A pátria em medalhas
01/08/12 12:00Fabiano Maisonnave, de Pequim
Acompanhar os Jogos desde Pequim tem sido uma chatice _se você não for um dos milhões de chineses fascinados com seus atletas.
A chuva de medalhas tem recebido uma cobertura pra lá de patriótica da CCTV, a emissora estatal detentora do direitos de transmissão.
É certo que, em muitos países com mania de grandeza, e o Brasil certamente não está fora, a adrenalina ufanista dispara em tempos olimpícos. Mas aqui o loop de imagens em formato de notícias e replays foca apenas nos, até agora, 13 chineses de ouro. Prata e bronze praticamente não têm espaço. Os dramas da derrota, realidade da maioria dos atletas de qualquer país, são uma nota de rodapé.
Alguma coisa deve estar errada quando já reconheço Yi Siling, vencedora de carabina de ar 10 metros, uma dessas modalidades que quase ninguém sabe que existe.
O que se passa fora do universo dos atletas chineses praticamente não existe. A incrível derrota da Espanha para Honduras no futebol foi contada em segundos _a única imagem que apareceu foi a de um chute errado do lado espanhol. E isso que são dois canais transmitindo 24 horas.
A patriotada continua nos intervalos comerciais: as mesmas imagens de chineses celebrando o ouro (prata e bronze não contam) ressurgem, agora em câmera lenta, ao som da chata e mais do que batida “We are the Champions”. Culpa da Anta, a fornecedora oficial de material esportivo.
A minha impressão é que, ainda embalados pela memória das Olimpíadas de Pequim, os chineses estão celebrando o festival de medalhas como a retomada da mesma festa ufanista de quatro anos atrás.
Formou-se também uma espécie de união nacional em torno da nadadora prodígio Shiwen Ye, 16. Nas redes sociais, centenas de milhares de comentários defenderam a performance da nova recordista mundial, muitos afirmando que as insinuações de doping eram “anti-China”.
A origem de todo esse ouro é a o aparato estatal, que repete os modelos soviético e cubano, identificando e recrutando crianças que acabam de deixar de engatinhar. Mas também há incentivos pecuniários: o lugar mais alto do pódio rende uma premiação de até R$ 321,5 mil. Capitalismo de Estado.
O sucesso no palco mundial das Olimpíadas só fazem aumentar a assertividade chinesa diante do mundo, apesar da famosa doutrina de Deng Xiaoping pela qual se deve “manter o perfil baixo e nunca liderar” em assuntos externos.
O editorial do jornal estatal “Global Times” desta terça-feira diz que os “Jogos Olímpicos são um evento cíclico no Ocidente. Mas, para os chineses, é um lugar para se comparar com o mundo”. Se o quadro de medalhas for realmente o espelho do planeta, o Narciso chinês se vê muito bonito.
Lucas;
Não acho que a reportagem seja expressamente racista.
Entretanto, pelo fato de a China adotar outro sistema econômico, há no artigo um certo ranço de inveja e incredulidade pelo feito chinês.
Pela a análise rancorosa e imparcial da reportagem, só há duas conclusões possíveis:
Se os USA terminarem na frente do quadro de medalhas, será a vitória de superatletas graças a disciplina, ao treinamento e à livre iniciativa.
Por outro lado, se a nação socialista tiver êxito, será graças ao recrutamento de crianças, aparato estatal, incentivo pecuniário e histeria ufanista.
Cientes da ignorância característica do público geral, não me causará espanto se incluirem na lista de recursos ilícitos utilizados pelo povo chines: o dopping, o assassinato de ursos panda e a mortandade de bebês-foca…
Lamentavelmente, para a imprensa capitalista e seus correspondentes, a guerra fria ainda não acabou…
Na matéria não há nenhuma menção aos Estados Unidos, mas você lé um analise sobre a forma em que a China olha o esporte e de imediato faz uma comparação com os Estados Unidos.
Nação socialista? a China atual? Bem parece que é você quem ainda acha que a guerra fria ainda não acabou.
Querida;
A comparação entre com as conquistas norte-ameriacnas e chinesas não se faz diretamente nesta “reportagem”, mas na imprensa em geral (pelo menos na ocidental)
Compare o teor das reportagens quando se referem a uma nação ou a outra.
