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por Fabiano Maisonnave

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As tensas relações entre a China continental e Hong Kong

Por Vista Chinesa
02/03/12 12:48

Desfile em 1997 na ex-colônia britânica em comemoração à unificação; à esq., a bandeira de Hong Kong

Por Eric Vanden Bussche, de Pequim

Desde que Hong Kong deixou de ser uma colônia britânica para se tornar uma Região Administrativa Especial da China, há 15 anos, as eleições para chefe do Executivo nunca atraíram muita atenção. Afinal, o resultado não poderia ser mais previsível. Um colegiado composto, em sua maioria, por líderes empresariais e políticos alinhados com o Partido Comunista chinês (PCC) sempre escolhia o candidato preferido por Pequim. Mas as eleições deste ano, marcadas para o próximo dia 25, sofreram uma reviravolta nas últimas semanas que expuseram as tensões entre a ex-colônia britânica e a China continental.

Com bom trânsito em Pequim e relações estreitas com o ex-presidente chinês Jiang Zemin, Henry Tang era apontado como o favorito na disputa para o cargo até poucas semanas atrás. Mas revelações de que ele teria construído, no subsolo de sua mansão, um “palácio de prazeres” com uma adega e sauna japonesa aumentaram a sua rejeição entre a população, que, mesmo antes do escândalo, o enxergava como uma simples marionete do PCC. Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Hong Kong, Henry Tang contaria com apenas 21% de apoio da população.

Tais acusações agravaram a conjuntura política na ex-colônia britânica. O principal rival de Henry Tang na eleição, Leung Chun-ying, está sendo investigado por ter utilizado um cargo público para favorecer uma empresa com a qual realizava negócios. Embora Leung goze de maior popularidade entre os habitantes por ser visto como reformador, o resultado das investigações e suas boas relações com Pequim podem acabar minando a sua credibilidade. E Donald Tsang, atual chefe do Executivo, recentemente foi obrigado a pedir desculpas por ter aceitado favores de empresários. Esses escândalos reforçaram a percepção entre a população de que os seus líderes políticos se encontram a serviço da elite empresarial e do regime chinês, aumentando o ressentimento da população em relação a Pequim.

A atual situação representa mais um capítulo no turbulento relacionamento entre Hong Kong e Pequim. Aliás, as tensões entre ambos nunca estiveram tão evidentes.
Em meados de janeiro, um vídeo gerou uma discussão acalorada nas mídias sociais, expondo o abismo político-cultural que separa a ex-colônia britânica da China Popular. O vídeo mostra uma um passageiro num trem de Hong Kong dando uma bronca numa criança da China continental por estar comendo macarrão. Em Hong Kong, vários comentários sobre o incidente se referiam aos chineses do continente como “pragas” que chegam à ex-colônia britânica atrás de benefícios sociais e econômicos. Na China, a atitude do passageiro indignou muitos, culminando com declarações de um professor da Universidade de Pequim, Kong Qingdong, chamando os habitantes de Hong Kong de “bastardos” e “cães dos imperialistas britânicos.”

Os acontecimentos nesses últimos meses refletem as dificuldades enfrentadas por Pequim em Hong Kong. Quando a ex-colônia britânica voltou às suas mãos em 1997, os dirigentes do PCC se esforçaram para que a transição fosse bem orquestrada. Hong Kong retornou à soberania chinesa sob o princípio de “um país, dois sistemas,” ou seja, que garantiria a preservação de suas instituições e modo de vida por um período de 50 anos. Na época, o PCC esperava que um processo bem-sucedido em Hong Kong serviria para convencer Taiwan a aceitar a reunificação sob os mesmos princípios.

O dirigentes em Pequim descobriram, entretanto, que se tratava de um desafio maior que imaginavam. Quinze anos depois, a população de Hong Kong continua enxergando o PCC com desconfiança, acusando-o de interferir em assuntos locais. Muitos ainda preferem se identificar como cidadãos de Hong Kong em vez de chineses. Eles também não compartilham da visão negativa difundida na China continental sobre o imperialismo britânico na região.

A ideia dos chineses como “pragas” que invadem Hong Kong atrás de educação gratuita, serviço médico e outras vantagens continua enraizada na cabeça de muito habitantes. Uma das reclamações ouvidas nas ruas com maior frequência recentemente é a do aumento de mulheres da China continental que desembarcam na cidade para dar à luz aos seus filhos, ocasionando uma falta de leitos nas maternidades. Um protesto no início desse ano reuniu 1.500 pessoas _muitas grávidas ou mães de recém-nascidos_ para exigir uma solução para este problema. O assunto virou até um dos temas de campanha para chefe do Executivo, com Henry Tang e Leung Chun-ying se comprometendo em estabelecer um controle mais rígido da migração de chineses para Hong Kong.

Será interessante observar como o vencedor dessa disputa irá lidar com essas tensões e preparar o terreno para 2017, ano em que o chefe do Executivo deverá ser escolhido através do voto direto pela população da cidade. Por sua vez, Pequim certamente continuará a manobrar nos bastidores para garantir que o processo atenda a seus interesses.

Eric Vanden Bussche é especialista em China moderna e contemporânea da Universidade Stanford (EUA). Possui mais de uma década de experiência na China. Foi professor visitante de relações Brasil-China na Universidade de Pequim e pesquisador do Instituto de História Moderna da Academia Sinica, em Taiwan. Suas áreas de pesquisa incluem nacionalismo, questões étnicas e delimitação de fronteiras da China. Sua coluna é publicada às sextas-feiras.
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