoridades preferem ignorar para não atrapalhar os seus interesses político-econômicos na África como também para mostrar que a China é um país pluralista, onde várias etnias e raças convivem em harmonia. No final dos anos 80, o então chefe do Partido Comunista chinês (PC), Zhao Ziyang, afirmava com orgulho que a discriminação racial existia “em todos os lugares do mundo, exceto na China”. Essa visão persiste entre os chineses até hoje, talvez pela ausência de uma discussão séria no país sobre relações raciais.
O acadêmico Frank Dikotter mostra que, na história da China, raça sempre esteve associada à classe social. Na época imperial, os “intelectuais de rosto branco” (baimian shusheng) encarnavam o ideal de beleza masculina, enquanto os camponeses eram identificados pela pele escura. Com a chegada dos europeus e de seu “racismo científico” no século 19, os chineses passaram a enxergar a geopolítica internacional a partir de uma hierarquia racial, na qual as nações europeias seriam os bastiões do progresso. Por sua vez, a África, povoada por negros “preguiçosos e intelectualmente inferiores”, era caracterizada como a terra do atraso, incapaz de qualquer tipo de desenvolvimento.
A revolução comunista de 1949, porém, tratou de enterrar essa visão geopolítica e erradicar a associação entre raça e classe social. O universalismo da era maoísta considerava a África, a América do Sul e o Sudeste Asiático como um terreno fértil para o fervor revolucionário. Mas, com a morte de Mao Zedong e a abertura econômica do final dos anos 70, as velhas ideias sobre raça e status social ganharam força novamente. Pele branca voltou a ser sinônimo de beleza. E africanos passaram novamente a serem vistos com desconfiança.
Essa mudança pôde ser observada de forma mais nítida no âmbito universitário. As faculdades se transformaram em palco de conflitos entre chineses e africanos em Xangai, Tianjin, Hangzhou e até Pequim. No início de julho de 1979, violentos confrontos entre estudantes chineses e africanos numa universidade de Xangai deixaram 24 chineses e 50 estrangeiros feridos, entre os quais 16 precisaram ser hospitalizados. Os chineses reclamaram que não conseguiam se preparar para os seus exames por causa do barulho no dormitório dos africanos. Estes, por sua vez, se sentiram ofendidos por serem chamados de “diabos negros” (heigui). Durante dois dias, alunos chineses sitiaram e apedrejaram o dormitório. Os ânimos estavam tão acirrados que foi preciso a intervenção do vice-premiê Fang Yi para que os estudantes chineses voltarem às salas de aula.
Na década de 80, incidentes semelhantes ocorreram em outras universidades espalhadas pelo país. Em 1988, por exemplo, estudantes africanos na Universidade de Agricultura de Zhejiang em Hangzhou realizaram um boicote às aulas, enfurecidos com um rumor que circulava pelo campus de que eram todos portadores do vírus HIV. Temendo que o rumor fosse verdadeiro, os administradores da universidade haviam inclusive proibido a entrada de chineses no dormitório dos africanos.
Nem mesmo o estreitamento dos laços entre a China e a África serviu para mudar a visão estereotipada dos chineses em relação aos africanos. Muitas empresas chinesas na África preferem importar a mão-de-obra de seu país ao invés de utilizar braços locais.
Aliás, alguns chineses se preocupam com os efeitos colaterais dessa relação entre o seu país e o continente africano. Nos últimos anos, ouvi repetidas vezes chineses associarem índices de criminalidade em centros urbanos à crescente presença de africanos. “Há mais crimes violentos nos EUA do que na China porque lá há mais negros do que aqui, por isso precisamos controlar a entrada de africanos aqui”, me disse um jornalista chinês. Quando lhe perguntei se não achava seus comentários racistas, ele logo respondeu: “É um fato que negros não têm cultura (meiyou wenhua) e são mais propensos a cometerem crimes”. Para reforçar o seu argumento, ele citou os quase 6.000 nigerianos que se encontram presos na China, a maioria por tráfico de drogas.
Nos últimos anos, porém, alguns episódios estimularam discussões mais amplas sobre relações raciais. Em 2009, a estudante universitária Lou Jing, filha de uma chinesa e um negro norte-americano, provocou um debate sobre o racismo na imprensa nacional ao se classificar para um concurso de canto numa rede de televisão de Xangai. Insultos proliferaram nas redes sociais. “A mistura das raças amarela e negra é muito nojenta,” escreveu um usuário. “Nós, chineses, não queremos ver um pedaço de merda cantando na televisão,” escreveu outro.
