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Vista Chinesa

por Fabiano Maisonnave

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Os direitos das mulheres na China: o retrocesso das últimas duas décadas

Por Vista Chinesa
09/03/12 08:02

Publicada em homenagem ao Dia das Mulheres pelo "Diário do Povo", foto mostra garçonete servindo chá durante a sessão legislativa do Partido Comunista, em Pequim (8.mar.2012)

Por Eric Vanden Bussche, de Pequim

No Dia Internacional da Mulher deste ano, o “Diário do Povo” _jornal oficial do Partido Comunista chinês (PCC)_  resolveu homenagear o sexo feminino em sua página principal da internet por meio de uma coleção de fotografias. Sob o título “Mulheres Bonitas nas Duas Sessões,” ressalta a presença feminina no Comitê Nacional da Conferência Política Consultiva da China e no Congresso Nacional do Povo nestas últimas duas semanas. “Hoje é o Dia Internacional da Mulher,” explica o texto que acompanha as fotos. “Neste dia especial, vamos dar uma olhada nessas lindas mulheres das duas sessões.” Mas em vez de centrar as atenções na participação das mulheres na política, as fotos mostram belas e sorridentes jornalistas em coletivas de imprensa, uma garçonete servindo chá, fileiras de lindas moças prontas para prestarem serviços aos delegados do congresso e assim por diante.

Os editores responsáveis pela homenagem talvez não entendam o significado do Dia Internacional da Mulher. Em vez de ilustrar a atuação das mulheres na formulação de políticas públicas para o desenvolvimento da China no congresso, pareciam mais preocupados em agradar àqueles internautas que apreciam a beleza das chinesas. Na maioria das fotos selecionadas, aparecem moças que foram contratadas para trabalharem como garçonete e recepcionista durante o evento. Apenas uma foto mostra uma delegada do congresso, vestida em trajes típicos de sua etnia e rodeada de homens de terno e gravata. Nem mesma ela é identificada pelo nome. Infelizmente, essa “homenagem” serviu apenas para reforçar os estereótipos que relegam as chinesas a um papel secundário na sociedade.

Na verdade, as chinesas assistiram a um retrocesso na sua posição social nas últimas duas décadas, especialmente em comparação com os anos após a Revolução de 1949. Mao Zedong acreditava que as mulheres “carregam metade do céu” e, durante a época em que governou o país, houve um aumento visível na atuação das mulheres no processo político e econômico do país. Se em 1954 elas ocupavam apenas 12% das cadeiras no Congresso Nacional do Povo, na década de 70 esse número quase dobrou, pulando para 20%. Entretanto, desde o início dos anos 80, a participação feminina no congresso tem estagnado em torno de 22%. Aliás, nos últimos anos, a China vem perdendo posições no ranking da Inter-Parliamentary Union (união interparlamentar), uma organização internacional que mede a participação feminina na política. Em 2011, a China ocupava a 60ª posição no ranking,  uma queda brusca se levarmos em consideração que o país estava na 16ª posição em 1995. Atualmente, apenas 21,4% dos representantes são mulheres.

Os homens também predominam no mundo dos negócios. De acordo com a revista mensal chinesa “Hurun Report”, sete das dez mulheres mais ricas do mundo são chinesas. Mas essas mulheres são uma exceção, pois apenas 11% das pessoas mais ricas da China são do sexo feminino. Há dois anos, o governo chinês divulgou estatísticas mostrando que o salário médio das mulheres era 33% inferior ao dos homens nas regiões urbanas, chegando a 44% nas áreas rurais.

Há vários responsáveis por esse retrocesso. Um deles é o regime chinês, que tem se esforçado em abafar as tentativas de ativistas feministas em organizar movimentos independentes para defender os seus direitos. Além disto, a política de filho único _instituída no final dos anos 70 para frear a explosão demográfica do país_ resultou numa série de abortos e estirilizações forçadas entre as mulheres, principalmente nas áreas rurais. Devido a essa medida, haverá  33 milhões de homens a mais do que mulheres em 2020, gerando graves repercussões econômicas e sociais, de acordo com as Nações Unidas.

Wendi Deng ao lado do marido, o magnata da mídia Rupert Murdoch

Até mesmo as chinesas não estão isentas de culpa. Muitas passaram a enxergar o casamento como a forma mais fácil de ascensão social. Isso pode ser observado pelo admiração que muitas chinesas nutrem pela sua conterrânea Wendi Deng, mulher do magnata das comunicações Rupert Murdoch. Certa vez, uma aluna da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim me explicou o motivo que levava tantas moças a adorarem Wendi Deng: “Ela se casou com um velho norte-americano, mesmo não o amando, para conseguir estudar em Yale e conseguir seu visto de residência. Depois se divorciou, se casou com Rupert Murdoch e hoje está milionária. Quero ser que nem ela.” Com uma mentalidade assim, será difícil mudar a situação atual das mulheres chinesas.

