Homem de Ferro, a serviço do Partido Comunista
23/10/12 08:30
Fabiano Maisonnave, de Pequim
O jeitão independente e politicamente incorreto de Tony Stark é a marca dos primeiros dois filmes do Homem de Ferro. Mas, na próxima sequência, tudo o que o personagem de Robert Downey Jr. fizer terá de passar antes pelo crivo do Partido Comunista da China.
A coprodução do “Homem de Ferro 3” entre Disney e a chinesa DMG é apenas um exemplo da onda inédita de projetos entre Hollywood e o gigante asiático. Aliança que envolve interesses conflitantes e dá ao governo chinês potestade para revisar roteiros.
Para os americanos, é a chance de avançar mais sobre o país que, até 2020, deve ultrapassar os EUA como o maior mercado cinematográfico do mundo.
Já os chineses, ansiosos por aumentar seu “soft power”, vêem uma oportunidade para aprender e se tornar um importante polo exportador mundial, eventualmente competindo com Hollywood.
“A China e os Estados Unidos cozinham juntos com o objetivo de amanhã abocanhar para si o maior pedaço da torta”, resume o espanhol Pello Zúñiga, jornalista radicado em Pequim e especializado na indústria cultural chinesa.
Uma das iniciativas mais ambiciosas é a da DreamWorks. Em agosto, anunciou-se a criação da joint venture Shanghai Oriental DreamWorks, com 55% do capital nas mãos de três empresas estatais chinesas. A meta é produzir até três filmes por ano e empregar 2.000 pessoas.
Um deles é a sequência de “Kung Fu Panda”. O terceiro filme da série deve ficar pronto em 2016, ano em que também será inaugurado um grande complexo turístico com salas de cinema e outras atrações, orçado em US$ 3,2 bilhões.
Dois dias dois, também em agosto, foi a vez de James Cameron anunciar outra joint venture com empresas estatais chinesas, para produzir equipamentos para filmagens em 3D. O valor do acordo não foi revelado.
“É para fazer Hollywood acordar e cheirar o café”, disse Cameron ao jornal britânico “Financial Times”. “Eles [chineses] vêem o 3D como o futuro, igual a nós.”
A lógica dos acordos é parecida à de outros setores que o governo chinês considera estratégicos para fazer a economia do país passar de manufatura barata para produtos mais sofisticados.
Assim como fez a Embraer quando abriu sua fábrica de aviões aqui, o maior acesso de Hollywood ao promissor mercado chinês tem como contrapartida a criação de joint ventures com empresas locais para transferência de tecnologia.
Para Hollywood, a coprodução tem duas grandes vantagens. A mais importante é ficar fora da cota de 34 produções estrangeiras por ano (recentemente, a China permitiu mais 14 produções, desde que em 3D, para cumprir com determinação da Organização Mundial do Comércio).
Outra diferença é o salto na porcentagem de arrecadação da bilheteria, de 25% (produção estrangeira) para cerca de 40% (local).
Por outro lado, trabalhar com Hollywood é a chance do cinema chinês para aprimorar a qualidade dos filmes, que hoje arrecadam relativamente pouco e pecam, segundo Zúñiga, principalmente no roteiro, na direção artística e na atuação.
Quantidade a China já tem: só no ano passado, foram lançadas cerca de 500 produções locais, mais de uma por dia.
Mas, para os estúdios americanos, a contrapartida pode ser difícil: antes de ser rodado, o roteiro precisa ser revisado e aprovado pela Administração Estatal de Rádio, Filme e Televisão (Sarft, na sigla em inglês).
A Sarft tem parâmetros draconianos para cenas de sexo e violência, além, é claro, para temas políticos. No ano passado, por exemplo, “Tropa de Elite 2” teve 24 minutos cortados.
Já o documentário “Uma Noite em 67”, sobre os festivais de música da Record, foi censurado, provavelmente pelas duas ou três referências à ditadura militar.