Lou Jing, que foi criada em Xangai e sempre se considerou chinesa, expressou a sua mágoa, enfatizando que a repercussão de sua participação no concurso a levou a questionar a sua própria identidade e seu objetivo profissional. “Desde que apareci na televisão, percebi que eu talvez não sirva para ser uma apresentadora de televisão. Muitos acreditam que uma apresentadora de televisão precisa ter pele branca, nariz alto e olhos grandes.”
Apesar dos insultos destilados nas mídias sociais contra Lou Jing, pela primeira vez houve um esforço por parte de formadores de opinião na imprensa nacional em mudar a tônica do debate. Raymond Zhou, Hung Huang e outros colunistas criticaram a posição racista dos seus conterrâneos e elogiaram Lou Jing. Zhou argumentou que a China apenas se tornaria uma verdadeira potência global se os chineses aprenderem a demonstrar maior sensibilidade no convívio com pessoas de diferentes raças. Hung Huang expressou um sentimento semelhante em seu blog: “Nós admiramos raças que são mais brancas do que nós. Esse é um mal profundamente enraizado entre nós.”
Embora essas vozes dissonantes marquem um começo positivo na tentativa de mudar atitudes, a China ainda tem um longo caminho a percorrer.
Eric Vanden Bussche é especialista em China moderna e contemporânea da Universidade Stanford (EUA). Possui mais de uma década de experiência na China. Foi professor visitante de relações Brasil-China na Universidade de Pequim e pesquisador do Instituto de História Moderna da Academia Sinica, em Taiwan. Suas áreas de pesquisa incluem nacionalismo, questões étnicas e delimitação de fronteiras da China. Sua coluna é publicada às sextas-feiras.
Nossa pessoal!! Que bagunça!! Começamos com o comportamento dos chineses em relação aos negros que vivem (ou nascem) na China e terminamos discutindo racismo versus choque cultural versus preferência estética… Até perdi o “fio da meada”.
Prefiro pensar que o ser humano tem o direito de não gostar de outro ser humano independente da cor, raça, estética, cultura e por aí vai. Isso pode levar a conflitos com certeza dependendo do tamanho das comunidades envolvidas. Se eu não gosto do meu vizinho, o problema é meu e dele! Se um país resolve perseguir/matar toda uma comunidade de outra religião, este pode se tornar um problema mundial dependendo dos interesses envolvidos e SÓ dos interesses envolvidos…. Portanto, uma coisa é vc dizer que japoneses gostam mais de loiras, alemães gostam das nossas mulatas e por aí vai. Mas dizer que chineses não gostam de negros, aí é mais complicado… A cultura de um povo é herdada e ela influencia a noção do que é belo e educado.
Lamentavelmente, os nigerianos estão, em grande parte, envolvidos com tráfico de drogas. Aqui em São Paulo, por exemplo, não precisa ser muito esperto para percebe-los no “corre” nos becos e esquinas do centro da cidade. Com base nesse dado, não duvido que façam o mesmo em Guangzhou e não se pode dizer que constatar isso seja racismo. Eu não diria isso por exemplo da colônia boliviana de São Paulo, gente pobre, tangida pela miséria em seu país e sempre envolvida em trabalho duro.
Também acho que é preciso ir devagar com as generalizações e acusações. O racismo está em todo lugar. Na própria África tive amigos discriminados por serem brancos.
Também é preciso enxergar a situação em perspectiva. Nem sempre o racismo é uma falha incontornável de caráter. Às vezes é fruto de um choque cultural sim! Claro que existem pessoas como o tal Senhor Honesto que são racista de fato!
atirar pedras em vidracas alheias eh facil !
dificil eh se olhar no espelho !
isso qualquer um deveria saber, mesmo nao sendo nenhum especialista !
Nao gostaria de julgar os fatos, somente constatar fatos e que cada um tire a sua propria opiniao.
Sobre as empresas chinesas em solo africano que contratam chineses em vez de africanos: Morei em Angola e posso afirmar que pior trabalhador que o Angolano nao existe, e pelas informacoes que tive, em outras nacoes africanas nao era muito diferente. Eles tem mais direito que o trabalhador brasileiro. Apos contrata-los eh praticamente impossivel demiti-los, pior que funcionario publico no Brasil. Eles faltam constantemente (tinha dias que apenas 1/3 dos empregados vinha trabalhar), roubam descaradamente (infelizmente faz parte da cultura africana), e nao fazem o trabalho direito. A unica opcao é contar com empregados extrangeiros.