Eric Vanden Bussche é especialista em China moderna e contemporânea da Universidade Stanford (EUA). Possui mais de uma década de experiência na China. Foi professor visitante de relações Brasil-China na Universidade de Pequim e pesquisador do Instituto de História Moderna da Academia Sinica, em Taiwan. Suas áreas de pesquisa incluem nacionalismo, questões étnicas e delimitação de fronteiras da China. Sua coluna é publicada às sextas-feiras.
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Os garotos-propaganda do Brasil na China

Por Vista Chinesa
05/03/12 11:28

Jackie Chan transforma berimbau em espada em São José dos Campos (Foto: Embraer - 3.fev.2012)

Fabiano Maisonnave, de Pequim

Duas iniciativas publicitárias bem distintas mostram o aumento do interesse brasileiro pelo mercado consumidor chinês. A Embraer escolheu o ator de kung fu Jackie Chan para propagandear seus jatos executivos. Já o Corinthians quer vender camisas no país com o nome do atacante Chen Zhizhao nas costas.  Esses garotos-propaganda farão o fabricante de aviões e o time do Parque São Jorge mais conhecidos por aqui?

A Embraer, claro, tem uma estratégia mais séria. Depois de vender mais de cem aviões regionais (70% da frota dessa categoria na China), a empresa começou, no ano passado, sua incursão no incipiente mercado local de jatos executivos.

Na parte comercial, os resultados têm sido bons: associou-se à Minsheng Financial Leasing, a maior empresa de leasing de aviões desse tipo na China e, desde então, 16 unidades já foram encomendadas. (Provavelmente serão importadas do Brasil, já que Pequim está atrasando a autorização para que a Embraer produza jatinhos em sua fábrica de Harbin, no nordeste do país.)

A empresa montou também uma campanha publicitária, focando a classe rica, com anúncios em revistas luxuosas e participação em eventos exclusivos. “Para o mercado chinês, a marca está acima de tudo, mais do que qualidade e preço”, me disse, em entrevista em junho, o presidente da Embraer China, Guan Dongyuan.

É dentro dessa estratégia que entra Jackie Chan. No mês passado, o ator de comédias de ação esteve em São José dos Campos, onde recebeu um jatinho Legacy 650 personalizado, o “JC Jet”. Dias depois, o avião (sem o astro) aterrissava no show aéreo de Cingapura.

A escolha do garoto-propaganda foi adequada? Não, responde Zhang Hong, especialista em gestão estratégica da Universidade de Comunicações da China e com experiência em pesquisas de mercado para empresas estrangeiras. “Jackie Chan não tem apelo para as pessoas de alto nível. Para vender aparelhos domésticos, comida, bebida e entretenimento, ele funciona, mas não chama a atenção de presidentes de empresa.”

Uma boa opção, diz Zhang, teria sido Robin Li. Com fama de empreendedor, criou o site de buscas Baidu, hegemônico na China é e o segundo homem mais rico do país.

Na semana passada, foi a vez do Corinthians apresentar seu “embaixador” na China. Com presença zero no gigante asiático, o clube aposta num jogador que está há um ano parado, só jogou uma temporada na primeira divisão do país e jamais foi convocado para a fraquíssima seleção nacional. Pior: os torneios brasileiros não são transmitidos na TV local, e nunca um jogador chinês se destacou no exterior.

Não que o futebol seja um esporte menosprezado pelos chineses. Ao contrário: os  principais times europeus têm uma legião de fãs no país e ganham rios de dinheiro em partidas disputadas no verão.  Mas isso é resultado principalmente da audiência mundial da Liga dos Campeões e de ídolos como Messi e Kaká, este ainda bastante popular aqui.

Chen é apresentado no Corinthians (Danio Verpa/Folhapress 1.mar.2012)

Escolher um garoto-propaganda pode parecer uma questão menor, mas não é. Se o Brasil quiser de fato exportar mais do que commodities ao seu principal parceiro comercial, precisará entender o público chinês. Isso leva tempo e custa dinheiro.

A Embraer pode ter errado no caso do Jackie Chan, mas a empresa tem história e presença permanente na China. Já o neocorintiano Chen está mais conhecido no Brasil do que na própria China após o estardalhaço na chegada (com pouca repercussão por aqui). Se a estratégia do Parque São Jorge der certo, terá sido uma reviravolta maior do que a história da Cinderela.

Mas não acredito em conto de fadas. Aposto que se venderão mais jatinhos Legacy na China do que camisas do Corinthians. Em números absolutos.

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As tensas relações entre a China continental e Hong Kong

Por Vista Chinesa
02/03/12 12:48

Desfile em 1997 na ex-colônia britânica em comemoração à unificação; à esq., a bandeira de Hong Kong

Por Eric Vanden Bussche, de Pequim

Desde que Hong Kong deixou de ser uma colônia britânica para se tornar uma Região Administrativa Especial da China, há 15 anos, as eleições para chefe do Executivo nunca atraíram muita atenção. Afinal, o resultado não poderia ser mais previsível. Um colegiado composto, em sua maioria, por líderes empresariais e políticos alinhados com o Partido Comunista chinês (PCC) sempre escolhia o candidato preferido por Pequim. Mas as eleições deste ano, marcadas para o próximo dia 25, sofreram uma reviravolta nas últimas semanas que expuseram as tensões entre a ex-colônia britânica e a China continental.

