O "século asiático", a Austrália e o Brasil
31/10/12 11:25Fabiano Maisonnave, de Pequim
A Austrália acaba de divulgar um ambicioso plano de longo prazo intitulado “Austrália no Século Asiático”, em que estabelece diretrizes para se beneficiar do dinamismo econômico da região, principalmente a China. A iniciativa deveria ser estudada pelo Brasil, onde a compreensão da ascensão asiática ainda engatinha _ou nem isso.
Entre os 25 “objetivos nacionais” listados pelo relatório estão o de que, em 2025, um em cada três executivos das 200 maiores empresas da Austrália possua um conhecimento profundo da Ásia e o de que todas as crianças em idade escolar tenham a possibilidade de aprender uma língua da região.
O estudo, apresentado pessoalmente pela premiê Julia Gillard dias atrás, recomenda ainda que o país tenha uma política de atração de turistas asiáticos e se prepare para o aumento da demanda por comida e educação.
O relatório tem sido criticado na Austrália por ser muito vago ou de difícil implementação. Mas a sua simples existência desatou um grande debate na imprensa local sobre o papel do país no chamado “século asiático”.
Há motivos de sobra para fazermos o mesmo. Brasil e Austrália têm relações bastante parecidas com a China, como ressalta o diplomata Oswaldo Biato Jr., em seu ótimo livro “Parceria Estratégica Sino-Brasileira”. Trata-se do principal parceiro comercial de ambos os países pelo mesmo motivo: a demanda chinesa por recursos naturais, principalmente minério de ferro _aliás, os australianos são a principal concorrência da Vale.
A diferença, sugere Biato Jr., é que a Austrália se vê muito mais cômoda com essa posição e tem se diversificado mais rapidamente, partindo do pressuposto da “inevitabilidade” do crescimento chinês. Um exemplo é o setor de serviços, sobretudo o educacional: há cerca de 90 mil chineses estudando no país, segundo números oficiais.
Agindo assim, a Austrália se sente mais segura em lidar com a China. Em 2005, por exemplo, reconheceu o país como economia de mercado após consultas prévias com o empresariado e outros setores.
Já no Brasil, o presidente Lula reconheceu a China como economia de mercado preliminarmente, em 2004, o que se provou precipitado, tamanha a reação do empresariado, principalmente a Fiesp. Com isso, a decisão nunca foi ratificada e acabou abrindo um flanco onde os chineses vêm pressionando o Brasil.
“Qualquer decisão do Brasil de estabelecer uma presença de maior relevo na China, corolário natural do desejo de diversificar sua presença comercial para além do setor de commodities, envolveria diversas medidas, algumas de caráter logístico, outras ligadas à necessidade de dar maior peso político à atuação brasileira no país, como vêm fazendo, por exemplo, Canadá e Austrália”, recomenda Biato Jr., no livro publicado em 2011.
“Uma visão de longo prazo dessas relações, compatível com o caráter estratégico da nossa parceria, exigiria ainda desenvolver iniciativas tendentes a fazer surgir no Brasil especialistas em temas chineses e em divulgar melhor na China a realidade brasileira”, completa o diplomata, que serviu em Pequim.
Isso, claro, não está ocorrendo. Para o Brasil, a China continua um ilustre desconhecido, em meio à indigência das universidades, à visão para dentro de grande parte do empresariado e ao frágil recurso ao protecionismo do governo. Com o perdão do lugar-comum, é um clássico exemplo de “decifra-me ou devoro-te”.
“Penso que se não acontecerem mudanças no sistema econômico e político na próxima década, será possível acontecer uma verdadeira instabilidade, que daria lugar a uma política externa mais nacionalista e agressiva”, afirmou na semana passada Winston Lord, ex-embaixador americano na China e ex-secretário de Estado adjunto de Richard Nixon.
Gostaria de colocar alguns pontos, como leitor assíduo dessa coluna e devidamente chateado:
1) Deve-se ter absoluto cuidado ao se comparar duas Nações, ainda mas quando se pensa na Austrália e no Brasil, geograficamente, historicamente e socialmente COMPLETAMENTE diferentes.
2) Há uma grande dificuldade dos jornalistas em se aprofundar temas complexos, como política e, principalmente, economia e política externa. Isso fica claro nesse artigo. A impressão que tenho é que o autor se contagia de um entusiasmo desnecessário em relação à China, esquecendo que as relações diplomáticas não são tão pragmáticas como o autor escreve.
3) Faz total sentido a Austrália fazer esse tipo de posicionamento. Ela está no “quintal” da China. Tem como vizinho a segunda potencia mundial, sedenta por recursos naturais. É obvio que esse posicionalmente australiano é fundamental (e particular) para, a longo prazo, ter uma relação estratégica, ainda mais quando se pensa que, historicamente, sua relação com a China não é tão conflituosa como a com os outros vizinhos do gigante.
4) A relação com a China não é uma receita de bolo, como parece que o autor quis deixar ao vento. Qual país Ocidental possui uma relação estratégica próxima com a China, com um plano a longo prazo de inserção cultural? Qual país hoje, no mesmo Ocidente, tem uma visão australiana com este país? Para nós, a China é um paradoxo sem precedentes e aqui a desconfiança impera. Não é o correto, mas é o que nossa história reserva para análises futuras. Estamos, incluindo o Brasil, em um contexto cultural e geopolítico completamente diferente!!! Estamos na aba americana! Acho que para os ocidentais é uma tarefa muito difícil uma relação próxima com a China e o Brasil está tentando uma aproximação estratégia (vide Brics).
5) Não é a primeira vez que percebo uma leitura muito simples de algo muito importante aqui nessa coluna, repleta de ironias desnecessárias. Como dica, acho que o autor deveria se espelhar mais no seu colega que está no Irã: mais assertivo no papel dele como esclarecedor de um país distante.
