A marcha militar das crianças chinesas
24/09/12 15:44Fabiano Maisonnave, de Pequim
Meses atrás, meu colega e amigo Fábio Seixas contou a impressionante história de uma escola infantil do Rio de Janeiro que incluiu, na grade obrigatória, aulas de defesa pessoal (jiu-jitsu) para crianças de até 3 anos. O relato me voltou à cabeça na sexta-feira passada, quando topei com pré-adolescentes aprendendo a marchar com armas de brinquedo.
Vi a cena quando passava de bicicleta no bairro nobre e ocidentalizado de Sanlitun: num calçadão, seis filas com dez crianças cada uma marchavam carregando rifles de plástico em mãos e com um lenço vermelho no pescoço. O exercício era acompanhado por instrutores que corrigiam a postura das crianças com precisão de centímetros. Completavam a cena bandeiras da China perfiladas e o som de vitrola do Hino Nacional.
A imagem de crianças marchando com armas na mão já é em si bastante anacrônica. Mais ainda se diante de uma fileira de carrões importados, entre SUVs e picapes, e de uma luxuosa concessionária da Bentley.
Uma chinesa de meia-idade para quem mostrei as imagens nunca havia visto algo parecido. Ela associou ao clima de guerra contra o Japão. Já o meu companheiro de blog Eric Vanden Bussche disse que são exercícios comuns nas escolas, mas no pátio interno.
Seja qual for o motivo, é triste ver crianças sendo treinadas para a violência na escola, não importa se o jiu-jitsu carioca ou marchas militares de Pequim.
No caso do Brasil, revela um Estado incapaz de proteger seus cidadãos, mesmo os mais inocentes. Na China, é sintoma de um perigoso ambiente belicista, que não condiz com uma das maiores e mais integradas economias do mundo.
PS: um pequeno vídeo da marcha que eu fiz com um smartphone pode ser visto aqui.
Eu sempre disse que não se pode traduzir um texto ao pé da letra ou das palavras, pois nem sempre representa a idéia do contexto da cena; ou seja, é preciso conhecer a cultura chinesa com maior profundidade antes de tecer alguma opinião.
Isto é relevante porque os autores são pessoas formadores de opinião (positivamente ou negativamente) !
Olá, Fabiano, pensei por muito tempo antes de fazer meus comentários ao seu artigo.
Acho que você não entende esse assunto muito bem. Lembro que o novo semestre normalmente começa no início de setembro, os novos alunos que entram em uma escola normalmente precisam fazer um exercício por duas semanas. Esse tipo de exercício não tem nenhum significado militar, com certeza. Eu, como chinês, também passei por esse período. Na minha opinião, esse exercício é só para aumentar a consciência da disciplina escolar para esses novos alunos.
Ainda quero dizer que a cena que você observou não tem nenhuma relação à disputa China-Japao. Como eu mencionei antes, quase todas as escolas vão realizar esse exercício para os novos alunos no início de setembro, isso já existe há mais de 30 anos…
Como você imagina que o exercício de rotina por muitos anos tenha associação com o clima de guerra contra o Japão, pode ser você tambem não entendeu bem.
Bom, meu amigo, desculpa, abraço.
Obrigado pelas explicações, Zhou, coincidem com o que o Eric havia dito. Só que, vendo de fora, é difícil não associar crianças marchando com armas de brinquedo na mão ao militarismo, ao nacionalismo e à mobilização estudantil durante a Revolução Cultural.
Infelizmente esse mundo não prima por sobriedade quando o assunto é tolice. Sabe o que é isso: o sujeito quer se sentir parte integrante de alguma coisa que lhe confira um sentido qualquer na sociedade. Isso abarca um amplo espectro de bizarrices que podem ir de socialites montando sessões de chá para discutir futilidades na tevê até torcedores de futebol dispostos a arrebentar a cabeça da torcida adversária antes ou depois da partida.
Essa história de jiu-jitsu para crianças da pré-escola é insólita. Crianças nessa idade não devem ser ensinadas a se engalfinharem umas com as outras! Ou quem sabe nessa idade ela vai absorver a ‘filosofia’ da arte marcial primeiro!? Santa ignorância de uma classe média (expressão pra lá de ambígua, é verdade – bizonha, ávida de modismos para ocupar suas cabecinhas com alguma coisa.
Crianças treinando pela defesa da pátria, o escambau! Maluquices nacionalistas como as fanfarras do Bo Xilai. Concordo com o Adriano. Cara, em geral, detesto patriotas. A grande maioria deles é de um ufanismo extremamente idiota. Eu torço por pessoas, não pela porcaria de um pedaço de pano estridente, sejá de lá de onde raios for.
A participação brasileira na cerimônia de encerramento dos Jogos de Londres, por exemplo, foi de um clichê e uma pobreza digna de desfiles de sete de setembro. Mas não faltaram tolos para laurear diretores e cineastas de talento mais do que discutível e subvencionados por dinheiro público. A única coisa ‘incredible” ali – qualificação dela para a mise en scène tupiniquim – é o simplismo da senhora Daniela Thomas. Fruto de uma crítica que confunde mau gosto e exagero com “expressão da terra”.
Enfim. É assim nos EUA com a maluquice armamentista de republicanos, nos países árabes com “corão, corão, corão” ou com os adultos chineses coreografando milimetricamente a encenação de uma revolução que, se duvidar, muitos deles sequer teriam coragem de fazer se os tempos fossem outros. Fetichismo de massas. Como o nosso imbatível nonsense músical. Talvez até com menos efeito colateral, pq na falta do que dizer, a gente diz simplesmente: “Eu quero tchu, eu quero tcha! Eu quero tchuchacha! Eu quero tchuchacha!”
Carambola. Bisonho tava meu português; diacríticos, nem te ligo, que o tempo urge e a dedilhação é rápida. Mas em meio a uma tarde ventosa, meu cérebro apontou para alguma coisa bizonha no ar. Dito e feito. Merveilles de la matière grise.
Um absurdo o senhor comparar aulas de jiu-jitsu com desfiles militares! Vá aprender um pouco sobre a arte suave e depois diga algo sobre.
“O patriotismo é o último refúgio de um canalha” * Samuel Johnson ;
haverá transição de poder, seria bom investigar a origem da riqueza dos novos líderes, principalmente ligados a exploração de terras raras.
.
Fabiano, voce viu criancas treinando para violencia.
Eu vi criancas treinando para a defesa da pátria.
.
Ué, vai dizer que nossa geração não é de crianças que faziam ou balé ou judô no colégio particular?
Judô é primo-irmão do jiu-jitsu brasileiro, não vejo onde possa ser comparado com armamento de brinquedo num exercício de ufanismo crônico.
Se fosse karatê ou taekwondô no colégio, seria mais “civilizado”?Preconceito. E eu nem luto essa bagaça, que fique claro.