Com bom trânsito em Pequim e relações estreitas com o ex-presidente chinês Jiang Zemin, Henry Tang era apontado como o favorito na disputa para o cargo até poucas semanas atrás. Mas revelações de que ele teria construído, no subsolo de sua mansão, um “palácio de prazeres” com uma adega e sauna japonesa aumentaram a sua rejeição entre a população, que, mesmo antes do escândalo, o enxergava como uma simples marionete do PCC. Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Hong Kong, Henry Tang contaria com apenas 21% de apoio da população.

Tais acusações agravaram a conjuntura política na ex-colônia britânica. O principal rival de Henry Tang na eleição, Leung Chun-ying, está sendo investigado por ter utilizado um cargo público para favorecer uma empresa com a qual realizava negócios. Embora Leung goze de maior popularidade entre os habitantes por ser visto como reformador, o resultado das investigações e suas boas relações com Pequim podem acabar minando a sua credibilidade. E Donald Tsang, atual chefe do Executivo, recentemente foi obrigado a pedir desculpas por ter aceitado favores de empresários. Esses escândalos reforçaram a percepção entre a população de que os seus líderes políticos se encontram a serviço da elite empresarial e do regime chinês, aumentando o ressentimento da população em relação a Pequim.

A atual situação representa mais um capítulo no turbulento relacionamento entre Hong Kong e Pequim. Aliás, as tensões entre ambos nunca estiveram tão evidentes.
Em meados de janeiro, um vídeo gerou uma discussão acalorada nas mídias sociais, expondo o abismo político-cultural que separa a ex-colônia britânica da China Popular. O vídeo mostra uma um passageiro num trem de Hong Kong dando uma bronca numa criança da China continental por estar comendo macarrão. Em Hong Kong, vários comentários sobre o incidente se referiam aos chineses do continente como “pragas” que chegam à ex-colônia britânica atrás de benefícios sociais e econômicos. Na China, a atitude do passageiro indignou muitos, culminando com declarações de um professor da Universidade de Pequim, Kong Qingdong, chamando os habitantes de Hong Kong de “bastardos” e “cães dos imperialistas britânicos.”

Os acontecimentos nesses últimos meses refletem as dificuldades enfrentadas por Pequim em Hong Kong. Quando a ex-colônia britânica voltou às suas mãos em 1997, os dirigentes do PCC se esforçaram para que a transição fosse bem orquestrada. Hong Kong retornou à soberania chinesa sob o princípio de “um país, dois sistemas,” ou seja, que garantiria a preservação de suas instituições e modo de vida por um período de 50 anos. Na época, o PCC esperava que um processo bem-sucedido em Hong Kong serviria para convencer Taiwan a aceitar a reunificação sob os mesmos princípios.

O dirigentes em Pequim descobriram, entretanto, que se tratava de um desafio maior que imaginavam. Quinze anos depois, a população de Hong Kong continua enxergando o PCC com desconfiança, acusando-o de interferir em assuntos locais. Muitos ainda preferem se identificar como cidadãos de Hong Kong em vez de chineses. Eles também não compartilham da visão negativa difundida na China continental sobre o imperialismo britânico na região.

A ideia dos chineses como “pragas” que invadem Hong Kong atrás de educação gratuita, serviço médico e outras vantagens continua enraizada na cabeça de muito habitantes. Uma das reclamações ouvidas nas ruas com maior frequência recentemente é a do aumento de mulheres da China continental que desembarcam na cidade para dar à luz aos seus filhos, ocasionando uma falta de leitos nas maternidades. Um protesto no início desse ano reuniu 1.500 pessoas _muitas grávidas ou mães de recém-nascidos_ para exigir uma solução para este problema. O assunto virou até um dos temas de campanha para chefe do Executivo, com Henry Tang e Leung Chun-ying se comprometendo em estabelecer um controle mais rígido da migração de chineses para Hong Kong.

Será interessante observar como o vencedor dessa disputa irá lidar com essas tensões e preparar o terreno para 2017, ano em que o chefe do Executivo deverá ser escolhido através do voto direto pela população da cidade. Por sua vez, Pequim certamente continuará a manobrar nos bastidores para garantir que o processo atenda a seus interesses.

Eric Vanden Bussche é especialista em China moderna e contemporânea da Universidade Stanford (EUA). Possui mais de uma década de experiência na China. Foi professor visitante de relações Brasil-China na Universidade de Pequim e pesquisador do Instituto de História Moderna da Academia Sinica, em Taiwan. Suas áreas de pesquisa incluem nacionalismo, questões étnicas e delimitação de fronteiras da China. Sua coluna é publicada às sextas-feiras.
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Síndrome da China

Por Vista Chinesa
29/02/12 07:52

Estudantes comemoram o aniversário do PC em Dexing, Província de Jiangxi. (Reuters - 20.jun.2011)

Por José Carlos Martins, do Rio de Janeiro*

Segundo o Aurélio, a palavra síndrome significa “conjunto de características ou de sinais associados a uma condição crítica, suscetíveis de despertar reações de temor e insegurança”. “Síndrome da China” foi nome de um filme estrelado por Jane Fonda e Jack Lemmon, na década de 70. O enredo tratava do acidente nuclear em uma usina americana cuja possível consequência seria a fusão do núcleo do reator e a perfuração da crosta terrestre até seu núcleo, continuando o caminho para sair do outro lado, na China.