“Em casa, você está apenas preocupado com um grupo de pessoas: o consumidor”, explicou, em entrevista ao jornal “Wall Street Journal”, o americano Dan Mintz, presidente da DMG Entertainment, empresa privada de entretenimento chinesa. “Na China, você tem de ser bom em lidar ao mesmo tempo com o governo e com o consumidor.”
ENTREVISTA: Parcerias ocorrem num momento em que a censura endurece, diz produtor
As parcerias entre Hollywood e a China ocorrem num momento em que aumentam as restrições para a produção de entretenimento no país, afirma Robert Cain, presidente da Pacific Bridge Pictures e há 20 anos atuando como consultor e produtor de projetos entre China e Estados Unidos.
Cain prevê que será um grande desafio criar roteiros que, ao mesmo tempo, conciliem as exigências da censura, as características do mercado chinês e o público mundial. A seguir, a entrevista concedida por telefone:
Essa abertura para Hollywood ocorre num momento em que a censura restringe produções estrangeiras, principalmente na TV. Recentemente, o líder máximo do país, Hu Jintao, escreveu que a China tem de lutar contra a influência cultural ocidental. Como explicar isso?
Tenho de acrescentar que as regras que estão impondo não almejam apenas o entretenimento estrangeiro como também aumentam as restrições sobre o que os produtores locais podem fazer. É uma contradição, porque está cada vez mais difícil criar produtos de entretenimento na China. Mas também estamos num momento particularmente delicado, haverá a troca da liderança do país nos próximos meses. Espero que o ambiente fique mais relaxado a partir do ano que vem.
Qual o impacto dessas restrições nos roteiros das coproduções?
É um grande desafio desenvolver um roteiro que possa satisfazer não apenas as exigências de coprodução que a China tem como também as restrições da censura e ainda ser um sucesso comercial local e no restante do mundo, tudo ao mesmo tempo. Isso é bastante complicado. E há muitos poucos escritores na China que podem escrever filmes comercialmente competitivos. Portanto, realmente cabe aos produtores estrangeiros desenvolver os roteiros e vir à China com propostas que possam funcionar como coprodução.
Qual é a importância do recente anúncio de ampliar a cota de filmes estrangeiros para 14 produções adicionais 3D?
Foi muito importante por duas razões. Há o fato relevante de que a China deseja cumprir com suas obrigações sob o acordo da OMC. E foi uma forma de tirar a OMC, e especialmente os EUA, de suas costas, por violar esse termos. E obviamente é importante porque quase dobrou a cota de filmes importados. Isso traz mais competição ao mercado e teoricamente mais faturamento em bilheteria.
Que hipocrisia (e cara de pau) dos americanos que, ao mesmo tempo, que avançam sobre o mercado chinês ganhando rios de dinheiro, ainda reclamam de “objeções” quanto a censura.
Censura existe em qualquer sociedade, pois todas elas têm temas que lhe são tabus, seja de quais temas forem: políticos, culturais, etc. A diferença está no grau (ou na sofisticação) em que são aplicadas. Por exemplo, o que aconteceria se algum cineasta quisesse fazer um filme-biografia pró-Bin Laden no mercado americano?
Pode se discutir o cerne do assunto espinhoso, mas, se são tabus no seio de determinada coletividade, cabe a quem vêm de fora, como um convidado educado, simplesmente respeitar as restrições impostas pelo anfitrião, sendo o fim da picada que o convidado fique trombeteando no meio da sala que seu ponto de vista é “universal” e, que por isso, deve ‘por bom senso’ prevalecer.
O que não deixa de ser uma tremenda arrogância, que poderia ser resumido da seguinte forma: o que é tabu pra mim, tá certo; e o que é tabu pros outros, eu acho absurdo e simplesmente forço meu ponto de vista para mostrar quão ‘burros’ são ao considerar aquilo um tabu!
Fabiano,
nada contra Summer Qing,
mas preferiria ver a Fan Bingbing como estrela dessa nova produção,
sou “fan” da Fan Bingbing,
Abs.
Adriano