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Vista Chinesa

por Fabiano Maisonnave

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Homem de Ferro, a serviço do Partido Comunista

Por Vista Chinesa
23/10/12 08:30

Anúncio em Pequim da coprodução sino-americana para o Homem de Ferro 3 (Divulgação – 18.abr.2012).

 

Fabiano Maisonnave, de Pequim

O jeitão independente e politicamente incorreto de Tony Stark é a marca dos primeiros dois filmes do Homem de Ferro. Mas, na próxima sequência, tudo o que o personagem de Robert Downey Jr. fizer terá de passar antes pelo crivo do Partido Comunista da China.

A coprodução do “Homem de Ferro 3” entre Disney e a chinesa DMG é apenas um exemplo da onda inédita de projetos entre Hollywood e o gigante asiático. Aliança que envolve interesses conflitantes e dá ao governo chinês potestade para revisar roteiros.

Para os americanos, é a chance de avançar mais sobre o país que, até 2020, deve ultrapassar os EUA como o maior mercado cinematográfico do mundo.

Já os chineses, ansiosos por aumentar seu “soft power”, vêem uma oportunidade para aprender e se tornar um importante polo exportador mundial, eventualmente competindo com Hollywood.

“A China e os Estados Unidos cozinham juntos com o objetivo de amanhã abocanhar para si o maior pedaço da torta”, resume o espanhol Pello Zúñiga, jornalista radicado em Pequim e especializado na indústria cultural chinesa.

Uma das iniciativas mais ambiciosas é a da DreamWorks. Em agosto, anunciou-se a criação da joint venture Shanghai Oriental DreamWorks, com 55% do capital nas mãos de três empresas estatais chinesas. A meta é produzir até três filmes por ano e empregar 2.000 pessoas.

Um deles é a sequência de “Kung Fu Panda”. O terceiro filme da série deve ficar pronto em 2016, ano em que também será inaugurado um grande complexo turístico com salas de cinema e outras atrações, orçado em US$ 3,2 bilhões.

Dois dias dois, também em agosto, foi a vez de James Cameron anunciar outra joint venture com empresas estatais chinesas, para produzir equipamentos para filmagens em 3D. O valor do acordo não foi revelado.

“É para fazer Hollywood acordar e cheirar o café”, disse Cameron ao jornal britânico “Financial Times”. “Eles [chineses] vêem o 3D como o futuro, igual a nós.”

A lógica dos acordos é parecida à de outros setores que o governo chinês considera estratégicos para fazer a economia do país passar de manufatura barata para produtos mais sofisticados.

Assim como fez a Embraer quando abriu sua fábrica de aviões aqui, o maior acesso de Hollywood ao promissor mercado chinês tem como contrapartida a criação de joint ventures com empresas locais para transferência de tecnologia.

Para Hollywood, a coprodução tem duas grandes vantagens. A mais importante é ficar fora da cota de 34 produções estrangeiras por ano (recentemente, a China permitiu mais 14 produções, desde que em 3D, para cumprir com determinação da Organização Mundial do Comércio).

Outra diferença é o salto na porcentagem de arrecadação da bilheteria, de 25% (produção estrangeira) para cerca de 40% (local).

Por outro lado, trabalhar com Hollywood é a chance do cinema chinês para aprimorar a qualidade dos filmes, que hoje arrecadam relativamente pouco e pecam, segundo Zúñiga, principalmente no roteiro, na direção artística e na atuação.

Bruce Willis faz par romântico com a atriz chinesa Summer Qing, na recém-estreada coprodução futurista “Looper” (Foto de divulgação).

Quantidade a China já tem: só no ano passado, foram lançadas cerca de 500 produções locais, mais de uma por dia.

Mas, para os estúdios americanos, a contrapartida pode ser difícil: antes de ser rodado, o roteiro precisa ser revisado e aprovado pela Administração Estatal de Rádio, Filme e Televisão (Sarft, na sigla em inglês).

A Sarft tem parâmetros draconianos para cenas de sexo e violência, além, é claro, para temas políticos. No ano passado, por exemplo, “Tropa de Elite 2” teve 24 minutos cortados.

Já o documentário “Uma Noite em 67”, sobre os festivais de música da Record, foi censurado, provavelmente pelas duas ou três referências à ditadura militar.