Sobre o trafico de drogas: Morei em Beijing e tambem posso afirmar que 99% dos traficantes eram negros, em sua maior parte nigerianos. Isso nao significa, porém,que a maioria dos negros sejam traficantes, uma pequena parte apenas, mas que representam a maioria dos traficantes na China, apesar de serem minoria.
Prezado Andrei,
Gostaria de esclarecer os traficantes de drogas na China são, em sua maioria, chineses ou descendentes de chineses radicados no sudeste asiático (Escrevi um artigo sobre o assunto há duas semanas para este blog). Há traficantes africanos em Pequim e em outras cidades chineses. Mas quero ressaltar que nas prisões chinesas também há norte-americanos, europeus e cidadãos de ex-Repúblicas soviéticas cumprido penas por tráfico de drogas.
Boa Tarde Erik,
Me referi aos traficantes de drogas de ruas em Beijing, aqueles que vendem ao consumidor final, e não aos distribuidores/”atacadistas”. Claro que a visão que tive foi apenas parcial, de um extrangeiro que freqüentava lugares mais populares entre os extrangeiros. Acredito que o tráfico de drogas para os não extrangeiros seja mais comumente feita pelos próprio chineses.
Nao tenho dúvidas que há extrangeiros de todas as nacionalidade condenados por tráfico de drogas em prisões Chinesas, mas o mais interessante seria saber os números e comparar a populacao de imigrantes de cada país, que vive na China. Saberias dizer se existem números nesse sentido?
eric, no brasil, qual nacionalidade eh a maioria dos traficantes presos e atuantes ? a brasileira, eh logico !
Interessante as informações sobre os direitos trabalhistas africanos e sobre a conduta desses trabalhadores (na qual não estou surpreso).
andrei, nao precisa ir ate a africa, aqui mesmo em certas regioes do brasil, isso tb acontece ! fui implantar um projeto de infraestrutura, que demorou 3 vezes mais que na regiao onde moro; nao quero mencionar detalhes para nao ser acusado de racista !
eh moda hj em dia acusar outros de racista e politicamente correto tb, personagem a qual eu nao me vesto, mas apenas relato fatos !
alias, cade o direito de se opinar e de se manifestar ? qdo discorda, nao pode ?
Tem mais negros na cadeira. Sim. Vamos ver além dos fatos feitos. Quem é preso? Quem é pobre e preto. Os criminosos ricos e brancos, os criminosos de colarinho branco são presos? Dificilmente, a não ser para fazer espetáculo na mídia, apesar de serem crimes mais danosos e menos justificáveis por uma vulnerabilidade economica. São os crimes mais canalhas.
Haver mais criminosos de uma determinada etnia do que de outra não quer dizer nada em si mesmo. É algo a ser interpretado e a interpretação mais aceitável e científica para mim é que determinadas etnias por serem marginalizadas, discriminadas historicamente, ou ainda pela possibilidade de não possuírem valores e hábitos culturais compatíveis com a mão de obra necessária ao capitalismo globalizado, podem não se adaptar à essa sociedade “receptiva” (rs), “justa” (rsrsrs), “não-corrupta” (rsrs) “meritocrática” (kkkk), individualista, e então adotar condutas consideradas anti-sociais pela maioria (que afinal é conivente com toda a imoralidade enquanto norma social, ou alguém acha que não é conivente com uma sociedade que deixa crianças, mendigos, velhos abandonados nas ruas sem futuro, que faz vista grossa em relação às mulheres violentadas e assassinadas, que elege a corrupção como a norma do sistema político, que possui uma mídia que idiotiza as pessoas …). Somos responsáveis coletivamente por essa sociedade doente, e só vamos mudá-la coletivamente.
Olá Tuca.. muito boa a colocação! Uma pena que muitos acham mais importante colocar a culpa no outro ou numa etnia sem analisar a raíz do problema.
O Mitridates é racista … Deu pra ver tudo… Ele tenta encontrar um lógica para a rejeição aos negros como se fosse uma coisa “natural”… Esse tal de “politicamente incorreto…”
Concordo em grau e gênero!
