Vista ChinesaRelações Brasil-China – Vista Chinesa http://vistachinesa.blogfolha.uol.com.br por Fabiano Maisonnave Mon, 18 Nov 2013 13:35:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Fenômenos estranhos nas relações sino-brasileiras http://vistachinesa.blogfolha.uol.com.br/2012/03/21/fenomenos-estranhos-nas-relacoes-sino-brasileiras/ http://vistachinesa.blogfolha.uol.com.br/2012/03/21/fenomenos-estranhos-nas-relacoes-sino-brasileiras/#comments Wed, 21 Mar 2012 15:31:17 +0000 http://vistachinesa.blogfolha.uol.com.br/?p=198 Continue lendo →]]>

Dilma visita a Cidade Proibida, em Pequim (Fabiano Maisonnave - 12.abr.2011)

Por Zhou Zhiwei, de Pequim*

Sendo especialista chinês quanto a assuntos relacionados ao Brasil, tive a sorte de participar do projeto do BRICS Policy Center (BPC), no Rio de Janeiro, no mês passado. Naquele período, troquei ideias com vários estudiosos, incluindo os do BPC, sobre as relações sino-brasileiras e os países de BRIC, e entendi mais profundamente como os intelectuais e a mídia brasileiros vêem as relações entre os dois países. Mas esse conhecimento também me causou preocupação, pois tenho notado alguns fenômenos estranhos entre a China e o Brasil.

Em primeiro lugar, o conhecimento recíproco nos círculos de política, de comércio e acadêmico é limitado. Do ponto de vista do Estado, os dois governos estabeleceram alguns mecanismos de diálogo bilateral e assinaram uma série de cooperações, incluindo o Plano de Ação Conjunta. Mas esses mecanismos não andaram bem, como a Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação), revelando que falta, em ambos os lados, vontade política para promover as relações bilaterais.

Do ponto de vista comercial, mesmo com os números recordes, o volume (incluindo o investimento) vem principamente das empresas estatais dos dois países, carecendo da participação dos setores privados. Isso mostra que os avanços das relações entre a China e o Brasil sempre dependem da promoção governamental.

Na área acadêmica, os estudos entre a China e o Brasil se mantêm num nível baixo. Nem os “think tanks” da China nem os brasileiros conseguem ainda ter uma influência intelectual suficiente na tomada de decisões dos governos.

O conhecimento mútuo entre os dois povos é ainda mais carente. Posso dizer que o conhecimento dos brasileiros sobre a China, o maior parceiro comercial e a maior origem de investiimentos externos do Brasil, é menor do que sobre o Egito. E vice-versa.

O pensamento dos brasileiros quanto às relações entre a China e o Brasil é limitado. A cooperação entre os dois países espalha-se em áreas diversas, mas foca principalmente os campos econômico e comercial, especialmente nas áreas de competição mais intensa, sobretudo no setor industrial. No entanto, se o conhecimento entre os dois países apenas se mantiver no nível econômico e comercial, distorcerá o significado das relações sino-brasileiras.

A China e o Brasil possuem boas relações políticas, com uma coordenação e cooperação internacional estratégica e eficiente. Num certo sentido, a cooperação dos dois países na área de assuntos internacionais responde à demanda da estratégia global da parte brasileira e, por isso, tem mais sentido do que a cooperação na área comercial. Consequentemente, se as relações sino-brasileiras limitarem-se no âmbito comercial, fará mais mal do que bem ao Brasil.

Em comparação, acho que a China esteja adotando uma atitude mais completa e pragmática em termos de promoção de relações bilaterais, focando-se mais na expansão de conteúdo e no aumento de qualidade de cooperação nas coordenações de níveis bilateral e multilateral dos dois países, evitando que a divergência parcial afete a situação cooperativa integral. Pensando nisso, a China tem feito mais concessões nas fricções econômicas e comerciais entre a China e o Brasil.

Em terceiro lugar, a atitude dos brasileiros em relação à China é bastante complexa. As diferenças do sistema político, das tradições históricas e culturais e de pensamento resultam numa atitude às vezes contraditória dos brasileiros quanto à China.

Primeiramente, do ponto de vista econômico, durante 23 anos, de 1989 até 2011, o Brasil registrou déficit apenas por 7 anos. De 2001 a 2011, o Brasil teve déficit apenas em 2007 e em 2008. Por isso, as trocas comerciais entre os dois países fizeram um papel positivo em termos de balança de pagamentos do Brasil. Em 2011, o Brasil teve um superávit de US $ 11,5 bilhões, respondendo por 38 % do saldo favorável no comércio com a China. Mesmo assim, o Brasil está exigindo que a China importe mais produtos brasileiros e implemente limites à exportação para o Brasil.

