O punk também não morreu na China
23/08/12 11:52Fabiano Maisonnave, de Pequim
Um dia depois da dura sentença contra as russas do Pussy Riot, Pequim calhou de fazer o seu nono festival punk. Nostálgico da adolescência “contra o sistema” (fui baixista da banda nada seminal Mãos Peludas) e curioso para ver os punks chineses, coloquei uma camisa velha do Joy Division e fui para o mosh junto com a patroa.
O palco era a Mao Live House (sim, é possível brincar com o nome do grande timoneiro), no centro da cidade. Tradicional reduto de música alternativa, tem decoração que lembra uma fábrica abandonada e dimensão suficiente para abrigar algumas centenas de pessoas, além de ótimo som.
A primeira banda que vimos foi o Trash Cat (gravei um vídeo, para os mais curiosos). No estilo hardcore, martelava canções próprias como “Fuck V.I.P” e “Shit Country”, entre outras que constavam num CD caseiro vendido do lado de fora por apenas R$ 3 _pena que que não funcionou depois.
Como em qualquer show punk, havia mosh, stage diving, moicanos, camisetas de banda, cerveja e muito mais molecada do que meninas. Na comparação com o Brasil, o ambiente era menos agressivo, a ponto de a cerveja ser tranquilamente vendida em garrafas de vidro. De ruim mesmo, só a fumaça quase insuportável de cigarro.
A mim me pareceu incrível que, mesmo com Pussy Riot nas manchetes, nenhuma das cinco bandas que vi tocar mencionou a condenação. “Eu pensei em falar sobre elas, mas, durante o show, me esqueci”, me contou a baixista do Trash Cat, a única americana do grupo de quatro integrantes.
Por outro lado, não houve hostilidade contra The Erections, banda japonesa que se apresentou no mesmo fim de semana em que dezenas de milhares de chineses saíram às ruas para destruir carros e negócios nipônicos em meio ao acirramento de uma disputa territorial. Pelo contrário, foram muito bem recebidos e até fizeram um pequeno discurso de agradecimento, simultaneamente traduzido por uma moça em trajes mínimos de couro, uma versão punk da Batgirl.
De mais político, vimos apenas uma camiseta com Mao dentro de uma caixa que imitava a do McDonald’s ao lado dos dizeres “Big Bro”. “Você pode comprar no Taobao”, disse o rapaz, em referência ao mais popular site de comércio eletrônico chinês.
Ao contrário das russas, o punk chinês, surgido da classe média, não parece disposto a grandes ousadias. Nunca houve nada parecido ao Pussy Riot, e isso num país que tem dezenas de escritores, jornalistas, professores, ativistas de direitos humanos, um Nobel da Paz e outros críticos do regime atrás das grades ou cumprindo trabalhos forçados.
Quando a banda pequinesa Anarchy Jerks gravou seu primeiro disco, por exemplo, deixou de fora canções mais provocativas que faziam parte de seus shows, como “Nossa liberdade de discurso foi comida pelos cachorros”.
“Não temos liberdade de expressão”, disse o cantor da banda, Shen Yue, numa entrevista. “Então nossa forma de rebelar é não ligar e só fazer o que gostamos de fazer.”
Ousados ou não, os punks de Pequim organizaram uma festa amistosa, divertida e plural, tanto que havia moicanos dançando nas apresentações de duas bandas de ska, formadas por músicos mais mauricinhos.
Que continue assim.
Fabiano,
OFF-TOPIC
PUNK é utilizar uma dublê (substituta) Gu Kailai no julgamento;
2 especialistas em segurança,
consultados pelo Financial Times,
especializados com softwares de reconhecimento facial disseram que a pessoa mostrada em imagens do tribunal exibidas pela televisão não era Gu.
Abs.
Oi, Adriano, essa história é realmente incrível. Em reportagens publicadas na segunda e na terça, eu mencionei essa avaliação. Agora, o governo chinês está censurando posts nos microblogs especulando sobre isso.
Mãos peludas… haha Será que é do tempo do pré-histórico festival “O começo do fim do mundo” no Sesc-Pompéia.
Sim, os caras podem até fazer um bom som mas pra ter o impacto de um Ian Curtis, nunca mais. Other times! Hoje em dia o cara canta “quebrei meu playstation” e dá um stage diving. Tudo bem, tá valendo tb. ; )
Sabe que ainda não ouvi o som da Pussy Riot, mas a vocalista tem seu charme. Com aquela camiseta “no pasarán!”, ela bem que podia mandar num cantinho esfumaçado um “sólo usted, querido”. Sim, em espanhol, pq em russo fica brabo.
Silvino, isso era lá em Foz do Iguaçu, mais longe das capitais do que Pequim.
Esse vocalista aí parece comigo, com uns 30kg a menos.
Também tem menos pelos nas mãos.