Gente, vocês demonstraram ser educados, sabem que o estético é cultural e não natural. Massa. Agora parem com essas acusações, já deu para ver que o comentário do colega tem conteúdo racista, assim como tem outros conteúdos mais interessantes também. Não vamos fechar e ofender as pessoas por causa de uma bola fora, todos estamos em construção.
Fechar uma pessoa num rótulo por algo que ela fez ou disse e não nos agradou tem a mesmíssima lógica do racismo.
Racismo existe em qualquer parte do mundo, no brasil inclusive, outro dia, perto da praca da se, em sp, um amigo chines recebeu ameaca de um flanelinha, queria 10 reais, mesmo com folha de zona azul; chamou um pm que estava perto, recebeu um sorrisso ironico: “chinas sao ricos …”.
E para lembrar os de memorina fraca, um chines morreu na polinter no rio anos atras, preso ao embarcar para EEUU com 30 mil dolares, ah, morreu “suicidando” …
Nosso amigo “Mitridates” entende de “apreciação estética”… Na Nigéria se fala alto, como Italianos também gritam nas cantinas. Na verdade choque cultural se resolve de forma civilizada se aprendendo a conviver e aceitar o outro. Sobre a “apreciação estética” é interessante ver tarados europeus assediarem meninas adolescentes no nordeste, quase sempre negras. Racismo não tem lógica… (E VOCÊ MITRIADES QUER UMA…)
Não importa o lugar no mundo: sempre são os mesmos que geram confusão. Coincidência, não?
Quando os portugueses mataram milhões de índios e roubaram suas terras no Brasil, quem foi que “gerou” a confusão?
Quando inglese e holandeses roubaram diamantes na África do Sul e Índia quem foi que “gerou” confusão?
Meu nome é Álamo Bandeira, agora seja homem de pelo menos assinar seu comentário racista.
Coincidência não, racismo sim!
Como chinesa, posso afirmar que os chineses vëm com desconfiança a presença dos negros. Tanto que a mídia denuncia casos de estupro realizado pelos africanos na China. Já presenciei uma vez na rua, em Guangzhou um africano “passando a mão”numa chinesa, esse tipo de comportamento só causa mais tensão para ambas partes.
Procurei no google a foto de Lou Jing,
bonita mulher. O racismo é uma m….
Na Universidade de Brasília (UnB) em 2006 houve uma confusão entre estudantes brasileiros e africanos, justamente por conta do barulho que os últimos promovem nos alojamentos estudantis. Chegavam ao cúmulo de repetir a mesma por horas a fio! A ausência do corpo assistencial da universidade, transformou um conflitos de matiz cultural em manchetes de jornal por todo o país, dado que os brasileiros atearam fogo na porta de um apartamento!
Zhao Ziyang estava enganado. O único lugar do mundo onde não existe nenhum tipo de preconceito racial, cultural e sexual é o Brasil…
nao existe ? ah ah ah, nao existe pouco !
Com certeza não existe pouco!
citei o local como brasil joana !
Sim! E eu concordo…
Também não sou especialista em China e Africa, mas antes de considerarmos esses conflitos como racismo, precisamos analisar essas populaçõs ao longo da história: são civilizações muito antigas, já passaram por inúmeras situações de sofrimento e exporações, têm culturas muito específicas e diferentes. E é claro que com o processo de globalização essas diferenças serão cada vez mais evidentes e muito difíceis de serem superadas. Nem toda população aceita que sua cultura seja modificada.
Vivo em Guangzhou há 3 anos. Racismo sim, Mitridates. Vá à rua xiaobei lu(rua onde os africanos comerciantes moram e se reunem) e veja como os negros são tratados pelos chineses. Veja quantos carros de polícia há lá e compare com os condomínios para estrangeiros em Zhujiangxincheng(bairro dos ex-patriados). Já eu, branco, onde estiver sou tratado muito bem! Na universidade que trabalho tenho amizade próxima com muitos angolanos. REalmente, pegar táxi com eles é sempre mais difícil. Ser atendido em restaurante, sempre chato. Por exemplo, os chineses tem o irritantantíssimo hábito de se chocar, esbarrar e se baterem sem sequer se olharem para pedir desculpa quando andam na rua. Mas quando é um negro andando é IMPRESSIONANTE como desviam com ar de nojo, quantas vezes já ouvi heiren hen chou (negro fedido). A verdade é que os negros, junto com os muçulmanos, representam uma importante fonte de renda para a cidade, por isso, querendo ou não, têm de aceitá-los, pois eles fazem a economia dos pequenos e médios empresários rodar… Nao se trata de padrão de beleza ou não…
Tire o seu racismo do caminho, que eu quero passar com a minha cor. ( Georges Najjar Jr )
O artigo mostra que não basta ser “especialista em China” para entender o que se passa por lá. No caso em apreço, seria necessário também ser “especialista na Nigéria”. Conheço bem este país (não me arrogo ser “especialista”) e sei que o esporte nacional na Nigéria é o bate-boca de trânsito. Presenciei várias vezes discussões infinitas, que podem durar meia-hora, quarenta minutos, uma hora, em tom altíssimo, com profusa gesticulação, sem que jamais recorram às vias de fato. Batem boca por qualquer motivo. Sempre comentei com amigos brasileiros, admirado: “se fosse no Brasil, em dois minutos um já estaria morto”. Outra coisa: nigeriano é barulhento, fala alto e ri alto, não importa a hora. Portanto, os casos do nigeriano discutindo com um motorista em Guangzhou e dos estudantes nigerianos em Xangai são prova de um choque cultural antes que de um suposto “racismo chinês”. Na China e no Japão observei que a mulher de pele mais clara e olhos menos puxados é o padrão de beleza nos comerciais. Racismo? Não. Pura apreciação estética. Compartilho esse gosto (racista, eu?). Igualmente, na Nigéria, as negras mais claras (há muitas, de raízes profundas, sem miscigenação com o colonizador) são as preferidas pelos homens. Perguntei a vários nigerianos negros retintos o que achavam disso. Concordavam, sem qualquer complexo, que as negras mais claras eram mais “bonitas”. Auto-racismo? Claro que não. Temos de ir devagar com essas conclusões. “Redes sociais” seriam prova de racismo na China? Cito o exemplo da bela adolescente negra americana que teve a idéia de postar um vídeo perguntando se era bonita. Se espalhou como vírus. Muitas das respostas: “ur black ofc ur ugly”. O anonimato das redes sociais propicia o abuso. Eu próprio faço meu “mea culpa” nesse quesito. Agora, o artigo dá uma informação objetiva que eu desconhecia sobre a China: só na cidade de Guangzhou há cem mil africanos! Racismo? Esse dado aponta na direção contrária.
Na minha opinião, este comentário é bastante oportuno, bem matemático, quer dizer, envolve a opinião dos africanos sobre si e sua cultura. De fato, são muito barulhentos e informais. Tendo visitado e morado em outros países, e sendo afro-descendente, observei que os comerciantes chineses no exterior são bem receptivos a todas as raças e culturas – principalmente nos restaurantes, que estão sempre cheios. Isto não ocorre tanto com os japoneses e coreanos, fora de suas pátrias. Cito ainda que um irmão de Obama é um rico empresário casado há anos com uma chinesa, em Guangzhou (Cantão).
Pertinente seu comentário a respeito do choque cultural, mas infeliz no que ignora o racismo em troca do que define como preferência estética. Penso que não só é desnecessário ser especialista em China como especilista em Nigéria para entender quando o assunto é racismo, em especial no Brasil onde se vive em constante negação (racista, eu?) quando todos os fatos apontam na direção inversa. Pela mesma razão da China, afinal de contas. A inclusão de guetos raciais não indica de forma alguma que o país esteja mais aberto a aceitação de outras raças – pelo contrário, aceita a mão de obra mas faz toda a questão de segregar, dar “apelidos” e ser hostil (e isso inclui ignorar) com a presença de pessoas de outra origem étnica. Quando a “preferência estética” favorece traços exclusivos de um determinado grupo, como pode isso não ser racismo? Ou talvez acredite que ser racista se resume a agressões abertas e não a ideologias sutis que pregam a superioridade de uma característica sobre outra?
E por fim, é possível passar décadas inteiras imerso numa cultura e ainda assim apenas reforçar preconceitos e não compreensão.
O seu comentário foi regado de racismo, sinto informar! Nada justifica a morte do Africano, nem sua cultura ou seus hábitos. Padrão de beleza? (racista “eu”? ) padrão de beleza é o que a mídia vende! Sinto informar que a sua única especialidade é tentar camuflar o racismo existente claramente informado no artigo e não é necessário ser nenhum especialista para tirar as próprias conclusões.