“Em casa, você está apenas preocupado com um grupo de pessoas: o consumidor”, explicou, em entrevista ao jornal “Wall Street Journal”, o americano Dan Mintz, presidente da DMG Entertainment, empresa privada de entretenimento chinesa. “Na China, você tem de ser bom em lidar ao mesmo tempo com o governo e com o consumidor.”

ENTREVISTA: Parcerias ocorrem num momento em que a censura endurece, diz produtor

As parcerias entre Hollywood e a China ocorrem num momento em que aumentam as restrições para a produção de entretenimento no país, afirma Robert Cain, presidente da Pacific Bridge Pictures e há 20 anos atuando como consultor e produtor de projetos entre China e Estados Unidos.

Cain prevê que será um grande desafio criar roteiros que, ao mesmo tempo, conciliem as exigências da censura, as características do mercado chinês e o público mundial. A seguir, a entrevista concedida por telefone:

Essa abertura para  Hollywood ocorre num momento em que a censura restringe produções estrangeiras, principalmente na TV. Recentemente, o líder máximo do país, Hu Jintao, escreveu que a China tem de lutar contra a influência cultural ocidental. Como explicar isso?

Tenho de acrescentar que as regras que estão impondo não almejam apenas o entretenimento estrangeiro como também aumentam as restrições sobre o que os produtores locais podem fazer. É uma contradição, porque está cada vez mais difícil criar produtos de entretenimento na China. Mas também estamos num momento particularmente delicado, haverá a troca da liderança do país nos próximos meses. Espero que o ambiente fique mais relaxado a partir do ano que vem.

Qual o impacto dessas restrições nos roteiros das coproduções?

É um grande desafio desenvolver um roteiro que possa satisfazer não apenas as exigências de coprodução que a China tem como também as restrições da censura e ainda ser um sucesso comercial local e no restante do mundo, tudo ao mesmo tempo. Isso é bastante complicado. E há muitos poucos escritores na China que podem escrever filmes comercialmente competitivos. Portanto, realmente cabe aos produtores estrangeiros desenvolver os roteiros e vir à China com propostas que possam funcionar como coprodução.

Qual é a importância do recente anúncio de ampliar a cota de filmes estrangeiros para 14 produções adicionais 3D?

Foi muito importante por duas razões. Há o fato relevante de que a China deseja cumprir com suas obrigações sob o acordo da OMC. E foi uma forma de tirar a OMC, e especialmente os EUA, de suas costas, por violar esse termos. E obviamente é importante porque quase dobrou a cota de filmes importados. Isso traz mais competição ao mercado e teoricamente mais faturamento em bilheteria.

 

About Vista Chinesa

A página Vista Chinesa é uma fonte de informação e análise sobre o principal parceiro econômico do Brasil. Conta com colaboradores calejados com a longa e cada vez mais frequentada ponte aérea entre os dois países e traz reportagens e análises produzidas pela Redação da Folha de S.Paulo, além de comentários do correspondente Fabiano Maisonnave, responsável pela edição.
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  1. Lee comentou em 26/10/12 at 10:50 pm

    Que hipocrisia (e cara de pau) dos americanos que, ao mesmo tempo, que avançam sobre o mercado chinês ganhando rios de dinheiro, ainda reclamam de “objeções” quanto a censura.

    Censura existe em qualquer sociedade, pois todas elas têm temas que lhe são tabus, seja de quais temas forem: políticos, culturais, etc. A diferença está no grau (ou na sofisticação) em que são aplicadas. Por exemplo, o que aconteceria se algum cineasta quisesse fazer um filme-biografia pró-Bin Laden no mercado americano?

    Pode se discutir o cerne do assunto espinhoso, mas, se são tabus no seio de determinada coletividade, cabe a quem vêm de fora, como um convidado educado, simplesmente respeitar as restrições impostas pelo anfitrião, sendo o fim da picada que o convidado fique trombeteando no meio da sala que seu ponto de vista é “universal” e, que por isso, deve ‘por bom senso’ prevalecer.
    O que não deixa de ser uma tremenda arrogância, que poderia ser resumido da seguinte forma: o que é tabu pra mim, tá certo; e o que é tabu pros outros, eu acho absurdo e simplesmente forço meu ponto de vista para mostrar quão ‘burros’ são ao considerar aquilo um tabu!

  2. Adriano comentou em 23/10/12 at 10:01 pm

    Fabiano,
    nada contra Summer Qing,
    mas preferiria ver a Fan Bingbing como estrela dessa nova produção,
    sou “fan” da Fan Bingbing,
    Abs.
    Adriano

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