Por que a China não tem Gangnam Style?
29/10/12 11:36Fabiano Maisonnave, de Pequim
A pergunta acima foi o tema desta segunda-feira do programa “Dialogue”, do canal estatal CCTV, e vem se repetindo no país desde que o vídeo do cantor sul-coreano PSY tomou o mundo de assalto. Por que a China, com uma população 27 vezes maior, nunca foi capaz de produzir algo semelhante?
O debate revela uma das maiores frustrações da recente ascensão chinesa no cenário mundial _ela não veio acompanhada de um aumento do seu “soft power”. Isso apesar de várias iniciativas milionárias: em dez anos, por exemplo, a China abriu 400 unidades do Instituto Confúcio pelo mundo afora, inclusive no Brasil, para o ensino da língua e divulgação cultural. O próprio canal da CCTV em inglês é outro exemplo do esforço enorme, sem muito resultado.
Não é por acaso, portanto, que o Gangnam Style tenha sido discutido durante meia hora em um programa que geralmente aborda temas bem mais sérios de política externa.
Quando comecei a ver o programa, achei que seria mais um desses debates oficiosos. Mas, para minha surpresa, um dos participantes, o professor Fu Jun, da Escola de Governo Universidade de Pequim, tocou na ferida quando foi questionado sobre a falta de um “PSY chinês”:
“A cultura chinesa tende a ser conformista, em vez de romper com o establishment. E, para ser criativo, a chave é romper com o establishment. Ou usar a palavra ‘liberdade’. Livre do establishment ou das convenções sociais, de forma a ter algo novo. Isso é muito importante. Não é que ninguém na China pensa dessa forma, (…) mas a natureza particular da educação chinesa é mais treinamento. E eu faço uma distinção entre educação e treinamento.”
Só faltou a Fu Jun mencionar Ai Weiwei, o irreverente artista chinês mais conhecido do mundo, que passou quase três meses na cadeia no ano passado e praticamente vive numa prisão domiciliar justamente por “romper com o establishment”.
Ai Weiwei, aliás, é o autor de uma paródia engraçadíssima de PSY, em que ele faz a tal dança com algemas nas mãos. O vídeo, claro, está proibido na China.
Outro vídeo, bem menos divertido, foi patrocinado pelo Centro de Pesquisa do Panda, uma entidade estatal, que contratou a multinacional Ogilvy para superproduzir a paródia. Comparar as duas iniciativas é uma ótima ilustração do argumento de Fu Jun.
A minha impressão é de que ainda vai demorar muito pra China exercer seu “soft power”. Além de todas as dificuldades internas para os artistas, as tentativas estatais terão pouco alcance enquanto o regime continuar produzindo ícones da repressão como Dalai Lama, Liu Xiaobo, Ai Weiwei ou, mais recentemente, o advogado cego Chen Guangcheng.
Enquanto o regime autoritário não se abrir, não haverá um PSY chinês. Mesmo um Michel Teló fica difícil.
Fabiano,
Korea está “bombando”,
mais impressionante que o fenômeno Gangnam Style
é a Samsung vender 52 milhões de smartphones Galaxy, o dobro do IPhone da Apple 26 milhões (ref. 2-semestre 2012)
Abs.
Os pressuspostos da reportagem são pobres. a questão é? por quê um país precisa produzir um fenômeno viral de internet, sem conteúdo algum? Fala-se como se fosse uma necessidade de desenvolvimento criar um fenômeno de marketing como psy ou michel teló! e não são estes exatamente ícones da qualidade artística e como se sabe, estarão esquecidos em um biênio no máximo. Esse Sr. responsável pela matéria já se notabilizava pela servidão aos pequenos interesses do imperialismo na América Latina. Não admira que nunca escreva nada de relevante na China.
Existem muito mais coisas entre um coreano gordo imitando o galope e um Michel Teló fazendo obscenidades do que pode conceber a sua vã filosofia, Luciano.