Em contraste, o Brasil não reclama muito com alguns países com quem tem um grande déficit, como os Estados Unidos e Alemanha. Sem dúvida, isso é dificil de entender. É óbvio que, para sustentar o desenvolvimento de comércio entre os dois países, a China e o Brasil devem melhorar a estrutura de comércio bilateral. Mas, para o Brasil, o mais importante é melhorar a competividade internacional e fomentar uma boa reputação dos produtos brasileiros na China. Para os produtos que querem entrar no mercado chinês, o acesso ao mercado é importante. Mas a competividade do produto também é crucial.

Em termos de cooperação nos assuntos internacionais, o Brasil tem ganhado muito na cooperação Sul-Sul. A cooperação entre o Brasil com outros países do Brics aumenta a influência global do país. Dentro do mecanismo do Brics, o Brasil pretende realizar as suas aspirações na comunidade internacional contando com a China. No entanto, na cooperação específica, o Brasil mostra uma certa discordância e desconfiança em relação aos sistemas de economia e de política, que no final afeta os interesses comuns e a eficiência da cooperação bilateral.

Como dois países emergentes, a China e o Brasil precisam se conhecer melhor, diversificar os contatos e ligações e, mais importante, compreender e desenvolver as relações bilaterais no nível estratégico. Assim, a cooperação entre os dois países pode se manter sólida e sustentável.

 Zhou Zhiwei é especialista em Brasil do Instituto da América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais e secretário-geral do Centro de Estudos Brasileiros. Foi pesquisador visitante de relações internacionais na USP e no BRICS Policy Center da PUC-RJ. As suas principais áreas incluem estudo sintético do Brasil, política externa, estratégia internacional do Brasil, relações bilaterais e integração latino-americana.

*A partir desta quarta-feira, Zhou Zhiwei passa a escrever quinzenalmente para o blog.

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O pagode sino-brasileiro http://vistachinesa.blogfolha.uol.com.br/2012/02/15/o-pagode-sino-brasileiro/ http://vistachinesa.blogfolha.uol.com.br/2012/02/15/o-pagode-sino-brasileiro/#comments Wed, 15 Feb 2012 15:11:04 +0000 http://vistachinesa.blogfolha.uol.com.br/?p=7 Continue lendo →]]>

Vista Chinesa, mirante em homenagem aos primeiros imigrantes do país asiático ao RJ

Fabiano Maisonnave, de Pequim

Do alto da Floresta da Tijuca, a Vista Chinesa oferece um dos mais espetaculares panoramas do Rio de Janeiro a partir de um mirante em formato de pagode, armado em bambu e adornado por gárgulas de dragão.

A construção é uma homenagem aos primeiros imigrantes chineses no Brasil, trazidos a partir de 1810. A ideia era de que servissem de mão de obra barata e especializada para o incipiente cultivo de chá no país, na época uma valiosa commodity na Europa.

O projeto não deu certo _um dos prováveis motivos era que o chá verde trazido pelos chineses não era palatável ao gosto local. E como só viajaram homens, a comunidade se dissipou.

No eurocêntrico século 19, era impossível imaginar que a China se transformaria no maior parceiro comercial brasileiro. Mesmo assim, é notável ver que alguns temas daquela experiência seguem em voga.

O Brasil é hoje um dos principais fornecedores de commodities para os chineses. Mas a indústria brasileira se ressente da competição chinesa, beneficiada pela (já não tão) barata mão de obra. Está perdendo espaço no mercado doméstico e tem dificuldades para penetrar no mercado da segunda economia mundial.

No sentido inverso, os imigrantes chineses voltaram a aparecer, aos milhares e desta vez em famílias. Pela quantidade de restaurantes Brasil afora, souberam misturar o tempero local à sua cozinha.

Com a mesma lógica, empresas chinesas investem e ganham cada vez mais importância em setores tão diversos como petróleo, automóveis, telecomunicações e equipamentos para portos e siderúrgicas.

A ascensão chinesa coloca o Brasil diante do clássico dilema do “decifra-me ou te devoro”. Com pouco conhecimento sobre o seu parceiro distante, corre o risco de fracasso tanto no atual esforço protecionista quanto na identificação de oportunidades oferecidas pelo principal motor da economia mundial.

A forma espetacular como a economia chinesa vem crescendo, as dúvidas sobre a capacidade do Partido Comunista de manter o monopólio do poder e o impacto do explosivo mercado consumidor de 1,35 bilhão de pessoas sobre os recursos do planeta são apenas algumas das grandes questões em aberto cujos desdobramentos terão impacto no Brasil e no mundo.

A intenção desde blog, editado desde Pequim, é abordar todos esses temas e outros mais a partir do ponto de vista das relações Brasil-China. Não será um esforço individual: haverá colaboradores com experiências diversas, a serem anunciados em breve. Também reproduzirá, sempre que possível, textos publicados na Folha.

Pagode, é bom lembrar, pode ser tanto a arquitetura oriental de telhados recurvados para cima quanto uma animada roda de samba.

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