Nesse artigo, por exemplo, fica claro a intenção do correspondente em associar os bons resultados dos atletas chineses à práticas estatais escusas. (artifício muito utilizado nos tempos de domínio olímpico soviético – sim, durante a guerra fria!)
Se a constante depreciação das conquistas chinesas realizada sistematicamente pela mídia ocidental não se dá pelo fato de a nação ser políticamente socialista (como vc mesmo afirma), seria por qual motivo então? Racismo???
Daí começamos a concordar com o Lucas.
Abraço.
A comparação não se faz direta nem indiretamente neste reportagem, e este não é um analise sobre a “imprensa em geral”.
Não fica claro a intenção do correspondente em associar os bons resultados dos atletas chineses a práticas estatais, ele claramente afirma “A origem de todo esse ouro é a o aparato estatal, que repete os modelos soviético e cubano, identificando e recrutando crianças que acabam de deixar de engatinhar. Mas também há incentivos pecuniários: o lugar mais alto do pódio rende uma premiação de até R$ 321,5 mil. Capitalismo de Estado”.
Ele não deprecia as conquistas chinesas, fala sobre como se produzem, e se você tem um explicação diferente, explica, mas é bobagem falar de racismo o anti socialismo só porque o autor tem uma opinião distinta a sua. Os foros têm que ser para discutir argumentos, não para limitar os debates a “nobre nação socialista” vs. “a malvada imprensa ocidental”.
Parabéns!
Você citou exatamente o trecho do texto que corrobora com tudo o que eu disse até então.
“A origem de todo esse ouro é a o aparato estatal, que repete os modelos soviético e cubano, identificando e recrutando crianças que acabam de deixar de engatinhar”
Que coisa retrô não? não lembra aqueles comunistas perversos que comiam criancinhas nos anos 70 ???
Só não se esqueça que o pior cego é aquele que não quer ver!
E a imprensa ocidental não é malvada só é enrustida!
Não quer adimitir que se encontra em plena guerra fria, pois ficaria politicamente incorreto e dói….ah como dói…ver a China na frente do quadro de medalhas !!!
Remoam-se à vontade! a inveja é toda de vcs!
Ye – Shiwen é o sobrenome – chocou o mundo da natação ao ganhar espetacularmente a prova de 400 metros medley – em diferentes estilos. O choque veio primeiro porque ela quebrou o recorde mundial com folga. Depois, porque nos últimos cinquenta metros, no meio da etapa livre, ela foi mais rápida que o nadador que venceu a prova masculina.
E finalmente porque uma onda de maledicência se ergueu em torno do feito de Ye, partida – claro – dos americanos. “Impossível”, disse ao jornal Guardian o técnico da equipe de natação dos Estados Unidos. A imprensa internacional imediatamente repercutiu. Ele disse que o resultado de Ye remetia aos feitos sensacionais das alemãs orientais – dopadas – nos anos 1970 e 1980.
Mas logo ficou claro que as insinuações eram uma mistura de leviandade, inveja e dor de cotovelo. Ye, anunciou o chefe do Comitê Olímpico Britânico, está “limpa”. Foi submetida, como todos os demais nadadores, a múltiplos testes. “Ela merece reconhecimento pelo seu talento”, disse ele.
Na mídia social, os internautas também se ergueram em defesa de Ye. Escreveu alguém para o dirigente americano: “Se você tem provas, fale. Se não tem, fique calado.”
Se a recordista fosse americana ou britânica, alguém estaria falando alguma coisa?
Um dirigente chinês lembrou que em 2008, em Beijing, o americano Michael Phelps ganhou oito medalhas de ouro sem que ninguém levantasse dúvidas quanto à lisura de seu feito.
Materia preconceituosa e racista !
Medite e reflite ao seu travesseiro a noite !
Lucas, racista é uma palavra muito forte. Você pode explicar onde está o racismo no texto?
O proprio texto da materia diz tudo;
so para exemplificar:
“…o espelho do planeta, o Narciso chinês se vê muito bonito.”
Caro Lucas, o título da matéria é um trocadilho com um termo do escritor brasileiro Nelson Rodrigues, a pátria em chuteiras. É uma expressão que define bem a obsessão brasileira com o futebol. Eu tive impressão semelhante do público chinês, de uma exarcebada importância sobre o desempenho dos esportistas do país durante as Olimpíadas. Qual é o racismo?
Quanto à segunda ilação, não sei por que dizer a China está orgulhosa do desempenho do país é racismo.
“Acompanhar os Jogos desde Pequim tem sido uma chatice _se você … chineses fascinados com seus atletas. A chuva de medalhas….”
A chatice soa como bombas aos ouvidos de quem tem aversao a tudo que ocorre na China, inclusive nas coisas boas. Qual chines nao ficaria fascinado ? Tudo esse barulho eh natural e saudavel !
ou os brasileiros nao gostariam de ouvir esses chatices ???!!!
Tenha mais respeito aos demais povos ! mesmo sendo o chines !
Não tenho aversão nem a bajulação a tudo o que ocorre na China. Acho que você não deveria tomar toda crítica ao seu país como ofensa pessoal nem achar que pode falar em nome de 1,35 bilhão de chineses.
Muitos chineses, aliás, já começaram a reclamar que a cobertura fixada nas medalhas de ouro não valoriza atletas que conquistaram prata ou bronze. O próprio Global Times publicou uma reportagem sobre isso. O Global Times, você sabe, é escrito por chineses e pertence ao Partido Comunista, assim como internautas. Aqui está: http://www.globaltimes.cn/content/724289.shtml.
O Nelson Rodrigues, que criou o termo pátria em chuteiras, também afirmou que toda unanimidade é burra. A China, que ótimo, não é assim.
Nao me convenceu, nem aos meus amigos daqui da Liberdade-SP.
Fabiano, boa citação do Deng Xiaoping. Juntando a sabedoria chinesa com a brasileira, mutatis mutandis, “não cutuque o tigre com vara curta”!
Nao existe Estado que nāo explore o nacionalismo como forma de reforçar a identidade do país e a sua supremacia até mesmo racial. O povo gosta de vencer sejam jogos de futebol, sejam jogos olimpicos seja a guerra. Estados fortes a direita ou a esquerda, ainda mais. Começando pela Alemanha nazista em 1936. Os americanos sempre fizeram as duas coisas. Esperamos que os chineses se contentem apenas com os jogos olímpicos.
Essa polêmica repercurtiu na imprensa chinesa ?
“Fenômeno ou Dopada”
Ye Shiwen, chinesa de 16 anos,
bateu o recorde mundial dos 400m medley com tempo nos últimos 50 metros mais baixo do que Ryan Lochte,
vencedor da prova masculina.
Houve uma enorme defesa dela nas redes sociais, Adriano.
Ficou claro que as insinuações eram uma mistura de leviandade, inveja e dor de cotovelo. Ye, anunciou o chefe do Comitê Olímpico Britânico, está “limpa”. Foi submetida, como todos os demais nadadores, a múltiplos testes. “Ela merece reconhecimento pelo seu talento”, disse ele. Na mídia social chinesa, os internautas também se ergueram em defesa de Ye. Escreveu alguém para o dirigente americano: “Se você tem provas, fale. Se não tem, fique calado.” Se a recordista fosse americana ou britânica, alguém estaria falando alguma coisa? Um dirigente chinês lembrou que em 2008, em Beijing, o americano Michael Phelps ganhou oito medalhas de ouro sem que ninguém levantasse dúvidas quanto à lisura de seu feito.
Típica reportagem invejosa e reacionária da extrema direita.
“Comunistas malvados que raptam criancinhas e as transformam em superatletas robotizados a serviço do sistema”
Ahhh vá!
concordo 100% contigo Natália.
E para que continuam assistindo a reportagem “invejosa e reacionária”, “racista” e os comentários que “não convencem”?
e, Lucas, você pode abrir um blog para satirizar os triunfos brasileiros, muitos brasileiros, com certeza, vamos curtir!
Marta:
Como leitor sim, eu poderia criar um blog e seguir a linha satirica.
Mas como jornalista e correspondente, jamais faria isso, alem de deselegante eh anti-etico.
PS. Ao contrario de muitos correspondentes deste e de outros jornais, eu gosto muito do lugar onde vivo.
Posso imaginar que vc gosta, Brasil é um pais agradável, né?
mas no Brasil é a mesma coisa…o Galvão Bueno metendo o pau na Inglaterra, a Record e o ufanismo estourando,repetindo,repetindo e repetindo qualquer graça do Brasil.então…tanto lá como cá é a mesma coisa
Pois e !
Mas aqui no Brasil nenhum chines ou imprensa chinesa satiriza os triunfos brasileiros !