Da mesma forma sugerida pelo filme, o rápido desenvolvimento da economia chinesa nos últimos 40 anos e de forma mais perceptível na última década reverbera em todas as direções e afeta todas as nações. Assemelha-se a uma síndrome, agora econômica, que se propaga pela superfície da Terra, projetando suas consequências para todos os cantos do planeta. De certa maneira, o que aconteceu na China nestes 40 anos é um fenômeno semelhante ao ocorrido nos últimos 250 anos com as nações mais desenvolvidas do Ocidente setentrional (Europa Ocidental e América do Norte), abarcando também alguns países da Ásia e Oceania que, por razões étnicas ou geopolíticas, se alinharam economicamente às nações líderes do Ocidente.

Durante o período iniciado com a Revolução Industrial, com epicentro no Reino Unido do século 18, essas nações tiveram seu nível de vida e desenvolvimento econômico catapultados dezenas de vezes acima das outras nações da Ásia, África e América Latina. No início do século 21, essas nações _com um contingente populacional não superior a um bilhão de pessoas_ concentravam grande parte da riqueza e do PIB mundial, relegando os restantes 6 bilhões a uma importância secundária em termos de riqueza e padrão de vida.

Embora esse verdadeiro “espetáculo de crescimento” das nações ocidentais tenha sido objeto de milhares de estudos e de livros _dos quais talvez eu tenha lido pouco mais de uma dezena em toda a minha vida_, me arrisco a mencionar, sob pena de excessiva simplificação, que, além da engenhosidade humana que sustentou grande parte desse desenvolvimento ocidental através das várias inovações, a começar pela máquina a vapor, ele foi alicerçado basicamente por três grandes transformações que afetaram essas sociedades ao longo destes 250 anos: 1) a evolução de uma sociedade agrícola para uma sociedade industrial; 2) a migração de uma sociedade rural para uma sociedade urbana; 3) a transformação de uma economia preponderantemente de subsistência em uma economia de mercado.

A industrialização trouxe consigo extraordinário crescimento da produtividade por meio da divisão do trabalho e da disseminação dos avanços tecnológicos; a urbanização, maior interação humana e sinergia das ideias. As cidades são os motores da inovação e também do sistema democrático. A migração de uma economia de subsistência para uma economia de mercado trouxe uma valoração mais adequada dos bens e serviços produzidos, agregando maior racionalidade ao processo de alocação de recursos. A fórmula do progresso econômico e melhoria de vida dos países se resumem numa única palavra: produtividade. Urbanização e industrialização alicerçadas num sistema produtivo direcionado pelo mercado são talvez o instrumento mais poderoso para atingir esse objetivo. É uma marca indelével em quase todos os casos de sucesso em termos de desenvolvimento econômico.

Neste particular, é interessante observar o fracasso da experiência soviética, que soube transformar uma nação agrária e subdesenvolvida numa grande nação industrial, uma sociedade rural em uma nação urbana. Mas não adotou a economia de mercado, mantendo-se fiel ao dogma do planejamento central e da ditadura do proletariado, com o controle estatal dos meios de produção. O fracasso da experiência soviética estaria alicerçado na rigidez dogmática do sistema econômico associado à falta de abertura democrática de sua sociedade.

Os chineses, seguidores do modelo soviético desde que Mao Tse-tung e o Partido Comunista assumiram o poder, em 1949, tiveram a sabedoria de perceber onde o sistema soviético tinha falhado e, muito antes da derrocada do modelo socialista russo, adotaram em sua economia e em sua sociedade as modificações necessárias para não cair na mesma armadilha.

Quando Deng Xiaoping, há pouco mais de 40 anos, iniciou o processo de abertura da economia chinesa através de suas quatro modernizações, talvez não tivesse ideia clara das repercussões que essas mudanças trariam para o mundo. Ou, talvez, estivesse simplesmente seguindo os ensinamentos de Mao, que, em uma de suas citações, dizia que “para acabar com o fuzil é preciso pegar no fuzil; para acabar com a guerra é necessário fazer a guerra”. Para enfrentar o poder do Ocidente, personificado no poderio econômico e bélico americano, seria necessário abraçar de certa forma seu modelo econômico.

O interessante é que a abertura da economia chinesa e a aceitação da propriedade privada dos meios de produção se iniciaram pelo setor externo, com a vinda de capitais e tecnologias ocidentais, principalmente dos Estados Unidos. Ávidos por arbitrar as vantagens de custo oferecidas pela farta e disciplinada mão de obra chinesa, além da possibilidade de desfrutar no futuro de um mercado de mais de um bilhão de pessoas, o Ocidente proporcionou à China não só o capital e a tecnologia necessários para alavancar a economia chinesa, como também o acesso a seus mercados.

Como diria Lênin, “os capitalistas venderão a corda com a qual serão enforcados”. Neste caso, não só venderam a fábrica de cordas como também compraram a própria corda! Na verdade, isso foi bastante favorável à economia ocidental, que conseguiu por muitos anos crescer de forma bastante acelerada, ajudada pelo efeito deflacionário da oferta chinesa.