6) Autor, você tem noção que seu papel hoje é parte desse esclarecimento sobre a China para com todo o país? Tenho a impressão que você perdeu a noção da abrangência desse jornal e do seu nome sendo dito nos meios acadêmicos de política externa. Cuidado com as suas palavras.
Robson, obrigado pelo seu longo comentário. Austrália e Brasil vêm de histórias diferentes, mas ambos têm na China seu principal parceiro comercial pelas mesmas razões. Só que a comparação não foi ideia minha, e sim do embaixador Oswaldo Biato Jr., que serviu vários anos em Pequim, tem quase uma década na Ásia e estudou profundamente as relações bilaterais. Eu apenas endossei a sua análise.
Coincido num ponto com você: também prefiro o blog do Samy!
Caros,
Foi por esta razão que no meu comentário abaixo eu reforcei um ponto muito importante: a de escutar aqueles que viveram na China. Para mim, aqueles que puderam ter a oportunidade de morar neste país para viver as experiências do cotidiano ao mesmo tempo estudando a complexa e profunda cultura chinesa talvez possam trazer um pouco de luz sobre a realidade (e não a percepção!) deste país e também fazer análises que talvez não possamos entender muito bem devido nossa maior distância: a cultural. Numa opinão muito pessoal de alguém que já morou neste país, eu arriscaria dizer que falar da China com propriedade, tem que ser na primeira pessoa do singular!
Caro Fabiano,
Ótima matéria. Poderíamos tirar muito mais proveito do desenvolvimento econômico da China se tivéssemos um nível de compreensão mínimo deste país aqui no Brasil, como a Austrália tem buscado fazer. E esta compreensão é fudamentamental para desenvolvermos qualquer visão estratégica em relação à China, coisa que eles sabem fazer muito bem quando se lançam em suas empreitadas mundo afora. Ainda estamos engatinhando neste mundo de oportunidades provenientes da China e espero que as universidades e centros de formação no Brasil fiquem mais atentos a este ponto trazendo profissionais com experiência e vivência neste país para nos ajudar a achar os caminhos para sermos mais agressivos e assertivos. Queiramos ou não, o Made in China é inevitável e cabe a nós encontrarmos uma forma de participar desta grande oportunidade.
Infelizmente, o brasil será sempre “país do futuro” !
que me perdoe michael fox pelo trocadilho
Brasil não tem política de longo prazo,
tudo é para o curto prazo,
corta um pouco da alíquota do IPI ,
eleva um pouco imposto de importação ,
desonera um pouco a folha de salários,
reduz um pouco carga tributária da energia,
e assim vamos levando,
mas a situação é preocupante,
a cada ano que passa a industria diminui de tamanho, os industriais estão passando de produtores para distribuidores de produtos importados, principalmente da China.
O Brasil ainda não se convenceu que precisa de reformas, tributária, trabalhista e previdenciária,
e investir mais em educação e infraestrutura.
Abs.
Brasil, é um competidor por excelência.Até involuntariamente. Na África,trava-se a batalha do 1,99 contra a experiência do colonialismo que vitimou quase a totalidade do continente africano.Os chineses,que nada conhecem da história alheia incidem no mesmo erro.Todas as mazelas de que somos vítimas e estão impressas no nosso DNA, servem para avançarmos qualitativamente
naquele continente.No futuro,chineses,assim como,cangurus,lebres e dingos,hoje, serão vistos da mesma maneira. Folclóricos e danosos.
Os chineses estão levando desenvolvimento, civilidade e nova cultura para a Africa, meu caro… os africanos estao ate aprendendo a trabalhar!
E sim, graças aos chineses, em pouco tempo o passarão o Brasil no papel de ‘celeiro do mundo’.
“Os chineses estão levando desenvolvimento, civilidade e nova cultura para a Africa, meu caro… os africanos estao ate aprendendo a trabalhar!”
A mesma civilidade com que vivem os chineses na China “comunista”? Que comentário infeliz, Marcelo.
“os africanos estao ate aprendendo a trabalhar”? Os africanos sempre trabalharam. Agora eles estão aprendendo a trabalhar 18h por dia por um salário de $2/dia.
O mundo inteiro sabe que a China cresce 7-10% devido aos míseros salários que paga aos seus trabalhadores industriais.
Os africanos não precisam da “nova cultura chinesa”. Eles têm a sua CULTURA!
Se não é os EUA, é a China ou outro país qualquer levando “desenvolvimento, civilidade e nova cultura” para os países mais fracos. O mesmo “desenvolvimento, civilidade e nova cultura” que a América Latina inteira teve na sua colonização?
O que a China faz com a África não passa de uma colonização moderna.
E bem disse Durvaldisko: Folclóricos e danosos, sim!
E o pior que parece que até o ar que respiramos é chinês! Detesto comprar um procuto numa loja nacional e ver que foi fabricado na China. E os produtos brasileiro? Ficam como?
Austrália é um continente exilado no planeta. Salva-lhe a participação no Commowealth
Exilados no planeta somos nós, meu caro… um país cucaracho que só exporta minérios, vegetais, carne, mulatas fantasiadas de passistas e pratos com partes repugnantes dos suínos.
O Brasil é etnocentrista, se deslumbra pelos falidos europeus e não dá a mínima para a Asia. Nunca deram a mínima para o Japão e não vão dar atenção para a China. A Asia hoje é o centro do mundo, mas o Brasil não percebeu isso.
Claro, a Europa faliu. Os EUA estão mais para lá do que cá. Então temos que babar ovo da China, os mais recentes ricos do pedaço.
Trabalhar que é o correto, nada.
Para que ensinar matemática e português as nossas crianças? Vamos ensinar chinês.