Um traz ironia, criticas a frivolidade e ocidentaliação artificial dos novos ricos coreanos e outro é pura boçalidade obscena tupiniquim.
E sim isso jamais ocorreria na China e no Japão, porque seu povo é oprimido pela própria cultura.
Oprimido pela cultura é o brasil, que é refém de lixos da indústria cultural a cada mudança de estação. A boa produção cultural brasileira nunca chega a todos. A crítica que fiz à reportagem é que um vídeoclip do psy não pode ser tomado como parâmetro cultural ou de criatividade para uma cultura milenar como a chinesa. Estranha que um reporter que está morando lá apegue-se somente ao parametro ocidental de produção cultural e não tenha conseguido perceber nuances da produção local, apegando-se somente à agenda ocidental de falar dos dissidentes queridinhos dos EUA.
Caro Luciano, como a foto que abre o post e o texto deixam claro, quem se questiona sobre a falta de “Gangnam Style” são os próprios chineses, e não o “parâmetro ocidental”. Sugiro que você leia um texto publicado pela agência de notícias estatal chinesa Xinhua, que pode ser acusada de tudo, menos de ocidentalizada: http://news.xinhuanet.com/english/indepth/2012-10/26/c_131931956.htm
Caro Luciano, como a foto que abre o post e o texto deixam claro, quem se questiona sobre a falta de “Gangnam Style” são os próprios chineses, e não o “parâmetro ocidental”. Sugiro que você leia este texto publicado pela agência de notícias estatal chinesa Xinhua, que pode ser acusada de tudo, menos de ocidentalizada: http://news.xinhuanet.com/english/indepth/2012-10/26/c_131931956.htm
Achei o vídeo do Ai Weiwei um porre de sem graça. Do título (“caonima” = codinome para censura, e também um palavrão em chinês) ao lance das algemas, o vídeo não tem nada de criativo e foi claramente feito “para inglês ver” e agradar a mídia estrangeira, ao invés de realmente criticar algo.
Para mim, este é o problema principal. Não é a falta de criatividade e humor (que a cultura tem de sobra, tanto clássica como moderna), nem de coragem (veja os milhares de protestos anuais). O problema principal é a mídia chinesa ficar produzindo conteúdo procurando a aceitação dos países ocidentais ao invés de criar seu próprio estilo e narrativa.
A falta de liberdade, o humor (há?) e a rigidez dos chineses, que são mais estátuas que as verdadeiras, não são compreensíveis, por ignorância nossa. Acho bom que nossos píncaros da vulgaridade e do $$$$$ que com ela se gasta não colem lá.
Não só a China como o Japão também. Ambos são países de passado autoritário e povos submisso e enfrentam problemas de criatividade. No caso do Japão, isso já se tornou um obetáculo para a indústria manufatureira.
falta de criatividade no Japão?em que mundo vc vive?
Falta de criatividade no Japão?!
País que produz o Super Mario, o animê,a moda de Harajuku, bandas de rock visual key, o pornô mais escrachado do mundo, etc?!
O país dos robôs que lavam cabelos de idosos, das competições de drift e das privadas automatizadas?
O país do sorvete de feijão e celulares com contador Geiger?
Longe de mim querer censurar alguém, mas pare de escrever!Você está passando vergonha.
Pessoas, por favor… se não possuem nível cultural suficiente para discutir sociologia, produção industrial e artística, se abstenham. O bom senso agradece.
A pior desculpa que uma pessoa pode usar e apelar para o falso intelectualismo, portanto, não desvie do assunto o senhor, Marcelo. Mas já que tocou no assunto… o Japão é muito mais que um país “inventor” de manufaturas. Caso tenha interesse em sociologia, procure estudos publicados pela Universidade de Tóquio, Universidade de Estudos Estrangeiros de Tóquio, Universidade de Quioto ou Waseda University. Mas, assim como na maior parte do Brasil, as publicações vão estar na língua nacional daquele país…