Desse princípio totalmente dependente do Ocidente em termos de capitais, tecnologia e acesso ao mercado, os chineses, com a praticidade que lhes é particular, foram adotando mais e mais o modelo econômico ocidental, liberando forças que estavam contidas por mais de 30 anos de experiência malsucedida de coletivização forçada e planejamento central. Ao final da Revolução Cultural, a China era um país pobre, rural, onde grande parte de sua população vivia muito mais numa economia de subsistência do que propriamente numa economia de planejamento central.

Os chineses foram capazes de fazer adaptações necessárias para flexibilizar o modelo de planejamento de central. Flexibilizaram a propriedade privada dos meios de produção e, apesar de manterem uma miríade de empresas estatais ainda muito poderosas, conseguiram criar uma economia de mercado competitiva e moderna, combinando a racionalidade dos mercados com o direcionamento do planejamento central.

Não obstante o forte controle do Estado chinês sobre sua economia e sua sociedade e alguns retrocessos ocorridos na área política durante esse período de liberalização, a marcha tem sido positiva com algumas paradas durante o caminho, mas nunca com retrocesso. Todo ano a economia chinesa se torna mais aberta e mais competitiva. Num curto espaço de tempo, a população urbana da China passou de pouco mais de 15% para 50%; sua economia baseada na agricultura se transformou na segunda maior economia do mundo, suplantando os Estados Unidos como a primeira nação industrial. Seu sistema econômico _que, ao final da década de 70, era um misto de subsistência e planejamento central_ se transformou numa pujante economia de mercado e na maior nação exportadora de bens, ultrapassando nações altamente industrializadas e exportadoras como Alemanha e Japão. Tudo isso em apenas 40 anos!

Neste momento de inflexão na economia mundial, assoberbada com os problemas de endividamento e estagnação econômica nos países ocidentais, não obstante seu espetacular sucesso dos últimos anos, a China também enfrenta grandes desafios. Mas dispõe de uma economia sólida e equilibrada se comparada à maioria das economias mais desenvolvidas.

A visão muito mais pragmática do que dogmática dos chineses e seus líderes é outra grande vantagem neste momento. Durante todo esse período, os chineses demonstraram extraordinário senso prático, orientando a economia muito mais em função daquilo que funciona bem do que em função de teorias e dogmas _inclusive aqueles do próprio modelo comunista.

“Enriquecer é glorioso”, “Não importa a cor do gato desde que ele pegue o rato”, ”Socialismo não é pobreza”. As frases emblemáticas de Deng Xiaoping para justificar as mudanças na economia chinesa são até hoje utilizadas como exemplo de visão e pragmatismo. Não há qualquer razão para supor que os chineses vão alterar essa orientação filosófica na forma como conduzem os destinos de seu país. E esse pragmatismo é o maior indicador de que eles saberão se adaptar à nova situação e manter o crescimento de sua economia.

Ainda há muita gente para mover dos campos para as cidades, ainda há muita industrialização e infraestrutura por construir. E ainda há muito espaço para avançar em direção a uma economia de mercado mais completa. Ainda há muito a expandir no consumo interno e para reduzir as desigualdades sociais. Em outras palavras, até atingir os limites de crescimento alcançados pelas nações mais desenvolvidas do Ocidente, a síndrome da China vai continuar!

José Carlos Martins, economista, é diretor de Ferrosos e Estratégia da Vale.

*A partir desta quarta-feira, o economista José Carlos Martins passa a escrever quinzenalmente para o blog.

 

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Banco Mundial, China e democracia

Por Vista Chinesa
28/02/12 19:10

Manifestante (terno listrado) interrompe entrevista de Zoellick (à esq.) em Pequim, nesta terça (Foto: AP)

Fabiano Maisonnave, de Pequim

O presidente do Banco Mundial, o norte-americano Bob Zoellick, está na China para divulgar um caudaloso relatório sobre os desafios econômicos de médio prazo do gigante asiático. Em linhas gerais, o estudo afirma que uma desaceleração do crescimento é inevitável e que o país terá de implantar uma economia de mercado de fato para não estagnar na “armadilha da renda média” e até mesmo evitar instabilidade social. Um resumo está na Folha de hoje (aqui, para assinantes).

Conclusões à parte, é interessante ver a cuidadosa escolha das palavras. O estudo, feito em conjunto com Centro de Pesquisa do Desenvolvimento do Conselho de Estado chinês, leva no título o termo favorito do governo Hu Jintao, “harmonia”: “China 2030: Construindo uma sociedade de alta renda moderna, harmoniosa e criativa”. E não só ali: foram ao todo 47 vezes no relatório de 448 páginas.

Por outro lado, “democracia” não aparece em nenhum momento, e “Estado de direito”, apenas cinco vezes.

Não que o estudo não defenda práticas mais democráticas, mas o faz de forma tergiversada. Um dos termos alternativos foi mais “participação cidadã”. Há ainda malabarismos como a defesa de melhores “bens e serviços públicos intangíveis”.

Ausente do relatório do Bird, a defesa da democracia coube… à Xinhua.

Na véspera da chegada de Zoellick, que deixa o cargo no meio do ano, a agência estatal defendeu que, “se o novo presidente do Banco Mundial for realmente escolhido por meio de uma eleição limpa e democrática, libertará a agência de uma tradição de sete décadas que vê o presidente do Banco Mundial como um cidadão americano”.

