Marisa Monte se apresenta no encerramento dos Jogos de Londres (Reuters – 13.ago.2012).
Por Zhou Zhiwei, do Rio de Janeiro
Assim que o prefeito do Rio de Janeiro recebeu a bandeira do Comitê Olímpico Internacional (COI), os “8 minutos do Rio de Janeiro” entraram no palco, simbolizando o início da contagem regressiva para as próximas Olimpíadas. O que 2016 nos trará? Temos quatro anos pela frente, tempo suficiente para cultivar a esperança e a imaginação.
Em outubro de 2009, quando o Rio ganhou os Jogos Olímpicos 2016, falei numa entrevista: “Objetivamente falando, tanto o ‘software’ como o ‘hardware’ do Rio não se comparam com outras cidades candidatas. A cidade é fraca em termos de transporte, segurança, estrutura e construção de estádios. No entanto os Jogos Olímpicos do Rio serão uma festa tipicamente brasileira.”
Para avaliar os Jogos, é preciso levar muitos fatores em conta. Mas o que mais importa são a preparação e a organização.
Sobre o preparo, o mundo não vê o Brasil não com muita esperança. Em primeiro lugar, sendo um país em desenvolvimento, será que o Brasil tem economia forte para realizar com sucesso uma edição dos Jogos Olímpicos? Essa pergunta já foi levantada muitas vezes. Estou confiante quanto a isso. De acordo com a tendência da economia brasileira nestes anos, mesmo que o Brasil tenha sofrido com a crise financeira internacional e a crise da dívida europeia, a macroeconomia, em geral, vem melhorando desde 2003. Após um crescimento estável por dez anos, a demanda do mercado de trabalho vem se mantendo forte.
Com mais uma série de políticas em prol dos mais pobres, o Brasil já tem uma estrutura de classe média na sociedade. Além disso, o consumo interno tem sido o motivo principal do crescimento econômico do Brasil. Especialmente nos últimos dois anos, a demanda nacional tem contribuído com 80% do PIB, o que contradiz a noção de que o avanço econômico do Brasil depende da exportação de commodities.
O comércio de recursos naturais e de produtos agrícolas ocupa aproximadamente 50% do superávit comercial brasileiro. No entanto a exportação na área de comércio exterior tem uma ocupação apenas de 10%. Obviamente, o julgamento de que o Brasil depende muito das exportações é errado.
Os fatores mencionados acima também são as razões vitais para entender por que o Brasil tem enfrentado bem os ataques contínuos das crises vindas de fora. Além disso, com uma macroeconomia estável, o governo brasileiro começou a planejar melhor um desenvolvimento econômico de prazo médio e de prazo longo. Ao mesmo tempo, o Brasil tomou a iniciativa de resolver os “problemas históricos”, tais como os impostos e taxas de juros altos, os elevados “spreads” bancários e a falta de estrutura, que limitam o avanço da sociedade brasileira por muito tempo.
Embora algumas medidas não tenham alcançados os objetivos, pelo menos o Brasil está andando, em vez de ficar estagnado. Com a descoberta de potencial de campos de petróleo no fundo do mar, a economia brasileira possui mais uma “garantia”. Partindo de previsão das grandes agências de avaliação, o Brasil manterá, nos próximo quatro anos, um crescimento econômico de 3% a 4%.
Durante a preparação dos Jogos, de 2008 até 2011, o Reino Unido atravessou a crise financeira internacional e a crise da dívida europeia com uma queda acumulada de 2,5% do PIB. Diante disso, provavelmente o Brasil não terá problema em termos econômicos para sustentar os Jogos Olímpicos.
Acredito que o maior problema do Rio-2016 seja as construções para os Jogos. Talvez todos tenham se acostumado com o jeito de Londres _completar apressadamente as construções pouco antes da cerimônia de abertura. Mas, para o Brasil, precisamos de mais paciência. Comparando com Londres, que tem realizado vários eventos esportivos de primeiro nível, o Rio de Janeiro não tem histórico parecido.
Apesar de o Brasil ter realizado os Jogos Pan-Americanos, não há muitos estádios de primeiro nível (claro, menos os campos de futebol). Vendo o resultado do Brasil nesta última edição dos Jogos (3 ouros, 5 pratas e 9 bronzes), podemos concluir que muitos esportes não são populares entre os brasileiros, resultando na falta de bons locais de prática. Isso significa que o Rio ainda precisa construir novos estádios esportivos e instalações auxiliares. É bem diferente de Pequim e de Londres, onde houve reforma ou ampliação dos centros esportivos.