Apesar da pressão da China (e do Brasil) para mais participação “emergente”, tudo indica que o substituto de Zoellick também será americano _falta apenas escolher o nome. Desfecho quase tão previsível quanto a sucessão na China do partido único.

Leia mais
A íntegra do relatório do Banco Mundial está disponível na internet, em inglês.

 

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Dilemas do futuro

Por Vista Chinesa
27/02/12 07:16

O vice-presidente chinês, Xi Jinping, chuta bola de futebol gaélico em visita a Dublin (AFP - 19.fev.2012).

Por Marcos Caramuru de Paiva, de Xangai*

Há dois finais de semana, o banco central da China anunciou a redução do depósito compulsório dos bancos, um movimento que deverá injetar 400 bilhões de yuans (US$ 64 bilhões) na economia. O governo chinês  está cumprindo o que prometeu: vai lidar com  desaceleração do crescimento pela via da expansão do crédito e de menor custo dos empréstimos  para as empresas. Essa é uma boa notícia para os empreendedores. Terá dois impactos imediatos: aliviar a situação de projetos parados ou cujos pagamentos estão em atraso e contemplar empresas que não foram beneficiadas com o aumento dos investimentos públicos na crise de 2008.

O motivo de maior apreensão do empresariado chinês, no entanto, não é exatamente o curto prazo.  A partir do início de 2013, uma nova liderança politica comandará o país.  E, se já se pode antecipar com alta dose de segurança quem serão o novo presidente e o novo primeiro-ministro _o atual vice-presidente, Xi Jinping, e o vice-primeiro-ministro Li Keqiang, respectivamente_  muitos, pelo menos no segmento privado,  perguntam-se como a China vai enfrentar  seus desafios econômicos e sociais e quais serão as novas regras a vigorar. Há quem afirme até que uma parte da saída de capital do país no último trimestre de 2011 já tenha sido reflexo de apreensões quanto ao futuro.

No próximo mandato, os chamados “taizidan”, príncipes do partido, estarão no comando.  São filhos de figuras de peso no Partido Comunista  _daí serem chamados assim_ que experimentaram , em seu tempo de vida,  condições muito melhores de bem-estar do que os seus pais. Viveram  desde a adolescência na China já aberta,  modernizada e bem-sucedida. Têm um background acadêmico mais variado do que seus antecessores, quase todos engenheiros. E, de uma maneira, geral,  conhecem melhor o mundo externo.

O próprio Xi Jinping acaba de voltar de uma viagem aos EUA em que o grande destaque foi a celebração de seu retorno a Iowa, local que visitou em 1985. Sua filha estuda em Harvard, fato impensável no passado. Muitos dos líderes anteriores foram ao exterior pela primeira vez depois que assumiram o governo e apenas em visitas oficiais, quando se vê pouco a realidade. A grande pergunta é: a China moderna opera como incentivo ou desincentivo para novas reformas?

Há, creio, dois possíveis enfoques para o exercício de especular sobre o futuro. O primeiro é que é inevitável avançar corajosamente. Se a China não assumir com a audácia de antes os desafios que tem diante de si, pode andar para trás. Além disso, o mundo conta com o crescimento e a abertura chineses. Sem eles, a economia internacional na próxima década terá pouco gás, já que os EUA e os europeus estarão envolvidos num grande esforço de arrumação da casa. O segundo enfoque é que tudo caminhará paulatinamente e de forma equilibrada na direção do que já se sabe. A era das reformas radicais ficou para trás. Ademais,  maior liberalização no momento poderá aprofundar as distâncias sociais, favorecendo a voz dos líderes que crêem que a China se afastou demais dos fundamentos do comunismo.

Ninguém duvida de que certas reformas inevitavelmente prosseguirão. O processo de urbanização, por exemplo, e com ele a incorporação de um crescente número de pessoas à economia de consumo. Mas há reformas que têm impacto de peso sobre a organização do quadro político, da economia e mesmo da cultura.  A abertura da conta de capital, anunciada há pelo menos um ano para ser feita em cinco anos, a  internacionalização do yuan, a revisão da política fiscal de modo a reduzir a dependência dos municípios da venda de terrenos  como fonte de ingressos, a flexibilização da política do “hukou”,  que limita a mobilidade geográfica da população, são  exemplos de reformas  que, se forem implementadas ou ganharem nova velocidade, alterarão radicalmente o país.

Pela política do “hukou” as pessoas sem renda própria garantida só podem se mudar de município se tiverem emprego. Mesmo assim, têm limitações para trazer a família e nunca gozam exatamente dos mesmos benefícios dos locais. Contribuem para a seguridade social, mas não têm direito a aposentadoria do mesmo valor e pagam mais caro por alguns serviços públicos. Os chineses, sempre muito arraigados à cultura do seu lugar, estão acostumados a isso e a política tem pelo menos um efeito positivo: desestimula a urbanização desorganizada que, no caso da América Latina, criou bolsões de miséria e muitos outros problemas nas cidades.

Em época de mudanças, quando o futuro não está definido, é sempre prudente para os politicos falar pouco ou evitar os temas polêmicos. É assim no mundo inteiro.  Na China, a diferença é que se fala pouco em qualquer circunstância. Como a escolha dos novos líderes se dará em outubro, não se esperam grandes mudanças em 2012, nem grandes anúncios ou manifestações sobre os rumos a seguir.

Mas, num artigo recente, o vice-primeiro-ministro Li Keqiang deu o tom do que se pode esperar da nova  liderança.  Em suas palavras, levando-se em consideração as condições doméstica e internacional, “a China tem de acelerar o processo de mudança do padrão de crescimento e reestruturação econômica e tem de abrir mais a economia”. Li  fixou como primeira prioridade aumentar a demanda doméstica por meio de incentivos fiscais, tributários e creditícios para fomentar o crescimento em tempos internacionais difíceis, quando as barreiras protecionistas aumentarão no mundo.

Do discurso à prática há sempre muitos problemas. Para aumentar o consumo, por exemplo, o governo terá de ampliar o acesso ao seguro de saúde e aumentar a credibilidade do sistema de aposentadorias.  Este último ponto não é simples. Os cidadãos chineses não acreditam no sistema.  Preferem deixar que seus empregadores registrem um salário mais baixo do que pagam e ofereçam “cash” um adicional salarial  que fica fora do alcance do fisco e das obrigações previdenciárias. Ou seja, os cidadãos preferem, eles mesmos, poupar, o que também convém às empresas onde trabalham.  É uma questão de confiança, que está alheia ao que quer que o governo determine como política.

Seja como for, é o sentido de direção das reformas o que conta no momento para tentar entender a China futura. Transformar a sociedade é mesmo um processo mais lento e está vinculado a mudanças geracionais. A geração que chegará aos 30-40 anos na década em que uma nova liderança política estará no comando é composta, em larga medida, de filhos únicos, muitos acostumados a viver em cidades modernas.  Terá um comportamento naturalmente distinto do das gerações anteriores. Talvez esteja aí, tanto quanto nas políticas governamentais, o diferencial que vai dar o tom de para onde irá o país.

Marcos Caramuru de Paiva, diplomata, é sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai, e vive há oito anos no Leste Asiático. Foi cônsul-geral do Brasil em Xangai, embaixador na Malásia, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda e diretor-executivo do Banco Mundial, em Washington. Escreve às segundas-feiras, a cada 14 dias.

*A partir desta segunda-feira, o embaixador Marcos Caramuru de Paiva passa a escrever quinzenalmente para o blog.

 

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Protestos nacionalistas: uma ameaça ao regime chinês?

Por Vista Chinesa
24/02/12 12:15

Protestos contra o Japão em Wuhan, centro-leste. (Foto: Eric Vanden Bussche. Arquivo pessoal – out.2010)

Por Eric Vanden Bussche, de Wuhan*

Num sábado ensolarado em maio de 1999, espalhou-se rapidamente pelas universidades em Pequim a notícia de que as forças da OTAN, lideradas pelos EUA, haviam bombardeado a embaixada da China em Belgrado, na Iugoslávia, resultando na morte de três jornalistas chineses.

Não demorou muito para que milhares de estudantes universitários se concentrassem em frente à embaixada dos EUA, gritando slogans anti-imperialistas e atirando pedras e garrafas de tinta contra a fachada do prédio.

Protestos também eclodiram em diversas cidades chinesas naquele fim desemana, incluindo Chengdu, no sudoeste dopaís, onde estudantes chegaram a incendiar a residência do cônsul dos EUA.

O resto do mundo assistia com preocupação o desenrolar dos acontecimentos. Vários especialistas no Ocidente chegaram a expressar o seu temor de uma China nacionalista e acusaram o Partido Comunista Chinês (PCC) de orquestrar os protestos.

Essa visão, um tanto quanto simplista, ignorava as tensões entre o governo e os manifestantes.

Na verdade, os dirigentes chineses estavam extremamente apreensivos. Embora os manifestantes dirigissem a sua fúria contra os EUA, eles também cobravam maior agressividade do governo na condução de sua política externa. Entre os membros da alta cúpula do PCC havia um receio de que os manifestantes poderiam expressar o seu descontentamento com o regime e, desta forma, transformar os protestos em uma ameaça a sua sobrevivência.

Os protestos nacionalistas daquele ano inauguraram um novo período de engajamento político de uma parcela da população chinesa, em sua maioria jovens universitários e acadêmicos. Muitos com os quais conversei enxergavam as manifestações como a única forma eficaz de influenciar a condução da politíca externa chinesa. A maioria acreditava que a passividade do regime em relação aos EUA e o Japão não refletia o status de seu país como potência.

Desde então, tais manifestações ganharam força, causando dores de cabeça ao PCC.

Em 2005, protestos antijaponeses se espalharam pelo país após o governo japonês adotar um livro didático que ignorava as atrocidades cometidas pelas suas tropas durante a Segunda Guerra Mundial. Na China, onde a retórica nacionalista difundida pelo governo mantém abertas as feridas causadas pela ocupação japonesa, essa decisão despertou um sentimento de indignação.

Enquanto as passeatas de 1999 duraram apenas alguns dias e estiveram confinadas às representações diplomáticas dos EUA, as antijaponesas de 2005 se estenderam durante mais de um mês e tinham como alvo não apenas representações diplomáticas mas também empresas japonesas e seus parceiros chineses.

Os atos de vandalismo contra esses estabelecimentos comerciais e a ameaça de boicote a produtos japoneses causaram preocupação entre autoridades políticas e economistas. Mesmo assim, a presença policial durante as passeatas não foi capaz _ou simplemente não quis_ evitar que tais atos ocorressem. Em alguns casos, policiais ficaram observando à distância os manifestantes estilhaçarem vitrines de lojas japonesas com pedras, se recusando a intervir.

A atitude da polícia nessa ocasião reflete a dificuldade do governo em articular uma posição coerente em relação a esses protestos.

A proliferação de mídias sociais ampliou esse desafio. Além das passeatas, microblogs se tornaram uma arma poderosa para a expressão de opiniões de caráter nacionalista. Nessa semana, os chineses saturaram os microblogs com críticas pesadas ao prefeito da cidade de japonesa Nagóia, Takashi Kawamura, por ter negado a ocorrência de atrocidades cometidas pelas tropas japonesas no massacre de Nanquim, durante a Segunda Guerra. Muitos exigiam a suspensão imediata das relações com o Japão.

Avesso a qualquer tipo de manifestação espontânea, o regime chinês ainda está aprendendo a lidar com a dinâmica própria dos protestos nacionalistas, seja em passeatas ou nos microblogs. Não se trata apenas de uma parcela da população que defende uma atitude mais agressiva do governo na esfera internacional. O principal desafio consiste em dar voz a grupos sociais que desejam participar do processo político, influenciando-o.

 Eric Vanden Bussche é especialista em China moderna e contemporânea da Universidade Stanford (EUA). Possui mais de uma década de experiência na China. Foi professor visitante de relações Brasil-China na Universidade de Pequim e pesquisador do Instituto de História Moderna da Academia Sinica, em Taiwan. Suas áreas de pesquisa incluem nacionalismo, questões étnicas e delimitação de fronteiras da China.

*A partir desta sexta-feira, Eric Vanden Bussche passa escrever semanalmente para o blog.

 

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China perderá fôlego, prevê economista

Por Vista Chinesa
24/02/12 10:20

Em artigo publicado nesta sexta-feira na Folha de S.Paulo, o economista Eduardo de Carvalho Andrade afirma que o crescimento da China “não pode ser considerado um milagre”, já que o país era, até há pouco, de renda baixa e tecnologicamente atrasado.

“À medida que a diferença entre os desenvolvimentos tecnológicos da China e da fronteira do mundo se reduz, o mesmo ocorrerá com as suas taxas de crescimento”, afirma Andrade,  professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).  “É verdade que os chineses investem substancialmente em educação e que os pais cobram dedicação dos seus filhos aos estudos. Mas eles vão ter de parar de imitar e vão ter de criar, o que é mais difícil.”

A íntegra do artigo, apenas para assinantes, está aqui.

 

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Editorial critica estratégia brasileira para a China

Por Vista Chinesa
22/02/12 08:36

O editorial “Súplica à China”, publicado nesta quarta-feira na Folha de S.Paulo, critica o pedido recente do governo brasileiro para que Pequim restrinja voluntariamente as exportações de suas empresas para o Brasil.

“A boca entortada pelo uso do cachimbo protecionista anunciará medidas para a proteção de mais setores. Mas parte da indústria brasileira não terá como competir com o complexo asiático _no mínimo, nossos salários são mais altos”, diz o editorial.

A íntegra, apenas para assinantes, está aqui.

 

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Tudo sobre o Carnaval chinês (minipost)

Por Vista Chinesa
21/02/12 14:31

Destaque da Porto de Pedra vestida de chinesa, no Rio.

Fabiano Maisonnave, de Pequim

A tentação de deixar este post só com o título foi grande. Mas um providencial artigo no jornal “Global Times”, publicação em inglês do Partido Comunista, evitou o apagão.

Assinada pela jornalista portuguesa Vera Penêda, a reportagem traduziu comentários no weibo, a versão chinesa do Twitter, para mostrar o quase completo desconhecimento da festa na China.

“O Carnaval parece legal, mas se trata de que tipo de festival?”, perguntou o blogueiro Yinluo Shinxuo, num fórum criado sobre o tema.

Outro blogueiro tentou explicar por que o Carnaval, ao contrário de outras festas ocidentais, não tem ressonância na China: apelo comercial. “Lojas de flores, hotéis e restaurantes têm uma forma de nos recordar feriados como Ação de Graças e Dia dos Namorados. As namoradas ficam bravas se não damos presente”.

Penêda tentou achar alguma festa nos poucos bares e restaurantes latinos de Pequim. Nada.

Para não dizer que a festa passou em branco, um amigo brasileiro organizou uma simpática festinha em que os exilados cantávamos marchinhas com a preocupação subconsciente de não acordar os vizinhos de prédio.

O tempero local ficou por conta da versão de “Ai Se Eu Te Pego” que alguém teve o trabalho de traduzir ao mandarim. Não é má ideia. Caso ganhe um toque de samba e vire fenômeno entre os 500 milhões de internautas locais, quem sabe não se faça aqui o maior Carnaval do mundo?

Fantasias eles já produzem _dê uma olhada na etiqueta da sua.

 

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