Para o Brasil, o mais incerto é o período de construção desses grandes estádios. Em fevereiro, tive sorte de ser professor visitante no Rio de Janeiro e experimentei o Carnaval brasileiro. No meio da “passarela do samba”, aprendi a história da sua construção, desenhada por Oscar Niemeyer. O desenho original é composto por duas arquibancadas simétricas nos dois lados da passarela. Para transformar esse desenho em realidade, foram 30 anos.
Obviamente, ao contrário do Sambódromo, o prazo para a conclusão das obras para os Jogos é fixo. Por isso, a falta de eficiência deixa as pessoas desconfiadas com a preparação do Brasil para 2016.
Quanto à organização de Jogos, acredito que o Brasil deva ter alguns planos práticos. Provavelmente o Brasil pode aprender com as experiências de Pequim e Londres, já que o Ministério do Esporte brasileiro formou uma comissão especializada em estudar a organização das últimas edições. Contudo o Brasil é muito diferente da China e até do Reino Unido, e o grande poder dos sindicatos pode virar um problema para a organização dos Jogos.
Em junho, antes da abertura da Rio +20, os funcionários do Itamaraty subitamente declararam a greve por tempo indeterminado, deixando o governo federal brasileiro desacreditado. Além disso, os servidores públicos federais entraram em greve por tempo indeterminado no dia 7 de agosto, desejando um aumento de salário antes de o governo formular o Orçamento do ano, três semanas depois. A greve se espalhou de alguns Estados para todo o país, envolvendo 28 setores, ou aproximadamente 370 mil pessoas.
Tomo a greve da Polícia Federal como exemplo. Até 23 de agosto, a PF já mantinha a greve por 15 dias, não atendendo ao pedido de passaportes dos cidadãos e o registro de estrangeiros. Durante esse período, a PF apenas atendeu a “passaportes urgentes”, que apenas servem em viagens para tratamento de doença grave e exigem uma série de documentos médicos e de trabalho. Em resposta, a presidente Dilma Rousseff expressou que o Brasil mandaria parte de Exército para assumir a função da PF no futuro, evitando a possibilidade de estagnação ocorrer na Copa de 2014 ou no Rio-2016.
Apesar de o Rio- 2016 ter entrado em fase de contagem regressiva, o anfitrião ainda não começa a contar as horas, pois o primeiro evento que o país vai enfrentar será a Copa de 2014. Comparando com o período de 30 anos de construção do Sambódromo, uma preparação de quatro anos não é longa.
Afirma-se que os sucessos da realização dos Jogos Olímpicos de Pequim e da Exposição Mundial de Xangai podem ser símbolos da China como um país realmente em desenvolvimento.
Agora o Brasil também está se firmando, para qual o país ainda receberá a avaliação de vários “professores”. E apenas ganhará uma nota boa se conseguir agradar a esses “professores”. Os brasileiros, sempre com seu estilo casual, parecem ainda não ter passado por uma experiência séria como essa.
Acredito que neste “exame de graduação” com relação ao seu status internacional, o Brasil fará o máximo para mostrar a sua melhor face. Por outro lado, quatro anos é um tempo longo, durante qual o país ainda passará por uma troca de governo federal e duas mudanças de governos municipais. Essa remodelação política tende a exercer uma influência grande nos Jogos.
Com certeza, os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro se realizarão como esperado em 2016, pois isso não é apenas um projeto nacional, mas também um projeto do Comitê Olímpico Internacional. Ninguém quer falhar. Além disso, as paisagens lindas, as mulheres bonitas e as comidas deliciosas do Brasil certamente darão um toque especial ao Rio-2016. Em vez de comentários exigentes, adotemos a atitude casual, como a dos brasileiros, para sentir seu estilo _o sabor especial que cada país sede dá aos Jogos Olímpicos.
Tradução de Sun Ningyi.
Zhou Zhiwei é especialista em Brasil do Instituto da América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais e secretário-geral do Centro de Estudos Brasileiros. Foi pesquisador visitante de relações internacionais na USP e no BRICS Policy Center da PUC-RJ. As suas principais áreas incluem estudo sintético do Brasil, política externa, estratégia internacional do Brasil, relações bilaterais e integração latino-americana. Atualmente, é professor visitante do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense.